Estatísticas e Análises | 28 de setembro de 2016

Biópsia única é insuficiente para orientar decisões sobre tratamento de câncer de próstata

Estudo mostra que, na maioria dos casos que envolvem múltiplos tumores, os mais agressivos não são detectados
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Enquanto a maioria dos casos de câncer de próstata se desenvolve de forma lenta e não fatal, alguns são agressivos e letais. O mapeamento genético pode ajudar a prever a agressividade de um tumor e projetar um tratamento sob medida. No entanto, como mostrou um estudo da Cleveland Clinic (EUA), “na maioria dos casos que envolvem múltiplos tumores da próstata, apenas o maior tumor é geralmente detectado – resultando em tumores potencialmente mais agressivos que não são vistos”.

Em artigo na revista European Urology, uma equipe de pesquisa liderada pela Dra. Hannelore Heemers, do Instituto de Pesquisa Lerner, da Cleveland Clinic, e pelo médico James Mohler, presidente do Departamento de Urologia no Instituto Roswell Park Center, demonstrou que quando as identificação genética é feita com apenas uma única amostra de tumor, um tumor menor e mais agressivo poderia ficar despercebido.

“A descoberta ressalta a importância de novas evidências de que os tumores de próstata podem ser geneticamente diferentes no mesmo paciente, o que acarreta implicações importantes para os pacientes e oncologistas”.

Para o estudo, denominado Heterogeneidade Genética Intratumoral e Intertumoral de Câncer de Próstata Multifocal Localizado Impacta a Classificação Molecular e Prognósticos Genéticos (Intratumoral and Intertumoral Genomic Heterogeneity of Multifocal Localized Prostate Cancer Impacts Molecular Classifications and Genomic Prognosticators), a equipe usou técnicas de sequenciamento de última geração para apontar o genótipo de tumores da próstata a partir de quatro homens submetidos à prostatectomia radical no Roswell Park Center. “Os pesquisadores também examinaram dados públicos do Cancer Genome Atlas para confirmar as descobertas”.

Dra. Heemers diz que a equipe examinou “a composição molecular de tumores cancerígenos heterogêneos na próstata dos pacientes. Encontramos uma série de diferenças genéticas entre estes tumores, e concluímos que a informação a partir de uma única biópsia de câncer não é suficiente para orientar as decisões de tratamento”, alertou. “O tratamento preciso é mais complicado e os resultados demonstram uma falha no atual modelo de impressão genética no câncer de próstata”.

Segundo o Dr. Mohler os cânceres de próstata de alto risco “diferem geneticamente entre os pacientes, entre os diferentes tumores de um único paciente e até mesmo dentro de diferentes seções de um único tumor”, destacou. “Os médicos precisam ter cuidado sobre como usar a informação de um teste baseado em genes, porque a análise pode não ter sido realizada na parte mais agressiva do câncer de próstata de um homem”.

Em um editorial publicado também na European Urology, chamado “Desfazendo o status quo do diagnóstico de câncer de próstata” (Disrupting the Status Quo in Prostate Cancer Diagnosis), o médico Alastair David Lamb, da Cambridge University Hospitals, considerou como impressionantes vários aspectos deste estudo. “Abordou uma importante questão clínica e molecular: Qual o efeito que a heterogeneidade do tumor tem sobre a tomada de decisões no câncer de próstata, especificamente em relação à taxonomia molecular da doença?”, enalteceu.

Os autores do estudo observam que o uso da análise genômica para personalizar planos de tratamento está em em um estágio inicial e muitos estudos mais amplos serão necessários para que sejam desenvolvidas ferramentas de prognóstico de última geração que possam ser usadas para orientar a escolha do tratamento e planejamento para os homens com câncer de próstata.

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