Gestão e Qualidade | 20 de dezembro de 2020

Desafios da pandemia ajudam a impulsionar processos de melhoria no Hospital Mãe de Deus

Em série especial diretor-geral Rafael Cremonese analisa conquistas no ano e vislumbra cenário para 2021
Desafios da pandemia ajudaram a aprimorar a gestão do Hospital Mãe de Deus em 2020

De um lado, o ano de 2020 impôs dificuldades ao Hospital Mãe de Deus. Devido à pandemia, a instituição observou significativo impacto financeiro na receita (nos segundo e terceiro trimestres, próximo de 15% do faturamento anual), muito em função da interrupção dos procedimentos eletivos e baixa procura dos serviços diagnósticos, como avalia o diretor-geral, Rafael Cremonese, quarto entrevistado da série especial de entrevistas do Setor Saúde, que conta com a participação dos gestores de hospitais e operadoras de planos de saúde do Rio Grande do Sul.

Por outro lado, o gestor avalia com otimismo as perspectivas para 2021, em virtude dos aprendizados gerados nos últimos meses. Ele cita que será importante, para a retomada do hospital, que seja feita a conscientização dos cuidados e com os riscos das postergações de procedimentos eletivos, de exames e consultas de rotina e da medicação continuada quando necessária, pela diminuição da procura da instituição em 2020, seja pela suspensão temporária de procedimentos eletivos ou por receio de contaminação em um ano marcado por casos de Covid-19.

Apesar dos desafios citados, Cremonese ressalta a superação e a reinvenção dos processos internos do hospital impulsionados pela pandemia. Ele enfatiza conquistas que ocorreram mesmo no conturbado 2020: a revitalização da Unidade Carlos Gomes; a consolidação do cuidado multidisciplinar e integrado do Centro Integrado de Oncologia, com o modelo Tumor Boards (reuniões multidisciplinares); e a realização do primeiro transplante de medula óssea. Além disso, o diretor-geral revela que alguns investimentos tiveram que ser paralisados em 2020, e ainda não podem ser revelados, mas projeta um próspero novo ano. “Sabemos que mesmo em cenário hostil não ficamos parados, plantamos para um 2021 melhor”, enfatiza. Confira a entrevista completa:

Expectativas e oportunidades

De acordo com Cremonese, as expectativas econômicas não foram positivas já no ano de 2019, e o Mãe de Deus projetava um 2020 com otimismo. E a previsão fez sentido no começo do ano, de acordo com ele, devido a bons indicadores. Porém, a pandemia gerou um impacto obviamente não planejado. “Os impactos foram fortes e parte dos objetivos até a primeira metade do ano não foram atingidos”, diz.

No entanto, o diretor-geral aponta que cresceu internamente na instituição a leitura de que todos esses impactos acabaram por gerar novas oportunidades e colocar o foco na sustentabilidade.


“Foram exigidos esforços diferenciados, também necessidade de desenvolvimento de novos produtos e serviços, bem como, cada vez mais, valorização dos nossos profissionais e médicos parceiros. A pandemia gerou impactos duros de curto prazo, mas emprestou reflexões para uma instituição mais sustentável daqui para frente, ao mesmo tempo que me orgulho de termos conseguido manter firme nosso foco no planejamento estratégico da organização”, pontua.


“Ano de muita coragem para o hospital”

Com a pandemia, o gestor observa que foi visto a união do time de profissionais, superação, engajamento e muita comemoração a cada vida salva durante o ano desafiador.


“Primeiramente, um aspecto fundamental a ser destacado é o fato de que esse ano desafiador demonstrar que em conjunto, nosso time de colaboradores, gestores e corpo clínico mostraram uma capacidade de engajamento e dedicação para com a organização que me deixa numa condição muito confortável como líder. Realmente senti e vi que tenho um time, que além de ser extremamente capaz, é absolutamente engajado em entregar o melhor para nossos pacientes, independentemente do tipo de desafio imposto. Máximas da teoria de gestão, que eventualmente no dia a dia podem soar como secundárias num mar de metas, números, índices e projetos,  tornaram-se obviedades, como o mantra de que quem faz uma empresa são as suas pessoas. As pessoas foram a empresa no seu sentido mais amplo e foi emocionante ver isso acontecendo, as conquistas de cada dia, as vidas salvas, as superações e os agradecimentos. Minha impressão é de que qualquer gestor moderno que se furta em ver isso, por uma visão míope do que aconteceu, estará cometendo um pecado”, frisa.

