Mundo | 1 de setembro de 2014

Ebola pode atingir mais 20 mil pessoas até ser controlado

Vírus do surto atual teve mais de 300 mutações genéticas, aponta estudo
Ebola pode atingir mais 20 mil pessoas até ser controlado

A Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou que o surto no oeste da África pode infectar mais 20 mil pessoas antes de ser controlado. O número de pessoas já infectadas (muitas ainda sem diagnóstico) pode ser quatro vezes maior do que os 3 mil registrados oficialmente.

A agência apela para que companhias aéreas retomem voos essenciais na região, alegando que as proibições não ajudam a controlar a doença como acabam – ao dificultar o acesso de profissionais de saúde às áreas infectadas –, impedindo os esforços para combater a epidemia. O vírus do ebola não é transmitido pelo ar, mas pelo contato com fluidos corporais, como suor e sangue, de pessoas infectadas.

O diretor da OMS, Bruce Aylward, disse à BBC que “em algumas áreas, o número de infectados pode ser de duas a quatro vezes mais alto do que o registrado”, alertou. “Isso não quer dizer que esperamos 20 mil pessoas (infectadas), mas temos que ter um sistema em curso para lidar com números altos como esse”, completou.

A Organização estima custo de  US$ 489 milhões para serem aplicados nos próximos noves meses, além da contratação de 750 trabalhadores internacionais e 12 mil locais para atuar no oeste da África.

Mutações

Um grupo internacional de cientistas sequenciou e analisou 99 genomas do vírus ebola. O estudo, publicado na revista Science, rastreou a origem e transmissão do vírus no surto atual (o maior da história), obtendo informações essenciais para o desenvolvimento de vacinas, diagnósticos e tratamentos.

A pesquisa, realizada pelo Broad Institute do MIT e Harvard em colaboração com o Ministério da Saúde de Serra Leoa, mostrou que o vírus atual passou por mais de 300 modificações genéticas em relação às linhagens das epidemias anteriores da doença. Foram estudadas amostras do vírus coletadas de 78 pacientes que foram diagnosticados com a doença em Serra Leoa nos primeiros 24 dias do surto. Cada genoma foi sequenciado em média 2 mil vezes, conforme os autores do artigo. Dado alarmante é que cinco dos 58 autores do artigo contraíram o vírus do ebola e morreram antes da publicação.

As linhagens de ebola atuais têm um ancestral comum com o primeiro surto, registrado em 1976. Os cientistas traçaram o caminho de transmissão e as relações evolutivas das amostras, uma alteração da linhagem atual principalmente nos últimos dez anos.

O surto de 2014 teve origem na Guiné e se espalhou por Serra Leoa, Libéria e Nigéria e já matou 1.552 pessoas. Os pesquisadores acreditam que o vírus foi para Serra Leoa a partir de duas linhagens do vírus originárias da Guiné. A possível fonte dessas linhagens foram 12 pessoas que participaram, em maio, do funeral de um curandeiro na fronteira da Guiné.

Brasil faz ação preventiva

No Brasil, o governo realizou, no dia 29 de agosto, no aeroporto Internacional do Rio de Janeiro (Galeão), uma simulação que colocou em prática as medidas adotadas em resposta a um eventual caso suspeito de ebola em viajante. Após detectar o doente, o procedimento foi concluído no Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

O objetivo foi exercitar os órgãos envolvidos sobre as medidas previstas nos planos de preparação para uma ocorrência real. Vale lembrar que é considerada baixa a possibilidade de um infectado por ebola chegar ao Brasil.

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