Gestão e Qualidade | 20 de junho de 2020

Com 90% de leitos Covid-19 ocupados, Hospital Conceição traça estratégias para evitar “colapso”

Diretor Francisco Paz acredita que RS começará a trabalhar no "limite"
Com 90% de leitos Covid-19 ocupados, Hospital Conceição traça estratégias para evitar “colapso”

O sistema hospitalar gaúcho está em alerta. A chegada do inverno e o avanço do número de casos da Covid-19 no estado estão fazendo com que hospitais, entidades e o poder público observem se a capacidade do sistema de saúde do estado será efetiva na resposta ao aumento de casos, principalmente aos com quadros mais graves. Para evitar um possível colapso no sistema de saúde, o Governo do Estado do RS habilitou novos leitos de UTI Adulto SUS – após o início da pandemia, foram habilitados mais 624 Leitos de UTI Adulto SUS no RS. Além desses, o Governo informa que outros 33 leitos estão prontos e aguardam habilitação pelo Ministério Saúde para começarem a operar – com isso, o Rio Grande do Sul somará 1.590 UTIs públicas, alcançando uma ampliação de 70,4% da capacidade. O Governo do RS divulga os dados neste site.

Porto Alegre provavelmente entrará em bandeira vermelha

Mesmo com a oferta de leitos aumentando, a taxa de ocupação de leitos de UTI está chegando próximo ao limite em muitas instituições hospitalares. Na sexta-feira (19), Porto Alegre atingiu a maior ocupação desde o início da série – 89 pacientes confirmados e 23 suspeitos.

No sábado (20), o governador Eduardo Leite, disse que as regiões Porto Alegre, Canoas, Novo Hamburgo, Capão da Canoa e Palmeira das Missões poderão passar para a bandeira vermelha. A decisão definitiva será anunciada na segunda-feira (22), após o período disponibilizado pelo Piratini para recurso dos municípios atingidos pelas mudanças. “Não poderemos ficar assistindo a este crescimento consistente na ocupação de leitos”, justificou Leite, em transmissão pelo internet neste sábado. O governador ressaltou que a proximidade da 27ª semana epidemiológica, que historicamente tem alta demanda por leitos e atendimentos em função de doenças respiratórias a partir do início do inverno, é fator importante para a tomada de decisão em relação ao endurecimento das restrições. A previsão é que a situação possa se agravar a partir de 1º de julho, em todo o Rio Grande do Sul, não apenas em Porto Alegre.



Hospital Conceição

O Hospital Conceição, pertencente ao Grupo Hospitalar Conceição (GHC), é instituição de referência no RS para atendimentos da Covid-19 pelo SUS – juntamente com o Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Atualmente, 90,7% dos leitos de UTI do Conceição estão ocupados – 68 dos 75 disponíveis. Dos 29 leitos de UTI disponíveis para pacientes com Covid-19, 26 já estão ocupados (atualização do dia 20 de junho às 16h10).

O Portal Setor Saúde conversou com o diretor técnico do GHC, Francisco Zancan Paz, sobre o avanço da Covid-19 em Porto Alegre, as perspectivas e ações planejadas pela instituição para lidar com a lotação de leitos e um possível colapso do sistema hospitalar do RS. Confira:

Avanço da Covid-19 no RS

O diretor técnico analisa que está aumentando o número de atendimentos de pacientes com Covid-19 e também de outras comorbidades. De acordo com Francisco Paz, 90% dos leitos de UTI já estão ocupados no Hospital Conceição – mesmo índice observado na análise exclusiva de leitos para coronavírus, com 26 dos 29 leitos já ocupados.


“É importante ressaltar que nossas Emergências estão registrando aumento maior de demandas, tanto de Covid quanto casos não Covid. A nossa UPA (Moacyr Scliar) aumentou consideravelmente o atendimento, a central de triagem também – quinta-feira, tivemos mais de 100 atendimentos, quando tínhamos em média de 50 a 60”, detalha.


Perspectiva de aumento e estratégias estudadas

Para o diretor técnico, o aumento de internações observado segue a tendência do inverno gaúcho, em que a capacidade de atendimentos do GHC chega próximo ao limite. “Com o inverno chegando, essa tendência é de se manter ou até aumentar, por casos de Covid e não Covid. A perspectiva é que, nos próximos dias, possamos ter mais dificuldades, maior tensão por causa da maior procura. A tendência é que o Hospital fique lotado, como sempre fica no inverno”, avalia.

Transformação de leitos não Covid e uso do Hospital Cristo Redentor

Com a preocupação de esgotar a capacidade de leitos para Covid-19, a diretoria do GHC estuda a possibilidade de transformar leitos não Covid em leitos para atendimentos de pacientes com Covid. Entretanto, Paz ressalta que não há definição do número de leitos e, mais ainda, se será possível concretizar a estratégia – de acordo com ele, a definição ocorrerá nos próximos dias. “Precisamos de áreas físicas adequadas e equipes técnicas em condições de treinamento”, explica.

O diretor técnico, no entanto, afirma que, na próxima semana, serão abertos 10 novos leitos não Covid no Hospital Cristo Redentor, que auxiliarão na retaguarda para o movimento no Hospital Conceição.

Cenário de esgotamento

Paz acredita que, se as 174 vagas de leitos disponíveis para Covid-19 forem ocupadas, possam ser habilitadas estratégias como o remanejo de leitos de UTI em instituições como a Santa Casa e o Hospital Vila Nova. Ele ainda salienta que atendimentos nos hospitais Independência e Santa Ana estão sendo importantes para a retaguarda, ajudando a desafogar as enfermarias de instituições que atendem casos de coronavírus.

Procedimentos eletivos

“Somos instados a aumentar os atendimentos dos procedimentos eletivos, que estavam paralisados. Estamos tentando retomar os procedimentos, no [Hospital] Fêmina e no [Hospital] Cristo Redentor, por exemplo. Já no Hospital Conceição, estamos retomando com muito cuidado, porque o atendimento eletivo toma conta dos espaços hospitalares”, ressalta.

Contratações temporárias

O diretor técnico afirma que, da liberação do Governo Federal de 1500 contratações temporárias até dezembro, já foram realizadas 600 até o momento. O afastamento de servidores é um dos principais fatores para o aumento das contratações – de acordo com Paz , cerca de mil servidores foram afastados em abril e cerca de 280 estão afastados, seja em função de serem do grupo de risco, como por suspeita ou infecção por Covid.

Uso de EPIs e disponibilidade de medicamentos

Paz cita que ocorreram alguns focos de infecção de coronavírus em algumas equipes, mas ressalta que as medidas de prevenção estão sendo redobradas. Aproximadamente 40 funcionários tiveram testes positivos no GHC desde o início da pandemia. O diretor técnico cita que são realizados testes em funcionários sintomáticos e seus contatos próximos e recentes.

De acordo com Paz, no momento não há problema no abastecimento de EPIs e medicamentos, que motivou preocupação em todo o Brasil logo no início da pandemia. “Se antes havia uma situação de preocupação com demanda de EPIs, hoje a situação é para obrigar todos os funcionários a usar os EPIs de forma adequada. Temos uma forte campanha de conscientização para os nossos técnicos. No início, houve um avanço nos nossos estoques, agora está sobrando EPI para distribuirmos com tranquilidade”, analisa.

Situação no RS: “Vamos trabalhar nos nossos limites”

“Possivelmente, não vamos chegar em uma situação calamitosa no Rio Grande do Sul, mas que vamos trabalhar nos nossos limites, acredito que sim”, avalia Francisco Paz.



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