Cremonese destaca que o ano 2020, mesmo diante de toda a complexidade da pandemia, foi um ano de muitas realizações e de muita coragem para o hospital. “Seguir firme na revisão e melhoria de processos, aprimoramento dos relacionamentos com os médicos, eficiências operacionais e melhoria nos indicadores qualitativos foram uma constante”, explica.


Encontro marca o reposicionamento da oncologia do Hospital Mãe de Deus_

Investimentos

Os investimentos realizados foram enfatizados pelo diretor-geral: a revitalização da Unidade Carlos Gomes; a consolidação do cuidado multidisciplinar e integrado do Centro Integrado de Oncologia, com os Tumor Boards (reuniões multidisciplinares); e a realização do primeiro transplante de medula óssea.


Revitalização da Unidade Carlos Gomes: “Como alguns dos vários exemplos que temos, fizemos fortes investimentos em nossa Unidade da Carlos Gomes, em Porto Alegre, com uma robusta operação de Traumatologia e Ortopedia em um novo espaço totalmente livre de Covid-19, alcançando excelentes resultados”.

A Unidade Carlos Gomes localizada na Avenida Soledade, em Porto Alegre, passou por uma revitalização para fornecer mais conforto e comodidade aos seus clientes. Caracterizado como um Hospital Dia, a unidade disponibiliza atendimento em cirurgias ambulatoriais de diversas especialidades, assim como atendimento de consulta com a especialidade nefrologia e sessões de hemodiálise.

Hospital Mãe de Deus localizado na avenida Carlos Gomes apresenta revitalização

No primeiro semestre de 2020, foi inaugurado o ambulatório com consultas agendadas e pronto atendimento com a especialidade traumatologia e ortopedia. O investimento foi de cerca de R$ 550 mil.

O Pronto Atendimento de Traumatologia e Ortopedia tem funcionamento de segunda a sexta-feira, entre 8h e 20h. As consultas, agendadas ou de urgência, serão realizadas por médicos credenciados ao Corpo Clínico do Hospital.


Centro de Oncologia e Tumor Boards: “Tivemos avanços e investimentos relevantes no nosso Centro Integrado de Oncologia com a consolidação dos Tumor Boards, além da ampliação do serviço também para a Unidade da Carlos Gomes, que está em vias de se efetivar”.

O cuidado multidisciplinar e integrado é a base do Centro Integrado de Oncologia do Hospital Mãe de Deus, Em novembro, no encontro Soluções Integradas de Combate ao Câncer, realizado no Dia Nacional de Combate ao Câncer (27), foi marcado o reposicionamento da oncologia do Hospital.

tumor board mãe de deus

A partir de práticas analisadas e testadas, um conjunto de ações foi implementado. Entre as iniciativas estão a Clínica Integrada, as reuniões multidisciplinares do Tumor Board e o serviço de Segunda Opinião, todas ações pautadas para colocar cada paciente com câncer no centro do cuidado durante todo o seu percurso terapêutico.

As decisões tomadas a partir do Tumor Board têm entre 27 a 35% de chance de ter o plano de tratamento mudado para melhor, aumentando a assertividade e reduzindo o tempo para o início do tratamento devido a sincronia entre os especialistas. Nas reuniões estruturadas do Tumor Board, são discutidos diagnósticos, aspectos de tratamento e o melhor gerenciamento do cuidado do paciente. Os encontros contam com equipes de especialistas em oncologia clínica, cirurgia, radioterapia, radiologia, patologia e oncogenética, além de outros médicos e profissionais, de acordo com a necessidade de cada caso.


Primeiro transplante de medula óssea do Mãe de Deus: “Tivemos o primeiro TMO (Transplante de Medula Óssea), reformamos e adaptamos diversas unidades, inclusive de internação, e estruturas para o melhor atendimento dos pacientes e fizemos também grandes adaptações nos fluxos e jornadas dos pacientes para que pudéssemos segregar pacientes sintomáticos de Covid-19 das demais necessidades de atendimento”.

