Estatísticas e Análises | 11 de janeiro de 2017

Cuidados com animais ajudam a explicar os custos com a saúde humana?

Artigo analisa semelhanças e diferenças nos custos com saúde de humanos e pets
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Os astos com cuidados de saúde têm crescido pelo menos tão rápido quanto a economia global, e muitas vezes mais rápido. Há muito tempo, economistas especializados no setor debatem o motivo destas curva sempre ascendente.

Como diz Austin Frakt – economista da saúde com diversas filiações governamentais e acadêmicas nos EUA – em um artigo do jornal New York Times, “por mais estranho que possa parecer, a forma como cuidamos de nossos animais de estimação oferece algumas respostas”.

O mercado de pet care se parece um pouco como o mercado da saúde humana. “Os gastos em saúde dos lares americanos cresceram 50% entre 1996 e 2012. Os gastos com cuidados com animais de estimação cresceram um montante semelhante, 60%, embora a partir de uma base muito menor”. Os norte-americanos gastaram mais de US$ 15 bilhões em pet care em 2015, mas US$ 3,2 trilhões com cuidados de saúde humana.

Segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2013, o Brasil tem 132,4 milhões de pets, divididos em 52,2 milhões de cães, 37,9 milhões de aves, 22,1 milhões de gatos, 18 milhões de peixes e 2,21 milhões de outros pequenos animais. A Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet) levantou que, em 2015, o setor faturou R$ 18 bilhões, um crescimento de 7,6% em relação a 2014.

Estima-se que 68% das famílias norte-americanas tem animais de estimação. As famílias com rendas mais elevadas gastam mais, o que também é verdade para o cuidado humano. “A oferta de médicos e de veterinários cresceu a um ritmo mais rápido do que o emprego global. Desde 1996, o número de médicos cresceu cerca de 40%. O número de veterinários está acima de 100%”, diz o artigo.

Amy Finkelstein, economista do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e uma das autores de um estudo recente sobre cuidados com animais de estimação, afirma que “essas semelhanças nos fizeram pensar que algo mais pode estar por trás do rápido crescimento do gasto com a saúde humana”.

Ela e os co-autores Liran Einav e Atul Gupta, da Universidade de Stanford, tentaram encontrar o quê poderia estar “escondido” no estudo sobre os cuidados de saúde  de animais de estimação apresentado na reunião anual da American Economic Association, em Chicago. “Muitas vezes culpamos custos de seguros e envolvimento significativo do setor público, mas esses estão ausentes dos cuidados com animais de estimação”, considerou Amy Finkelstein.

Alguns economistas especialistas em saúde dizem que planos de saúde onerosos e a intervenção governamental significativa no mercado de cuidados de saúde promovem gastos desnecessários. Eles observam que os EUA gastam mais do seu PIB em saúde do que economias de outros países desenvolvidos mas não apresentam melhores resultados de saúde, o que é um sinal de ineficiência.

Mas outros economistas argumentam que o cuidado de saúde é tão valioso que se aceita gastar razoavelmente ainda mais no futuro.

Qual vertente está certa?

Os três economistas salientaram que, em contraste ao mercado de cuidados de saúde humanos, há muito menos envolvimento do governo nos cuidados com pets.

Planos de saúde para pets são muito menos comuns. “Mais de 90% dos americanos agora têm seguro de saúde, uma indústria que está conosco desde antes da Segunda Guerra Mundial. Mas apenas 1% dos cães e gatos são segurados por um plano pet care, um produto relativamente novo”. De acordo com a North American Pet Health Insurance Association, a primeira apólice de seguro de saúde animal de estimação nos EUA foi escrito para Lassie, o cão estrela de TV, em 1982.

Assim, o foco dos economistas se voltou para os pontos comuns. “Os cuidados de saúde para humanos e pets são fornecidos por especialistas – médicos e veterinários – que passaram por um longo e caro treinamento e licenciamento ocupacional. Essa perícia demanda altos salários. Isso também dá a autoridade para recomendar tratamentos, testes e exames, a maioria cuja necessidade os consumidores não podem julgar de forma independente”.

Você confia em seu veterinário como você iria confiar em seu médico para fazer o que é melhor, especialmente quando uma decisão emocional está sendo feita. “Ambos os cuidados de saúde para humanos e pets são acompanhados por emoções fortes, tornando difícil de racionalmente pesar o valor das opções. Além disso, a necessidade de cuidados, seja para um animal ou um ser humano, é difícil de prever e muitas vezes urgente, novamente ameaçando a nossa capacidade de escolher e a vontade de adquirir as melhores ofertas”.

A tecnologia também desempenha um papel importante. “Procedimentos complexos, novos produtos farmacêuticos e imagens de alta tecnologia, que geram despesas com cuidados de saúde humana, já não são incomuns em pet care, aumentando os custos”.

