Tecnologia e Inovação | 21 de fevereiro de 2017

Como o Vale do Silício está tentando vencer o envelhecimento

Super-pílulas, transfusão de sangue e suplementos vitamínicos são as novas alternativas para uma vida mais longa
Como o Vale do Silício está tentando vencer o envelhecimento

A luta pela vida é uma das maiores questões da humanidade desde seus primórdios. Com o avanço da ciência e da medicina, as pessoas conseguiram a chance de viver mais. Um local na Califórnia conhecido por produzir coisas inovadoras é o novo interessado nesse tema. O Vale do Silício entrou na briga contra o envelhecimento.

Larry Ellison, cofundador da empresa de tecnologia Oracle, deu mais de US$ 330 milhões para pesquisa sobre envelhecimento e doenças relacionadas à idade. Já o CEO e cofundador do Alphabet/Google, Larry Page, lançou a Calico, uma empresa de pesquisa que busca maneiras de melhorar a vida humana. Da mesma forma, Peter Thiel, cofundador da PayPal, também investiu milhões na causa, incluindo mais de US$ 7 milhões para a Fundação Methuselah, uma organização sem fins lucrativos, focada em terapias de extensão de vida.

Em vez de esperar anos para que os tratamentos sejam aprovados por órgãos federais, porém, muitas empresas estão testando maneiras de modificar a biologia humana que se encontra em algum lugar entre ciência e empreendedorismo. É chamado de biohacking, e é um dos maiores acontecimentos do Vale.

Para alguns, viver mais consiste em tomar diariamente pílulas e fazer regimes. Para outros significa ter o sangue de um jovem em suas veias. “Vejo o biohacking como um movimento populista dentro dos cuidados de saúde”, diz Geoffrey Woo, CEO da empresa chamada Nootrobox, que vende suplementos que prometem melhorar a função cerebral. “Meu objetivo é viver além dos 180 anos e estou fazendo tudo o que posso para que isso aconteça comigo”, diz Dave Asprey, CEO da empresa de suplemento Bulletproof.

Transfusão de sangue

Pode parecer estranho, mas 50 pessoas nos EUA pagaram US$ 8.000 por uma transfusão de plasma de alguém entre as idades de 16 a 25. O estudo sobre essas transfusões é conduzido pela Ambrosia, uma empresa sediada em Monterey, na Califórnia.

As transfusões baseiam-se na ideia de que injeções de dois litros de sangue podem trazer benefícios de longevidade. O fundador da Ambrosia, Jesse Karmazin, que tem um diploma em medicina, mas não é um médico licenciado, diz que após as transfusões, sua equipe procura mudanças no sangue do receptor, incluindo marcadores de inflamação, colesterol e crescimento de neurônios. “Quando somos jovens, produzimos muitos fatores que são importantes para a saúde celular”, diz ele. “À medida que envelhecemos, não produzimos o suficiente desses fatores, o sangue jovem dá ao seu corpo uma pausa para reparar e regenerar-se”, afirma.

Alguns cientistas, no entanto, são críticos deste estudo, em grande parte por causa da maneira como foi concebido: não há grupo de controle, é caro para participar, e as pessoas que são matriculadas não compartilham características-chave que os tornam candidatos apropriados para serem vistos lado a lado.

“O que a Ambrosia está fazendo não é útil e pode ser prejudicial”, diz Irina Conboy, professora de bioengenharia da Universidade da Califórnia, que também está estudando o sangue como alvo potencial para o envelhecimento.

Drogas para o cérebro

Os suplementos chamados de nootrópicos, ou “drogas inteligentes”, prometem aguçar o  pensamento e melhorar as habilidades mentais.

Nootrobox, uma empresa que faz nootrópicos, combina ingredientes como vitaminas B e cafeína com um buquê de outros ingredientes para criar cápsulas com finalidades diferentes.

As pílulas Rise afirmam melhorar a memória e resistência; as Sprint prometem um impulso imediato de clareza e energia; já as Kado-3 oferecem “proteção diária do cérebro e do corpo”; e as Yawn ajudam no seu sono. Um pacote combo de 190 cápsulas é vendido por cerca de US$ 135.