Hospital Mãe de Deus realiza seu primeiro transplante de medula óssea autólogo_


Impacto financeiro de 15% do faturamento anual

“O impacto financeiro na receita foi bastante significativo, especialmente no segundo e terceiro trimestres – próximo de 15% do nosso faturamento anual. O impacto na receita foi muito relacionado com a interrupção dos procedimentos eletivos e baixa procura dos serviços diagnósticos dentro do hospital, mas o impacto no resultado foi ainda maximizado pela perda de margem relacionada com aumentos muitos significativos dos insumos”, diz.

Cremonese reflete que a pandemia trouxe medo, mas deixou como aprendizado a necessidade de rápida adaptação às mudanças impostas. “Ficou claro nesse momento, o quanto a humanidade foi impactada pelo medo ao ponto de mudar radicalmente seu comportamento. Ao mesmo tempo, não posso deixar de refletir sobre o quanto de fato existe um grau de imprevisibilidade em tudo e que, modernamente em gestão, ter capacidade de se adaptar de forma rápida é uma habilidade gerencial mais essencial que a própria de planejamento”, pontua.

Perspectiva melhor para 2021

Apesar de um primeiro semestre com as fortes restrições que não permitiram que o Mãe de Deus atingisse suas metas, o diretor-geral afirma que ao longo do ano, com a retomada de procedimentos eletivos e já com ajuda e reflexo de iniciativas feitas pelo hospital, os resultados apresentaram melhora significativa, prometendo uma perspectiva melhor para o ano de 2021.


Cuidado integral da saúde dos pacientes

“Ao longo de 2020, investimos em entender o que a pandemia trouxe de impactos na cabeça de nosso mercado. Ouvimos centenas de pessoas das mais diversas faixas etárias sobre o que a pandemia exigirá daqui para frente de um hospital. Com base nisso, estamos caminhando para um formato concentrado na resolução de problemas, mas abrimos nosso foco para tratar de forma mais ampla os cuidados com a saúde e não apenas a doença. Isso projeta um conjunto de esforços que envolvem produtos, serviços, comunicação e uma série de investimentos ligados a um hospital mais próximo dos nossos clientes, que pertence mais ao dia a dia deles, que antecipa, que previne, que diagnostica e que no fim também resolve as inquietações e necessidades com a saúde”, afirma.


“Plantamos para um 2021 melhor”

Muitos investimentos e planejamentos para 2020 não foram potencializados por causa da pandemia, explica Cremonese. Entretanto, ele ressalta que a instituição não ficou parada, e espera colher os frutos no próximo ano, sem poder revelar algumas novidades projetadas.


“Ainda não vimos o resultado otimizado dos serviços que criamos, das unidades que abrimos e de muitos dos profissionais que contratamos, no entanto, sabemos que mesmo em cenário hostil não ficamos parados, plantamos para um 2021 melhor. Algumas das novidades ainda são sigilosas e outras estão em fase final de projeto que não nos permitem antecipar. No entanto, um dos grandes esforços que já estamos fazendo é um grande reforço de pessoas, de treinamento e capacitação de profissionais essenciais para um 2021 ainda duro e envolto com a Covid, pelo menos na primeira metade”, ressalta.


Como serão os hospitais pós-pandemia

Na avaliação do diretor-geral, uma das mudanças que serão impostas é o protagonismo médico, que deverá ir além da prática diária da medicina. Para o gestor, vai requerer cada vez mais que os médicos sejam líderes de times de alta performance capazes de entregar valor em saúde com eficiência e satisfação elevada dos clientes.


“Nesse aspecto específico, como conheço muito bem a saúde privada em Porto Alegre, posso dizer que o Mãe de Deus está muito bem posicionado. Na nossa visão compartilhada com o corpo clínico, temos dito que para um médico ter uma carreira de real valor, ele deve curar pessoas, transmitir o conhecimento que adquiriu para a próxima geração e contribuir para o fortalecimento da instituição que escolheu para praticar a medicina. Esse extraordinário pensamento no meu entendimento sugere que a pergunta atual no hospital pós pandemia seria: o que eu posso fazer pelo hospital, no lugar de, exclusivamente, o que o hospital tem que fazer por mim? Essa visão que foi acelerada e se intensificou com a pandemia já criou na organização um novo jeito, através do qual parceiros médicos empreendedores têm liberdade para desenvolver e planejar, em conjunto com o hospital, projetos que atendam às novas necessidades do mercado”, afirma.