Embora consultas rotineiras ao veterinário possa custar ao donos de animais centenas de dólares por ano, uma condição séria pode ser muito cara.

“Um transplante de rim canino pode custar US$ 25 mil, e um tratamento para gato com câncer pode ser de US$ 10 mil ou mais. Mesmo que tais custos elevados sejam extremamente raros, não é tão incomum para um proprietário do animal de estimação encontrar uma conta de US$ 2.000 a US$ 4.000, em algum momento, especialmente perto do fim da vida de um animal de estimação. “Isso faz você pensar que a natureza emocional da decisão de tratamento pode ser importante para explicar os altos, e às vezes heroicos, gastos com cuidados de saúde no fim da vida”, disse Amy Finkelstein, “seja para seu cão ou para sua mãe”.

Plano de Saúde para animais pets

Se as emoções são, de fato, o que conduz gastos mais elevados, isso pode acelerar a tendência por mais planos de saúde para pets? A indústria de seguro de saúde para animal de estimação está crescendo, com o volume total dos custos subindo até 17% por ano, nos últimos dois anos. É um dos benefícios aos empregados que mais cresce. Delta Air Lines, Hewlett-Packard, Microsoft, UPS e Xerox são empresas que oferecem esse benefício.

As políticas mais comuns cobrem os cuidados para ferimentos devidos a acidentes, bem como o cuidado para doenças como artrite ou câncer, com custos mensais começando em torno de US$ 22 para cães e US$ 16 para gatos. Mas os valores podem ser mais elevados dependendo da raça, idade e onde o animal mora. Algumas outras políticas também abrangem cuidados preventivos, como vacinas.

Em geral , os planos não cobrem condições pré-existentes, gestação e custos relacionados com o nascimento, ou animais com menos de dois meses de idade. Normalmente, os proprietários pagam 20% dos custos de tratamento e os planos cuidam de 80%, embora algumas seguradoras ofereçam outras opções de compartilhamento de custos.

No Brasil, empresas também já comercializam planos para pets, podendo ter valor a partir de R$ 70,00, e chegar até mesmo a R$ 200,00 por mês (Petplan, São Paulo). O mais completo (Top), por exemplo, da Petplan possui cobertura ambulatorial, hospitalar, exames laboratoriais e de imagem. O plano ainda oferece check-ups, vacinas, consultas com especialistas, consultas domiciliares, parto, castração, além de tratamentos complementares como acupuntura e fisioterapia. Em Porto Alegre, existe a Animed, com planos inclusive para cachorros acima de 5 anos, a partir de R$ 132,00. Importante analisar o que inclui nos planos com detalhes, pois muitos exames devem ser pagos, mesmo tendo o plano. Neste caso, são aplicados descontos. 

Bons negócios?

Mas o plano de saúde para animais de estimação é vantajoso para o consumidor? Segundo um levantamento da revista Consumer Reports feito no ano passado, geralmente não vale o preço. Somente se o animal tem custos muito elevados de cuidados o seguro vai cobrir mais do que se pagaria pessoalmente. “De acordo com a análise feita por Finkelstein e seus colegas da Universidade de Stanford, quase dois terços de todos os custos de cuidados com animais de estimação são gastos por apenas 20% das famílias com animais de estimação. Isso mostra que a maioria dos segurados não vai receber de volta o que pagam. Isso é verdade para o seguro de saúde humano, também, e pela mesma razão”.

A verdade é que a questão sobre o seguro de saúde – seja para os seres humanos ou seus animais de estimação – é proteger contra o risco de custos catastroficamente elevados. Pode ser uma alternativa segura para uma doença grave ou crônica, que necessite cuidados rotineiros e frequentes. Porém, se a pessoa nunca vier a ter uma doença que requer cuidados caros, o valor investido, geralmente não se paga.

A Consumer Reports sugere uma alternativa quando se trata de pet care: os seguros próprios (self-insuring).

Muitos donos de animais poderiam acumular em uma conta investimento, como um fundo de emergência que poderia ser usado para ajudar a amortecer o impacto dos custos de cuidados imprevistos. Poupando o suficiente para suportar uma condição médica humana séria, poderia custar dezenas de milhares de dólares, ano após ano ou mais, não é algo que a maioria dos norte-americanos poderia fazer. E uma emergência antes da hora, poderia por fim ao montante acumulado em pouco tempo.

“Embora você possa razoavelmente evitar um plano de saúde para seu pet, definitivamente não se pode fazer isso com seguro de saúde humano. Cuidados de saúde humanos e de pets podem ter algumas semelhanças, mas este não é um deles”, conclui o artigo do New York Times.

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