Estatísticas e Análises, Mundo | 26 de setembro de 2020

Duração imunológica, vacinação e dinâmica do SARS-CoV-2 nos próximos 5 anos

Monitoramento da imunidade e o "fator vacina" são cruciais para determinar como será o futuro da pandemia diz estudo
Duração imunológica, vacinação e dinâmica do SARS-CoV-2 nos próximos 5 anos

Um estudo ressalta que o impacto da imunidade natural e a vacina serão fatores-chave para a trajetória futura da pandemia do coronavírus (Covid-19). Tais fatores são crucias para responder quando poderemos começar a falar em fim da pandemia. Em particular, uma vacina capaz de desencadear uma resposta imunológica consistente que possa reduzir substancialmente a carga futura de infecção, de acordo com um estudo intitulado Immune life history, vaccination, and the dynamics of SARS-CoV-2 over the next 5 years realizado por pesquisadores da Universidade de Princeton (Estados Unidos) publicado na revista Science no dia 21 de setembro.

Os pesquisadores analisam diferentes cenários sob aspectos como ações farmacêuticas – como a adoção de uma vacina com resposta consistente -, assim como ações não farmacêuticas – manutenção ou não de medidas de isolamento/proteção e até a adesão ao movimento antivacina -, e alertam para a importância do monitoramento da imunidade.


“Muito da discussão até agora relacionada à trajetória futura do Covid-19 foi corretamente focada nos efeitos da sazonalidade e das intervenções não farmacêuticas, como uso de máscara e distanciamento físico”, disse o co-autor Chadi Saad-Roy, do Instituto Lewis-Sigler de Genômica Integrativa de Princeton. “No curto prazo, e durante a fase pandêmica, as intervenções não farmacêuticas são a principal determinante da carga de casos. No entanto, o papel da imunidade se tornará cada vez mais importante à medida que olhamos para o futuro”, disse.

“Em última análise, não sabemos como será a força ou a duração da imunidade natural ao SARS-CoV-2 – ou de uma potencial vacina”, explicou a co-autora Caroline Wagner, professora assistente de bioengenharia da Universidade McGill que trabalhou no estudo como pesquisadora associada de pós-doutorado no Princeton Environmental Institute (PEI).


Reinfecção

“Por exemplo, se a reinfecção for possível, como atua a resposta imunológica de uma pessoa em relação à infecção anterior? ”, perguntou a professora. “Essa resposta imunológica é capaz de impedir você de transmitir a infecção a outras pessoas? Tudo isso terá impacto na dinâmica de surtos futuros”, ponderou.

As diversas possibilidades apontadas pelo modelo epidemiológico

No artigo, os pesquisadores usaram um modelo para projetar a futura incidência de casos de Covid-19 – e o grau de imunidade na população humana – sob uma série de suposições relacionadas à probabilidade de os indivíduos transmitirem o vírus em diferentes contextos. Por exemplo, o modelo projeta diferentes durações de imunidade após a infecção, bem como diferentes graus de proteção contra reinfecção. Os pesquisadores publicaram uma versão interativa das previsões do modelo sob esses diferentes conjuntos de suposições.

Conforme esperado, o modelo descobriu que o pico pandêmico inicial é amplamente independente da imunidade porque a maioria das pessoas é suscetível. No entanto, uma gama substancial de padrões epidêmicos é possível à medida que a infecção por SARS-CoV-2 – e, portanto, a imunidade – aumenta na população.


“Se as respostas imunológicas forem apenas fracas ou temporariamente protetoras contra a reinfecção, por exemplo, então surtos maiores e mais frequentes podem ser esperados a médio prazo”, disse a coautora Andrea Graham, professora de ecologia e biologia evolutiva em Princeton.


A natureza das respostas imunológicas também pode afetar os resultados clínicos e a carga de casos graves que requerem hospitalização, descobriram os pesquisadores. A questão principal é a gravidade das infecções subsequentes em comparação com as primeiras infecções.

Vacina

É importante ressaltar que o estudo descobriu que, em todos os cenários, uma vacina capaz de induzir uma forte resposta imunológica poderia reduzir substancialmente o número de casos futuros. Mesmo uma vacina que oferece proteção apenas parcial contra a transmissão secundária pode gerar grandes benefícios se amplamente implantada, relataram os pesquisadores.

Fatores como idade e eventos de super propagação são conhecidos por influenciar a disseminação do SARS-CoV-2, fazendo com que os indivíduos de uma população experimentem diferentes respostas imunológicas ou transmitam o vírus em taxas diferentes. “Nossos modelos mostram que esses fatores não afetam nossas projeções qualitativas sobre a dinâmica futura da epidemia”, disseram autores do estudo.


“À medida que as vacinas candidatas emergem, são necessárias previsões mais detalhadas de futuros casos de vacinação, esses detalhes adicionais precisarão ser incorporados em modelos mais complexos”, disse um dos autores.


Cenário otimista: não haverá mais picos da epidemia como registrados em 2020 pelos próximos cinco anos

No cenário mais otimista, com imunidade natural forte e duradoura e vacina disponível e eficaz, não haverá mais picos da epidemia como registrados em 2020 pelos próximos cinco anos. No pior cenário (sem vacina e com imunidade natural fraca), a Covid-19 voltará em grandes picos pelos próximos cinco anos – porém, mesmo nesse cenário os picos serão um pouco menores do que os registrados em 2020.

As simulações levam em conta um cenário razoável de distanciamento social para 2020, em que a epidemia perde 60% da força ao longo de oito meses por causa de medidas de contenção, que não são retomadas nos anos seguintes.


Movimento antivacina poderá impactar no curso da pandemia

Os autores do estudo também exploraram o efeito da “hesitação da vacina” (movimento antivacina) na dinâmica futura da infecção. O modelo descobriu que as pessoas que se recusam a participar de medidas farmacêuticas e não farmacêuticas para conter o coronavírus podem, no entanto, retardar a contenção do vírus, mesmo se houver uma vacina disponível.


“Nosso modelo indica que se a recusa à vacina for alta e correlacionada com o aumento da transmissão e comportamento mais arriscado, como se recusar a usar máscara, então a taxa de vacinação necessária para alcançar a imunidade coletiva pode ser muito maior”, disse um co-autor do estudo. “Nesse caso, a natureza da resposta imunológica após a infecção ou vacinação seria um fator muito importante para determinar a eficácia de uma vacina”, completou.

Uma das principais conclusões do estudo é que o monitoramento da imunidade populacional ao SARS-CoV-2, além das infecções ativas, será crítico para prever com precisão a incidência futura.

“Isso não é uma coisa fácil de fazer com precisão, especialmente quando a natureza dessa resposta imunológica não é bem compreendida”, disse o coautor Michael Mina, professor assistente da Harvard School of Public Health e da Harvard Medical School. “Mesmo se pudermos medir uma quantidade clínica como um título de anticorpo contra esse vírus, não sabemos necessariamente o que isso significa em termos de proteção”, explicou.

“Estudar os efeitos da imunidade das células T e da proteção cruzada de outros coronavírus são caminhos importantes para trabalhos futuros”, disse Metcalf.


Com informações da Universidade de Princeton. Edição do Setor Saúde.

 



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