Nootrobox é uma das startups nootrópicas mais populares, com mais de US$ 2 milhões em financiamento de investidores privados, como a CEO do Yahoo! Marissa Mayer e a empresa de capital de risco Andreessen Horowitz. “Eu acho que os nootrópicos serão coisas que consumiremos diariamente no futuro”, afirma o CEO da Nootrobox, Geoffrey Woo.

Os ingredientes em suplementos nootrópicos são considerados seguros, porém as combinações únicas nas próprias pílulas não foram comprovadas como algo capaz de aumentar a capacidade mental das pessoas. A Nootrobox afirma que está conduzindo atualmente ensaios clínicos de seus produtos. Nos Estados Unidos, as vitaminas não são obrigadas a submeter-se a rigorosos testes de eficácia e segurança antes de serem vendidas.

Muitos médicos também são céticos sobre a eficiência dessas pílulas no desempenho mental. “Provavelmente há um grande efeito placebo”, diz Kimberly Urban, pesquisadora de pós-doutorado do Children’s Hospital da Filadélfia, que estudou os efeitos do nootrópico no cérebro. “Acho que as pessoas deveriam usar alguma cautela, especialmente os jovens”, explica.  Ela acrescenta que, embora estes suplementos possam ser seguros, não há nenhuma investigação científica para provar que eles realmente funcionam.

Pílulas antienvelhecimento

Biohackers do Vale do Silício estão testando diversos suplementos, para, com a combinação certa, achar o antídoto do envelhecimento.  Agora, cientistas e empresários estão buscando a solução em apenas uma ou duas pílulas a serem tomadas diariamente.

Muitas empresas vendem suplementos com ideias de benefícios de longevidade, mas uma das companhias mais faladas e requisitadas é a Elysium Health, fundada por empresários e um pesquisador antienvelhecimento do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, em inglês) chamado Leonard Guarente.

A Elysium criou um suplemento diário chamado Basis, que é projetado para buscar o bem-estar a longo prazo no nível celular.

A pílula não é comercializada como uma cura para o envelhecimento, mas a Elysium Health cita evidências de que os ingredientes da pílula aumentam um composto chamado NAD +, que a empresa diz ser “essencial para centenas de processos biológicos que sustentam a vida humana”. A Basis custa US$ 50 em uma quantidade mensal. Mesmo a empresa não divulgando número de vendas oficiais, eles dizem  já ter dezenas de milhares de clientes.

Basis  contém dois ingredientes principais: Ribosídeo de Nicotinamida (NR) e pterostilbene, ambos os quais foram mostrados em estudos com animais para combater o envelhecimento em nível celular. NR cria NAD +, que é acreditado para estimular rejuvenescimento celular, mas que diminui naturalmente em animais à medida que envelhecem. Em uma análise com 120 pessoas saudáveis – de 60 a 80 anos, – Guarente descobriu que as pessoas que tomaram Basisaumentaram seus níveis de NAD + em 40%. “Estamos tentando ser rigorosamente baseados na ciência”, diz ele.

Estudos têm demonstrado que a suplementação com o composto prolonga a vida em ratos, mas se ela aumenta a longevidade humana ainda é desconhecida. Para descobrir se realmente funciona e solicitar a aprovação da pílula como uma droga, seriam necessários longos e rigorosos ensaios clínicos. Em vez disso, a Elysium Health preferiu lançar Basis como um suplemento.

Outros cientistas questionam completamente o funcionamento do produto. “Não há provas de que Basis produz benefícios de saúde em seres humanos”, diz o Dr. Jeffrey Flier, ex-reitor da Faculdade de Medicina de Harvard. “Muitas moléculas que têm alguns benefícios aparentes nos ratos ou em outros organismos não têm nenhum benefício quando estudadas nos seres humanos”, explica.

A empresa tem sete cientistas vencedores do Prêmio Nobel em seu conselho consultivo, um fato que também levantou algumas dúvidas. Flier adverte que a associação da empresa com pesquisadores premiados não pode substituir a ciência necessária para provar que os suplementos combatem o envelhecimento e são seguros para o uso humano.

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