Para o gestor, a pandemia ajudou a repensar o papel de pacientes e clientes, com necessidades diferentes, com atendimentos cada vez mais personalizados. “Precisamos pensar em separá-los, atendê-los de formas diferentes, encaminhar seus familiares e acompanhantes de formas diferentes. Tudo isso pensando em otimizar a estrutura hospitalar, mas fundamentalmente porque pós-pandemia o paciente quer e exige isso. Não haverá mais espaço para uma febre ao lado de uma fratura ou uma coriza próxima de uma gravidez. Tratamentos mais segregados, jornadas mais únicas e abordagens customizadas serão cada vez mais necessárias”, diz.

Hospital Mãe de Deus expande número de leitos em 20% para atender pacientes com a Covid-19

O gestor avalia que há necessidade do hospital ser ainda mais efetivo, mais ágil, com diagnósticos mais antecipados e estruturas de cuidado mais integradas através de processos inteligentes e digitais. “Boa parte dos nossos projetos daqui para frente passa por propor aos pacientes soluções integradas para uma recuperação ainda mais efetiva”, salienta.

A digitalização das relações, dos acessos e da informação também foi pontuada como uma nova realidade pós pandemia.

Tendência do mercado: verticalização, fusões/aquisições e parcerias estratégicas entre hospitais

Na análise do gestor sobre os movimentos do mercado da saúde em alta, como a consolidação de verticalizações, fusões, aquisições e sistemas integrados com hospitais, é de que, embora o movimento seja claro no mercado, as organizações têm sido complacentes no enfrentamento do tema em função de dois aspectos fundamentais: a incerteza do timeframe que vai se desenvolver e o grau de dificuldade que significa enfrentar o tema, especialmente no que tange a discussão e inclusão dos médicos na estratégia já que para tal – para Cremonese, interesses desalinhados há muito tempo precisarão ser revistos.

Especificamente no Mãe de Deus, Cremonese salienta que as mudanças necessárias estão sendo desenvolvidas há 6 a 7 anos, capitaneado pelo superintendente-executivo da Associação Educadora São Carlos (AESC), Fernando Barreto.


“Como toda decisão, essa não foi isenta de percalços. Fizemos mudanças profundas para ganhar eficiência e aumentar a qualidade simultaneamente; através de uma nova medicina de fato baseada em times multiprofissionais de alta performance com bastante foco nas necessidades dos clientes, resolutividade desde o primeiro contato com o sistema e uma atenção quase obcecada pela equação de valor em saúde onde o numerador de entrega do desfecho obrigatoriamente precisa de um denominador – tempo – o mais baixo possível”, diz.

“Para os que ainda não fizeram a opção de subir esse Himalaia, posso dizer com tranquilidade que os percalços vão se reverter em grandes benefícios para o sistema, para a instituição e para os pacientes que têm acesso a uma medicina mais eficiente e resolutiva. Sim é um caminho duro e que leva tempo, mas os benefícios são inequívocos na nossa experiência, assim como o reconhecimento do mercado através dos clientes e pagadores”, complementa.


Telemedicina e o ganho em resolutividade

O diretor-geral vê com bons olhos o crescimento da telemedicina no setor da saúde. “De uma forma não tão pensada e processada antes, a telemedicina permite uma espécie de “filtragem” nas diversas necessidades de um paciente ir até o hospital e quanto a faz, permite que sua jornada passe a ser conhecida, antecipada e qualificada. Os acessos digitais também possibilitam uma melhor gestão da experiência de pacientes e até mesmo da gestão de recursos dos hospitais e do corpo clínico. Visualizamos uma relação do hospital com seus pacientes cada vez mais resolutiva, antecipada, personalizada e com resultados cada vez melhores para todos”, avalia.

Além disso, Cremonese salienta que a telemedicina potencializa que os serviços específicos da instituição possam ser levados para mercados mais amplos e distantes de sua base. “Nosso time de profissionais altamente qualificado, nossos equipamentos e nossos processos passam a ter maior alcance via telemedicina”, frisa.

