Mundo | 4 de setembro de 2015

Como ficar imune ao estresse de “segunda mão”

Irritabilidade e mau humor também são contagiosos
Como ficar imune ao estresse de segunda mão

O estresse é contagioso. Se você já sentiu fadiga e irritação depois de se relacionar com uma pessoa de mau humor, então você pode ser uma vítima do chamado “secondhand stress” (estresse de segunda mão). Emoções podem se espalhar como um vírus, apontam pesquisas como a da Universidade de Tecnologia de Dresden (Alemanha), que descobriu que ficar exposto a alguém em uma situação estressante pode desencadear respostas de estresse em seu próprio corpo.

As emoções são distribuídas através de uma rede de neurônios-espelho, que são pequenas partes do cérebro que nos permitem ter empatia com os outros. Quando alguém boceja, os neurônios-espelho podem se ativar, fazendo você também bocejar. Como destaca um artigo da Harvard Business Review, “não é apenas o sorriso e o bocejo que se espalham. Podemos captar negatividade, estresse e incerteza”. Por essa razão, os pesquisadores Howard Friedman e Ronald Riggio, da Universidade da Califórnia, afirmam que se alguém em seu campo visual está ansioso e expressa esse sentimento (verbal ou não-verbal) há uma alta probabilidade que isso gere impacto negativo no desempenho do seu cérebro. “Observar alguém que está estressado – especialmente um membro da família ou colega de trabalho – pode ter um efeito imediato sobre os nossos próprios sistemas nervosos”, indica o texto.

“Um estudo descobriu que 26% das pessoas analisadas apresentaram níveis elevados de cortisol apenas observando alguém que estava estressado. O estresse de segunda mão é muito mais contagioso entre um casal (40%) do que entre estranhos, mas quando os observadores assistiram a um evento estressante em vídeo com estranhos, 24% ainda apresentavam uma resposta ao estresse”. Quando um motorista buzina com insistência, você pode ativar e manter a ansiedade por todo o seu trajeto. Quando um chefe está irritado em sua sala, acontece o mesmo.

De acordo com Heidi Hanna, pesquisadora do Instituto Americano de Stress e autora do livro Stressaholic, o estresse de segunda mão é resultado da nossa capacidade de perceber ameaças potenciais em nosso ambiente. “A maioria das pessoas têm experimentado sentimentos de estresse como uma resposta, apenas ao ouvir alguém se aproximar da porta. Esta pode ser uma resposta condicionada a partir de interações anteriores, mas também pode ser uma comunicação energética oriunda de mudanças muito suaves em ritmos bio-mecânicos, como a frequência cardíaca ou a taxa de respiração”. Os sinais que causam esse estresse passivo podem ter mudanças muito sutis nas pessoas.

A negatividade “capturada” de outras pessoas também pode afetar todos profissionalmente, prejudica o aprendizado, e o problema pode durar muito tempo, inclusive reduzindo a expectativa de vida. Empresas como o Sistema de Saúde Oschner (EUA), consciente dos impactos do estresse de segunda mão, começaram a instituir zonas “sem ventilação”, livres de pacientes. Isso porque o paciente, ao ver uma enfermeira estressada ou se queixando, poderia prejudicar a recuperação. “O pensamento positivo é continuamente associado a melhores resultados para a saúde,” conclui o estudo.

Para ajudar a evitar o estresse de segunda mão, o artigo da Harvard Business Review, elaborou uma série de dicas comportamentais:

Mude sua resposta: Uma pesquisa feita junto à empresa de investimento bancário UBS descobriu que se você criar uma mentalidade positiva sobre o estresse e parar de lutar contra isso, é possível notar uma queda de 23% nos efeitos negativos do estresse. Quando vemos o estresse como uma ameaça, corpo e mente aceitam os efeitos intensificadores de estresse. Ao invés de lutar e se frustrar com pessoas negativas ao seu redor, veja isto como uma oportunidade de sentir compaixão pelo próximo, ou como um desafio para ajudar essa pessoa a se tornar mais positiva.

Crie anticorpos positivos: É importante ter comportamentos que neutralizem os efeitos negativos de uma pessoa estressada. Não responda a um colega estressado com desaprovação, dê um sorriso ou um aceno de compreensão. É a chance de iniciar uma “corrente de energia” para quebrar a negatividade. O primeiro comentário em uma conversa muitas vezes prediz o resultado. Iniciar uma conversa com “eu estou muito ocupado” ou “não posso falar agora” não funciona. Troque por uma respiração calma e deixe a pessoa saber que você se interessa por ela.

Construa uma imunidade natural: Um dos maiores escudos contra o estresse passivo é a forte auto-estima. Quanto maior, mais provável que a pessoa se sinta pronta para enfrentar qualquer situação. Ao se deparar com alguém irritado, é bom lembrar de como as coisas estão indo bem e que é possível resolver qualquer coisa, à sua maneira. Praticar exercícios é uma das melhores maneiras de construir auto-estima, porque seu cérebro registra uma vitória cada vez que você faz uma atividade, graças à endorfina.

Vacine-se: Esteja preparado antes de ir para o trabalho ou para ambientes estressantes. Por exemplo, antes de começarmos o dia, a primeira coisa que deve ser feita é pensar em coisas pelas quais você é grato. Cinco hábitos psicológicos positivos, que ajudam vacinar seu cérebro contra os pensamentos negativos dos outros, são:

1) escreva um email, em dois minutos, para elogiar alguém que você conheça;

2) anote três coisas pelas quais você é grato;

3) Passe alguns minutos lendo ou pesquisando sobre alguma notícia positiva;

4) faça exercícios cardíacos por 30 minutos;

5) medite, mesmo que por apenas dois minutos.

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