Estatísticas e Análises, Gestão e Qualidade | 13 de setembro de 2017

Desconhecida por 9 a cada 10 brasileiros, sepse é um dos grandes desafios da saúde

Setor Saúde ouviu especialistas no Dia Mundial da Sepse
Desconhecida por 9 a cada 10 brasileiros, sepse é um dos grandes desafios da saúde
Principal causa de morte nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) e responsável por 25% da ocupação de leitos no Brasil, a sepse é um dos grandes desafios das instituições de saúde no país. O dia 13 de setembro é a data de conscientização sobre a doença, com o Dia Mundial da Sepse.

De acordo com o Instituto Latino Americano de Sepse (ILAS), estima-se que de 400 a 500 mil novos casos de sepse são diagnosticados por ano no Brasil, e aproximadamente 55% dos casos (entre 200 a 240 mil) resultam em morte. O desconhecimento sobre a sepse é um agravante: 9 em cada 10 pessoas desconhece a doença no Brasil, de acordo com pesquisa do Datafolha, encomendada pelo ILAS em 2014. Foram entrevistados brasileiros de 134 municípios, e 93,4% nunca tinham ouvido falar sobre a doença.

O portal Setor Saúde, da FEHOSUL, conversou com especialistas sobre o tema. De acordo com o doutor Cassiano Teixeira, chefe do Serviço Médico de Terapia Intensiva do Hospital Moinhos de Vento, há duas principais causas para o alto índice de mortalidade no país: a falta de preparo do sistema de saúde do país para lidar com a doença e o difícil diagnóstico da sepse. “A medicina emergencista recém foi reconhecida como especialidade médica e existe falta de leitos em UTI para os casos em que a sepse é diagnosticada”, pontua Teixeira. Pela dificuldade de diagnóstico, o doutor Rafael Cremonese, médico intensivista e gerente assistencial do Hospital Mãe de Deus, enfatiza a necessidade de uma estrutura adequada. “É fundamental que tenha um bom aparato para o tratamento, e isso inclui muita tecnologia. Para isto, é necessária a UTI de bom nível, com a presença de médicos intensivistas”, destaca Cremonese.

A compreensão e o reconhecimento são fundamentais no combate à sepse. “O desconhecimento da doença pela população e pelos profissionais da saúde influencia na elevada mortalidade da sepse no Brasil. Também é importante ressaltar que só este ano a ONU colocou a sepse como uma das prioridades de tratamento no mundo”, pontua Teixeira. Cremonese destaca a importância do reconhecimento precoce da sepse, fundamental no combate à mortalidade e no tratamento efetivo. “As pessoas devem entender que, eventualmente, uma pneumonia que causa falta de ar ou uma infecção urinária que baixa a pressão podem ser um quadro potencial de sepse e, procurando o médico, podem ajudar a diminuir os números de casos”, enfatiza.

A sepse trata-se de uma inflamação generalizada do próprio organismo contra uma infecção que pode estar localizada em qualquer órgão. Essa inflamação pode levar a parada de funcionamento de um ou mais órgãos, com risco de morte quando não descoberta e tratada rapidamente. Por vezes, a infecção pode estar localizada em apenas um órgão, como o pulmão, por exemplo, mas provoca uma resposta com inflamação em todo o organismo.

É importante distinguir sepse e choque séptico, de acordo com o mais novo consenso internacional sobre o tema, desenvolvido pela Society of Critical Care Medicine e a European Society of Intensive Care Medicine. A sepse deve ser definida como uma disfunção de órgãos com risco de vida causada por uma resposta desregulada do hospedeiro à infecção. Para operacionalização clínica, disfunção orgânica pode ser representada por um aumento de 2 ou mais pontos na contagem de pontos do SOFA (Sequential Organ Failure Assessment) relacionado à sepse. Esse parâmetro está associado com uma mortalidade hospitalar superior a 10%. Choque séptico deve ser definido como um subconjunto de casos de sepse onde particularmente há maior risco de mortalidade, o que está associado a profundas alterações circulatórias, celulares e metabólicas. Os pacientes com choque séptico podem ser clinicamente identificados pelo requisito de uso de vasopressores para manter uma pressão arterial média de 65 mmHg ou superior e um nível de lactato sérico superior a 2mmol/L (> 18 mg/dL) na ausência de hipovolemia. Esta combinação é associada com taxas de mortalidade hospitalares maiores do que 40%.

Destacam-se os seguintes sintomas da sepse, de acordo com o UK Sepsis Trust, do Reino Unido: fala arrastada, tremores extremos ou dores musculares, baixa produção de urina (ficar um dia sem urinar), falta de ar severa, pele manchada ou pálida. Em crianças, podem ocorrer: aparência manchada, azulada ou pálida, dificuldade de acordar, pele fria fora do normal, respiração muito rápida, erupção cutânea que não desaparece quando pressionada e convulsão.

Doença de difícil prevenção e com enorme desconhecimento, o diagnóstico precoce e o tratamento imediato são as medidas mais importantes no combate à sepse, afirma o doutor Cassiano Teixeira. Ele também destaca o excelente trabalho de divulgação realizado pelo ILAS e as principais medidas de combate à doença. “O treinamento de todas as equipes de saúde de emergência do país poderia ajudar muito na redução da taxa de mortalidade da sepse”. Mais investimento em medicina intensiva e o protocolo dos casos são fundamentais para melhorar o quadro no país, destaca Cremonese. “Protocolar os casos de sepse tem sido feito de forma sistemática nos hospitais mais avançados e fazem a diferença”, finalizou.

World Day Sepsis

O World Sepsis Day é uma iniciativa da Global Sepsis Alliance (GSA) e foi criada em 2012. A GSA é uma organização sem fins lucrativos que tem como missão liderar iniciativas globalmente para reduzir o problema da sepse. Todos os anos, no dia 13 de setembro, inúmeros eventos de conscientização sobre sepse estão sendo organizados em todo o mundo. Os eventos variam de educação médica, informações para leigos, atividades esportivas, eventos de arrecadação de fundos, como piqueniques rosa e muito mais. Saiba mais pelo site da GSA

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