Hospital Mãe de Deus inaugura dez novos leitos de tratamento intensivo

LGPD

“No que diz respeito a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados, que entrou em vigor em setembro de 2020) entendemos ser absolutamente necessária a regulação e a perfeita condução das diretrizes. Um dos pontos centrais e sensíveis da sociedade são informações sobre a saúde e queremos com isso ter a melhor gestão das mesmas, respeitando os limites de uso e direcionando nossos esforços para antecipar, prever e apoiar a resolução de problemas”, avalia.

Conscientizar a população sobre os riscos do adiamento de consultas

O diretor-geral avalia que, em 2021, ainda haverá grande foco das instituições para tratamento da Covid-19. “Mesmo nos cenários mais positivos, entendemos que os prazos e resolução dos problemas de forma escalada vão ser mais longos do que gostaríamos. Dessa forma, todas as estruturas de atendimento precisam continuar com protocolos robustos e garantindo aos pacientes uma estrutura hospitalar com menor risco possível”, diz.

Em virtude da Covid-19 nos hospitais, muitas consultas deixaram de ser feitas em 2020, seja pelo receio de muitas pessoas de frequentarem o hospital, seja pela suspensão de procedimentos eletivos. Por isso, Cremonese entende que, para 2021, deverá ser feito um esforço conjunto no setor de saúde de conscientização dos cuidados e com os riscos das postergações de procedimentos eletivos, de exames e consultas de rotina e da medicação continuada quando necessária.

“A existência da Covid não diminui o conjunto de necessidades e cuidados, sendo assim, outro desafio de 2021 é seguir reforçando isso junto aos pacientes”, frisa.

Lições da pandemia

“Realmente a pandemia foi um desafio único para qualquer gestor. E ao mesmo tempo que causou imensos desafios operacionais no que tange a gestão de recursos de curto prazo e gestão de estoques e planejamento. O principal aspecto da pandemia foi de fato acelerar mudanças e provocar profundas reflexões sobre propósito, engajamento social, capitalismo colaborativo, futuro e humanismo”, avalia.

Cremonese avalia que a pandemia possibilitou que os propósitos de trabalho fossem identificados, assim como o aprendizado de enfrentar um cenário de incertezas.


“Acredito que a pandemia permitiu que muitos fossem capazes de perceber um significado mais profundo no seu trabalho e encontrar, mesmo nas tarefas mais simples, significado e propósito para o que fazem no dia a dia. Outro aspecto que entendo como muito significativo foi a necessidade de aprender a lidar com cenário de incertezas de forma mais estoica e, com essa perspectiva em mente, focar nas ações do agora com a certeza de que o que não pode ser previsto ou modificado não nos pode impedir de tomar as decisões que precisam ser tomadas, nem de fazer o que precisa ser feito”, diz.

Para ele, uma das lições foi aprender a não deixar a incerteza com o futuro nos paralisar. “Há algum tempo já está claro que estar confortável com mudanças é um predicado fundamental para pessoas e organizações poderem ser bem sucedidas, mas a pandemia colocou uma velocidade nisso que nunca imaginamos e, passados esses meses, entendo que ficou claro que podemos sim implementar mudanças com segurança e rapidez e que não precisamos temer. Nossa principal vantagem competitiva como seres humanos que nos permitiu até agora seguir evoluindo é a capacidade de se adaptar, e esse ano deixou claro que podemos fazê-lo com muito mais agilidade do que pensamos possível e obter bons resultados com isso”, afirma.

Ele entende que a pandemia traz uma lição grande a todos nós: a necessidade de “liquidez” nos nossos modelos mentais. Para o diretor-geral, precisamos ter capacidade de mudar, corrigir, melhorar a cada momento, com desapego de formatos antigos cada vez mais rápido, adotando correções sem sofrer tanto. “É muito difícil saber o que vem pela frente, a única certeza que temos é que será diferente do que estamos vivendo hoje, sendo assim, a “liquidez” nos faz pessoas mais flexíveis e adaptativas com o que vier pela frente”, ressalta.

