Tecnologia e Inovação | 17 de março de 2017

Como a engenharia de sistemas pode ajudar a melhorar os cuidados de saúde

Na saúde, as diferentes tecnologias deveriam ter a capacidade de se “comunicar” entre si
Como a engenharia de sistemas pode ajudar a melhorar os cuidados de saúde

Em artigo intitulado How Systems Engineering Can Help Fix Health Care, escrito por Peter Pronovost (foto principal), Alan Ravitz e Conrad Grant para a revista Harvard Business Review norte-americana, os pesquisadores da Johns Hopkins fazem uma provocação: quando um fabricante de aeronaves decide criar um novo modelo, ele pede aos pilotos e à tripulação que identifiquem a melhor cabine, asas, motores e outras peças individualmente, para depois juntá-las num único aparelho? Segundo os pesquisadores, um avião desenvolvido desse jeito não voaria. A empresa deve começar com um objetivo: como transportar com segurança 200 passageiros. A partir daí, segue-se uma abordagem disciplinada para identificar os componentes e subsistemas que atendem a esses requisitos.

Já a forma como são construídas as estruturas de tecnologia de hospitais e clínicas normalmente é feita diferente. As instituições compram centenas de tecnologias individuais, cada uma com seus próprios processos de trabalho, treinamento e interfaces de usuário – com base no que o mercado oferece. Então, jogamos tudo em uma UTI ou sala de cirurgia, e torcemos para que tudo isso funcione em conjunto, como uma orquestra.

Por causa desse quadro, nesse contexto, é que se desenvolveu – de forma piloto, em 2014 – o Projeto Emerge, que originou um aplicativo para tablet. A funcionalidade coordena e integra todos os dados dos equipamentos de monitoramento e sistemas de informação de um hospital. Ao invés de vasculhar os registros médicos e dispositivos para garantir que os pacientes recebam todos os cuidados adequados, os médicos podem usar apenas o aplicativo para ver rapidamente todos os dados, num só local.

Segundo os pesquisadores, o resultado dessa montagem de hospital é uma constelação de tecnologias que raramente se conectam, em detrimento da segurança do paciente e qualidade do serviço oferecido.

Os exemplos, segundo a reportagem, são muitos:

Diferentes monitores que emitem alarmes competindo uns com os outros para a atenção dos profissionais, que devem identificar quais que significam condições sérias e quais não. Às vezes eles perdem alarmes críticos em meio ao ruído.

Dispositivos, registros médicos eletrônicos e até mesmo camas de pacientes têm informações eletrônicas que podem ajudar a diagnosticar condições e avaliar riscos. No entanto, os médicos devem consultar cada um individualmente, ao invés de possuir uma exibição unificada de informações a partir deles.

O tempo que poderia ser gasto com os pacientes e seus entes queridos é, em vez disso, desperdiçado na frente de monitores de computador, porque os médicos clicam em dezenas de telas em busca de informações relevantes.

Tudo isso leva a danos inúteis do paciente, baixa produtividade, custos excessivos e esgotamento dos clínicos, ou seja, deteriora a qualidade do hospital, a saúde do paciente e dos profissionais. Médicos e enfermeiros sentem que estão servindo à tecnologia, não o contrário. Prevenir complicações, erros e outros danos, muitas vezes depende do heroísmo dos clínicos e não do design de sistemas seguros.

Por essa razão, buscou-se aliar a tecnologia, as pessoas e os processos de modo que se juntem perfeitamente em busca de um objetivo em comum, numa abordagem que priorize as necessidades dos pacientes e dos profissionais da área clínica.

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Aplicativo da Johns Hopkins

 

O aplicativo também atualiza continuamente um “monitor de danos”, um diagrama simples que acompanha centenas de tarefas para cada paciente, separadas em sete seções. O monitor de danos rastreia quais tarefas preventivas foram realizadas e alerta para situações em que os pacientes podem estar em risco.

Usando um gráfico de cores simples, o aplicativo rapidamente mostra aos profissionais clínicos o status das ações que precisam ser tomadas em uma base regular para evitar danos: vermelho para as ações atuais, amarelo para a próxima e verde para completar.

Famílias e pacientes engajados

Além disso, o aplicativo Emerge também visa criar um ambiente de UTI para pacientes e famílias em uma experiência menos intimidante. A equipe desenvolveu um aplicativo especificamente para pacientes e famílias disponíveis em um tablet ao lado da cama. Esta tecnologia capacita essas pessoas para fazer perguntas diretamente à equipe de cuidados médicos, fornecer detalhes sobre seus objetivos de cuidados e aprender mais sobre cada uma das máquinas e monitores na sala de UTI.

O aplicativo também inclui um menu de envolvimento da família, onde os os familiares podem escolher entre 10 atividades de cuidados diários que desejam ajudar o pessoal clínico, como, por exemplo, escovar os dentes ou lavar o cabelo do seu membro da família. As famílias também podem fazer upload de fotos e listar a música favorita do paciente e programas de televisão para ajudar o pessoal a conhecer cada paciente em um nível pessoal.

Embora isso seja novo para os cuidados de saúde, é rotineiro em outros campos complexos e de alto risco. É o domínio da engenharia de sistemas, um campo que tem contribuído para conquistas inacreditáveis, como o envio de uma nave espacial em uma viagem de nove anos para Plutão e a concepção de um submarino nuclear.

Os pesquisadores de segurança do paciente e profissionais da Johns Hopkins Medicine fizeram parceria com engenheiros de sistemas e integradores de sistemas do Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins (APL) para desenvolver o projeto. A equipe da APL orientou pacientes, familiares, clínicos e pesquisadores de quase 20 disciplinas médicas através de um processo exaustivo de definir os objetivos, entender as prioridades, listar as funções que o sistema deve desempenhar e determinar medidas de sucesso.

De início, essas discussões levaram os pesquisadores a definir o objetivo de reduzir pelo menos sete dos mais comuns e graves danos evitáveis enfrentados por pacientes de UTI. Eles incluíam cinco danos clínicos, como infecções e complicações hospitalares, além de dois “danos sociais”: falta de respeito e desalinhamento do cuidado com os objetivos do paciente. Mais para frente, o objetivo é aumentar essa gama de eventos evitáveis.

Engenharia de sistemas

O Emerge demonstrou que a abordagem de engenharia de sistemas pode ajudar a reduzir os danos específicos, mas há muitos outros objetivos que ela poderia ajudar a corrigir – como por exemplo, melhorar a produtividade, melhorar a experiência do paciente, melhorar a gestão do leito e melhorar a transição dos cuidados entre os prestadores.

Esforços como este poderiam acelerar a demanda de soluções inovadoras, e incentivar que fabricantes de tecnologias para o mercado de cuidados de saúde estivessem dispostos a deixar seus produtos “conversarem” uns com os outros. De um modo geral, eles não fazem isto atualmente. Embora pudéssemos integrar dados de várias fontes no Emerge, o trabalho era altamente técnico e intensivo em mão-de-obra. Mais inovação poderia ocorrer em todos os cuidados de saúde, e os cuidados de saúde se tornariam menos fragmentados, se as tecnologias compartilhassem informações mais prontamente.

“Esperamos que nossa experiência lhes dê mais uma razão para fazê-lo”, defende os autores.

Leia mais em Johns Hopkins quer redesenhar as unidades de saúde.

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