Gestão e Qualidade | 4 de abril de 2020

Confira estratégias e relatos apontados por lideranças da saúde no enfrentamento ao coronavírus

Webinar FIS discutiu o impacto da Covid-19 com CEO´s e gestores da saúde
Confira estratégias e relatos apontados por lideranças da saúde no enfrentamento ao coronavírus

Na sexta-feira (3), ocorreu a Webinar FIS (Fórum Inovação em Saúde), com o tema Covid-19: O impacto sanitário, econômico e social de uma pandemia. A conferência pela internet contou com as seguintes lideranças da saúde:

Charles Souleyman, Chief Medical Officer do United Health Group Brasil (São Paulo/SP); Jarbas Barbosa, vice-diretor da OPAS – Organização Pan-Americana da Saúde (Washington D.C./EUA); Paulo Chapchap, CEO do Hospital Sírio-Libanês (São Paulo/SP); Rafael Lledó Rodríguez, CEO da Fundación Privada Hospital Asil de Granollers e secretário-geral da Associação Patronal Sanitária da Catalunha (Barcelona/ESP); Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da Abramed e Relações Institucionais do Grupo Fleury (Rio de Janeiro/RJ); e o mediador Josier Vilar, presidente da Iniciativa FIS (Rio de Janeiro/RJ). Confira os assuntos abordados pelos conferencistas.

Jarbas Barbosa (OPAS)

O vice-diretor da OPAS destacou que as transmissões estão sendo diferentes em cada país, apresentando particularidades e ações governamentais distintas. “Alguns locais estão com transmissões comunitárias altamente disseminadas. Se olharmos para os EUA e Brasil, também veremos diferentes graus de transmissão entre cada um dos estados”, disse.

Barbosa disse que “não sabemos o grau de assintomáticos. Temos números subdimensionados, com concentração de testes em casos graves”, avaliou.

Ele aponta o projeto da OMS Solidarity, que busca tratamentos eficazes contra a Covid-19 em ação integrada entre vários países, que poderão apresentar resultados em cinco semanas. Barbosa defendeu as medidas de distanciamento social, preconizaras pelo Ministério da Saúde, para reduzir a velocidade de contaminação da doença na sociedade. O isolamento permitirá uma melhor preparação dos serviços de saúde, para que saibam lidar com a sobrecarga, especialmente dos leitos de internação e CTI/UTI.

Ele ainda apontou  a importância de serviços de telemedicina para casos leves, e lamentou a dificuldade de testagem em massa, que ajudaria a rastrear melhor pessoas infectadas e também os recuperados pela doença que apresentaram sintomas leves.

Sobre o Brasil afrouxar o isolamento, Jarbas Barbosa, disse que “o que faz diferença é o momento que você inicia o isolamento. Fazer no começo da subida da curva é fundamental”, pontuou.

O vice-presidente salientou que há pessoas que são grandes multiplicadores da disseminação da doença, citando como exemplo a paciente 31 da Coreia do Sul. Para entender: os 30 infectados anteriores eram pessoas vindas do exterior e foram isoladas para tratamento. A 31ª pessoa infectada propagou a doença para muitas pessoas, ao ir à igreja e disseminar o vírus para dezenas de pessoas.

A liderança do ministro Luiz Henrique Mandetta foi elogiada, já que no Brasil, a saúde é formada entre suplementar e pública, o que dificulta a coordenação dos esforços. No Chile, por exemplo, que atualmente tem apenas 22 mortes [no dia 4, o número subiu para 27], a saúde é toda centralizada, o que facilita seguir todos um mesmo protocolo ou esforço – como a realização de testes e contagem dos dados.

Rafael Lledó Rodríguez (Hospital Asil de Granollers/Espanha)

Rodríguez destacou o crescimento exponencial de casos na Espanha, apontando que o país se encontra em uma situação crítica, com muitos casos e muitas mortes sendo registradas em crescimento diário.

Porém, ele aponta que há um consenso de que há mais infectados do que registrado, o que refletiria que o índice de letalidade que está sendo registrado no país é menor. Na visão do CEO espanhol, o país não tomou as medidas de isolamento com antecedência, o que poderia explicar o crescimento desenfreado, maior do que em outros países que adotaram o isolamento mais cedo. Rodríguez disse que sua instituição instituiu um comitê de crise, com plano de contingência – que passou de 250 para 750 leitos disponíveis.

O CEO aponta que, na Espanha, há hotéis tentando se adaptar para fazer os atendimentos. Os hospitais atuam com separação dos pacientes infectados em áreas específicas, uso de máscaras entre os infectados, proibição de entrada para visitas, seguindo orientações que vem sendo aplicadas no mundo todo.

“Passamos [na Espanha] muito tempo buscando identificar aqueles casos “raíz”, perdemos um pouco de tempo nisto. Alemanha, Coreia do Sul e países que iniciaram antes o isolamento tiveram um bom resultado”, disse Rafael Radríguez.

Paulo Chapchap (Hospital Sírio-Libanês)

O CEO do Hospital Sírio-Libanês apontou que a doença está se mostrando desafiadora, tanto pelo grande número de internações, como pelo tratamento de casos graves, que demandam muitos dias de atendimento intensivo. “É um quadro gripal longo, que se desenvolve em pneumonia, e pacientes graves vão demorar bastante para sair da UTI. São quadros de recuperação lenta que estamos observando, que demanda dias de internação”, disse.

