Estatísticas e Análises | 10 de julho de 2018

Cetamina: divulgadas primeiras diretrizes para tratamento de dor aguda

Documento visa explicar quando o tratamento com a substância deve ser realizado
Cetamina divulgadas primeiras diretrizes para tratamento de dor aguda

As evidências apontam para o uso de cetamina via intravenosa (IV) no tratamento da dor aguda em diversas situações, tanto como tratamento único quanto em conjunto com opioides. Também há evidências, embora menores, para o uso em formulação intranasal. Estas informações fazem parte do primeiro guia de diretrizes para o uso de cetamina no tratamento da dor aguda, publicadas no dia 7 de junho no periódico Regional Anesthesia and Pain Medicine.

Recentemente, a cetamina foi assunto por seu potencial uso no tratamento da depressão grave e na síndrome do estresse pós-traumático. O seu uso também tem aumentado no tratamento da dor aguda, tanto no âmbito da internação quanto em consultório.

Um impulso importante para o uso da cetamina é o crescente esforço para reduzir o risco de uso prolongado de opioides e suas possíveis complicações, como a dependência química. Mesmo assim, até agora, poucas diretrizes estavam disponíveis para guiar esta modalidade terapêutica emergente.

“O objetivo deste documento é oferecer um guia estruturado para médicos, instituições e fontes financiadoras sobre o uso de cetamina na dor aguda. Por exemplo, quem deve receber e quem não deve receber este tratamento”, disse ao Medscape o autor do guia, Dr. Steven Cohen, da Johns Hopkins School of Medicine.

Diminuição da demanda por opioides

O desenvolvimento das diretrizes para o uso de cetamina para dor aguda foi um trabalho conjunto liderado pela American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine e pela American Academy of Pain Medicine, que aprovaram o documento, assim como fizeram os comitês de medicina da dor e de normas e parâmetros da American Society of Anesthesiologists.

Segundo as diretrizes, infusões de cetamina em doses subanestésicas podem ser usadas em pacientes cirúrgicos com dor, e em pacientes cirúrgicos dependentes de opioides ou tolerantes a eles.

Outros usos previstos são para pacientes com dor aguda ou crônica devido à anemia falciforme que são dependentes de opioides ou tolerantes a eles, e pacientes com apneia do sono. Neste último caso, a cetamina é uma terapia concomitante para limitar o uso de opioides.

O uso de cetamina em doses subanestésicas “explodiu, e definitivamente parece que há um forte sinal da efetividade dela para dor aguda, e muitos pacientes não têm outra opção”, comentou o Dr. Cohen.

A cetamina deve ser evitada em grávidas e em indivíduos com doença cardiovascular não controlada ou psicose ativa. No caso de disfunção hepática, as evidências indicam que a infusão de cetamina deve ser evitada em indivíduos com doença grave, e o uso deve ser feito com cuidado – monitoramento da função hepática antes e durante a infusão – em caso de doença moderada. A cetamina deve ser evitada em indivíduos com pressão intracraniana ou intraocular elevada.

Droga “poderosa e barata”

Segundo as diretrizes, o uso intranasal de cetamina é benéfico para o tratamento da dor aguda, causando não apenas analgesia como também amnésia e sedação durante o procedimento. Isto pode ser útil na realização de procedimentos em indivíduos de difícil acesso venoso e em crianças.

Para o uso oral da cetamina, a evidência “é menos forte, com estudos pequenos e relatos informais sugerindo que ela pode oferecer benefício de curto prazo para alguns indivíduos com dor aguda”, dizem os autores.

Eles encontraram evidência limitada favorecendo a analgesia controlada pelo paciente com cetamina intravenosa como único analgésico para dor aguda ou perioperatória. Contudo, existe evidência moderada sobre o benefício do uso conjunto da cetamina e opioide na analgesia IV controlada pelo paciente para tratamento da dor aguda e perioperatória.

Os autores concluem que apesar dos seus problemas, a cetamina continua sendo uma droga poderosa e barata para os médicos que tratam dor aguda. “Acreditamos que o uso continuará a se expandir, pois mais instituições lidam com pacientes cada vez mais complexos, tanto no período perioperatório, quanto nas exacerbações de doenças álgicas. Tudo isso enquanto vivemos em um período de combate à epidemia de opioides”, concluem.

Eles acrescentam que mais pesquisas são necessárias para “refinar o critério de seleção para o tratamento da dor aguda e possivelmente na prevenção da dor crônica, para determinar a dose ideal e o regime de tratamento, incluindo o uso concomitante da cetamina com opioides. Precisamos também saber mais sobre os riscos do uso prolongado da cetamina em pacientes que recebem tratamentos em série devido à piora frequente da dor aguda”, ressaltam.

 

Com informações do Medscape. Edição do Setor Saúde.

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