A responsabilidade social de atender a todas as classes sociais é enfatizada pelo diretor-geral, que vai ao encontro da missão da Congregação das Irmãs de São Carlos Borromeo-Scalabrinianas e AESC. “É propósito da nossa organização permitir acesso à saúde independentemente de classe social através de um sistema hospitalar filantrópico. Para cada paciente internado pela saúde suplementar, temos uma internação no sistema público. Uma demonstração de grande responsabilidade social, pois estamos atacando de frente a chaga da diferença do acesso pelos menos favorecidos, em um ambiente de aprofundamento da desigualdade social, cenário de difícil resolução a curto e médio prazo. Então existe uma conexão com os valores e a prática da Congregação das Irmãs de São Carlos Borromeo-Scalabrinianas, o dia a dia da AESC e do Hospital. Essa conexão nos fortalece já por estar servindo esses valores, e nos sentirmos parte de um elo comum relevante nessa corrente, que formam as empresas e agentes da sociedade organizada, que não apenas visam lucro para sua sustentabilidade e crescimento, mas que também participam ativamente na promoção de uma sociedade mais justa”, diz.

A missão da instituição, somada à necessidade de cuidado coletivo contra a contaminação do coronavírus, fortaleceu a cultura de solidariedade, na visão do gestor.

“A difusão desses valores e, principalmente, a prática associada a uma construção de uma cultura de respeito ao próximo é imperativo para criar um ambiente de trabalho transformador, onde o senso de pertencimento, a inovação, o engajamento e produtividade seja cultivada nos atos do cotidiano. A pandemia deixou patente que devemos incorporar hábitos que nos resguardem da possível contaminação, como também temos obrigações diretamente com o próximo, tomando medidas que minimizem o contágio. Uma cultura de solidariedade, pelo menos de grupo, renasceu na sociedade”, enaltece.

“Estamos enfrentando o maior desafio na saúde pública dos últimos cem anos. Por mais que possamos aprender algo com as catástrofes, trata-se apenas de uma possibilidade de aprendizado. Talvez um pequeno passo seja não ver o outro como se fosse um obstáculo, e sim a condição de possibilidade de realização”, conclui.


Mensagem de final de ano

“Finalmente, gostaria de reiterar, como fizemos ao longo de todo ano o quão agradecidos estamos de ter um grupo de funcionários e médicos do corpo clínico com grau de engajamento e profissionalismo ímpar. Só por isso conseguimos finalizar esse ano tão desafiador com resultados bons e boas perspectivas para o ano 2021. Para a nossa sociedade gostaria de deixar claro que seguimos obstinados em manter nossas ofertas no nível de qualidade com foco nos clientes no grau máximo que já caracteriza o Mãe de Deus ao longo de sua história e garantir que seguiremos inovando para que nossos pacientes possam viver mais e com melhor qualidade de vida. Porque sim, as pessoas vão viver mais e o Mãe de Deus tem o compromisso de contribuir para que possam viver melhor, especialmente focado nas nossas especialidades estratégicas: cardiologia, neurologia, cirurgia, ortopedia e oncologia. Queria deixar o maior agradecimento possível de ser deixado a todos envolvidos na nossa missão. Ao mercado, aos parceiros, aos nossos clientes. Nunca foi tão desafiador. Nunca foi tão arriscado. Nunca foi tão incerto. Nosso time interno literalmente colocou suas vidas na linha de frente para cumprir com nossa missão central. É por isso que nossos planos de 2021 têm vários investimentos, melhorias, produtos e serviços, mas carregados e alimentados por mais pessoas, mais capacitação e mais preparados e recompensadas por tudo o que está por vir. Mas não é só o agradecimento e sim um convite a uma nova jornada que nos aguarda nesse próximo ano”, finaliza.


Desafios da pandemia ajudaram a aprimorar a gestão do Hospital Mãe de Deus em 2020

Rafael Cremonese

Rafael Cremonese é formado em medicina pela UFCSPA – Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre – FFFCMPA em 1999, e é Especialista em Medicina Intensiva com formação na Santa Casa de Porto Alegre com titulação pela AMIB – Associação de Medicina Intensiva Brasileira. Desde 2010 envolvido em gestão em saúde nos serviços hospitalares. Desde 2018 atuando como Diretor Operacional do Hospital Mãe de Deus e agora Diretor Geral do hospital, responsável pela Saúde Privada da AESC – Hospital Mãe de Deus, Unidade Carlos Gomes e Centro Integrado de Oncologia Mãe de Deus. Médico intensivista e autodidata em gestão.



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