Chapchap ainda abordou a taxa de infecção entre os colaboradores da instituição. “Temos 4% entre todos os nossos colaboradores que estão com Covid-19. Esses colaboradores representam, a grosso modo, a sociedade que segue trabalhando e que não pode parar. Então, estimo que 4% das pessoas que estão circulando em São Paulo são casos positivos da doença”, analisou.

Chapchap disse que o Sírio-Libanês montou um gabinete de crise para poder tratar a doença com os colaboradores. “Tive a grata de surpresa de receber pedido de colaboradores com mais de 60 anos querendo voltar à ativa. Obviamente, não aceitei, precisamos proteger esses colaboradores, mas isso demonstra o grau de engajamento entre eles”, disse.

O CEO destacou que a desigualdade social escancara as dificuldades para lidar com a pandemia. Para ele, para suprir necessidades básicas de pessoas sem condições financeiras favoráveis, o Governo precisa auxiliar toda a sociedade. “Existe um mapeamento, devemos ampliar a rede de proteção social para as pessoas mais necessitadas”, disse.

Sobre a hidroxicloroquina – o Sírio-Libanês é um dos que está testando o medicamento no Brasil – não é possível neste momento fornecer qualquer resposta sobre o sucesso ou não do medicamento. “Não é isento de toxicidade. Já tivemos que suspender o medicamento por toxicidade cardíaca em alguns pacientes. Pode ser um tratamento que pode ter efeito [positivo] mas não é um tratamento isento de efeitos colaterais. Nós precisamos de mais dados científicos” destacou Chapchap.

Wilson Shcolnik (Abramed)

Shcolnik alertou que, apesar de fabricação nacional de testes, eles dependem de insumos importados, apontando complexidades para a liberação dos testes.

Shcolnik alertou para a necessidade de testes precisos. “Nos setores público e privado, há um esforço para um único objetivo: validar e tornar público quais são os kits de testes rápidos que podem ser usados com confiança nos resultados. Senão, corremos o perigo de termos um imenso número de falsos negativos em pessoas infectadas, que trarão uma perigosa sensação de segurança, deixando pessoas infectadas circulando normalmente”, definiu.

Diante da falta de insumos (como reagentes), os testes atualmente estão sendo priorizados para prontos socorros e hospitais. “Infelizmente estamos com uma limitação de insumos, mas espero que se resolva nas próximas semanas” disse o presidente da Abramed. “Precisamos de um estímulo para a indústria nacional, para que tenhamos condições de ter os insumos paras os desafios sanitários”, complementou.

Charles Souleyman (UHG Brasil)

O Chief Medical Officer do United Health Group Brasil também destacou que a situação atual é de pacientes em estado grave, e que há dificuldade no rastreamento de todos os infectados.

Ele alertou para a complexidade do atendimento de pacientes graves e a necessidade de isolamento social. “Os pacientes estão em estado muito grave e precisam de um tratamento muito eficaz. Precisamos de mais um mês, no mínimo, de isolamento social intenso. Precisamos achatar a curva bastante, porque os casos irão crescer”, ressaltou.

Souleyman apontou para a necessidade de integração dos sistemas público e privado para lidar com a crise. “Não podemos concorrer por compras de EPI e respiradores com o setor público, precisamos estar unidos para resolver de maneira colaborativa. Essa pandemia não se resolve se não estivermos unidos”, definiu.

Sobre os problemas para aqueles com menos condições financeiras para adorar o isolamento social, o CMO da UHG Brasil, defendeu que infelizmente o tratamento é este, mas que todos devem fazer alguma coisa para auxiliar de alguma forma quem está sem emprego, sem comida, remédio, etc. “Nós não estamos presenciando apenas um problemas sanitário, mas um problema humanitário, como ocorre ao redor do mundo com guerras. É preciso evitar que esta pandemia vire um pandemônio”, defendeu.

Souleyman citou um exemplo da atuação da UHG Brasil, que contratou um grupo de costureiras em uma comunidade para produzir 20 mil aventais por semana para abastecer hospitais da própria rede e para doações a hospitais públicos. “São duas coisas que nos dão muita motivação. A empolgação destas pessoas em ajudar e a força dos pacientes com câncer, por exemplo, que continuam o tratamento. “, reforçou. Bastante emocionado, Souleyman ressaltou ainda o humanismo dos profissionais da saúde que estão na linha de frente em hospitais e centros de saúde, deixando seus familiares em casa e se dirigindo diariamente para cuidar do próximo.

Josier Vilar (Iniciativa FIS)

O presidente da Iniciativa FIS – e moderador do debate – destacou a união de hotéis da cidade do Rio de Janeiro, juntamente com a Iniciativa FIS, para conseguir oferecer opções de acomodação para profissionais de saúde. Os objetivos são proporcionar maior conforto para descansar, já que o dia a dia nos hospitais que recebem pacientes com a Covid-19, via de regra, é altamente estressante e caótico. Outro fator é o risco de contágio que estes profissionais podem levar ou trazer do hospital para a família, da família para o hospital. “Muitos dos profissionais precisam compartilhar a casa com seus familiares, com alto risco de infecção. Eles sabem que têm um risco. Então ficar num hotel, próximo ao hospital, neste momento de guerra é uma opção que precisamos toda a sociedade bancar”, defendeu Josier Vilar.

O projeto Hotéis Solidários é uma iniciativa do FIS, em parceria com a rede hoteleira carioca, o Instituto da Criança, o CREMERJ – Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro e o IBKL que oferece a profissionais de saúde cadastrados, acomodações para evitar contato com seus familiares após seus plantões em ambientes de risco. Saiba mais aqui.

Assista ao Webinar FIS completo:

VEJA TAMBÉM