Asco 2024: estudos brasileiros recebem destaque no maior congresso mundial de oncologia
Pesquisadores levam para os palcos do evento análises sobre os comportamentos da doença entre a população nacional e avaliação de condutas que podem mudar os protocolos globais de tratamento.
Com forte presença brasileira e apresentação de pesquisas, inovações e discussões sobre oncologia, a ASCO (Encontro Anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica), maior congresso de oncologia do mundo, que acontece em Chicago, nos Estados Unidos, reúne entre os dias 31 de maio e 4 de junho mais de 50 mil médicos e especialistas dedicados ao tratamento do câncer. E, como ocorre todos os anos, as expectativas por estudos que devem impactar mudanças nas práticas clínicas em todo o mundo são altas.
“A ASCO é o maior congresso e maior evento de oncologia do mundo. Acontece nos EUA e é coordenado pela Sociedade Americana de Oncologia Clínica. Neste ano temos uma participação relevante do Brasil, a maior dos últimos anos. A Oncoclínicas, a exemplo disso, conta com mais de 100 especialistas presentes, com um recorde de apresentações orais do grupo, artigos e posters publicados. Isso traz uma relevância para a oncologia do Brasil, no cenário mundial, e a importância da América Latina no contexto de combate ao câncer”, diz a oncologista Mariana Laloni (foto abaix0), diretora médica técnica da Oncoclínicas&Co.
Entre os aspectos destacados por ela, está a reciprocidade com a comunidade internacional, promovendo trocas de ideias, pipelines de pesquisas, interações sobre discussões de novos tratamentos e de sustentabilidade. “Vários temas são importantes, incluindo a atualização de mudanças de paradigma de tratamento e a incorporação de novas drogas, assim como fatores ligados à farmacoeconomia e à sustentabilidade do setor de saúde. Esses são alguns dos pilares que a gente acompanha no congresso que impactam diretamente a vida dos pacientes”, enfatiza a médica.
Outra linha abordada pela ASCO que vem ganhando merecido espaço e destaque são os Cuidados Paliativos e o chamado Survivorship. “Há duas décadas, no início dos anos 2000, os profissionais tinham menos consciência e treinamento para essa abordagem. Essa mudança de paradigma é uma ponte de grande relevância quando pensamos na jornada do paciente”, comenta a Clarissa Mathias (foto abaixo), oncologista e pesquisadora da Oncoclínicas&Co e primeira mulher brasileira a compor o time global da ASCO, atuando como integrante da diretoria internacional da entidade.
Para ela, desenvolver formas de tratar pessoas com doenças avançadas e que, em alguns casos, de fato ainda são incuráveis significa dar a essas pessoas a chance de viver anos com qualidade. “E não podemos ignorar as sequelas físicas e psicológicas que seguem mesmo após o fim dos tratamentos. A reinserção dos pacientes na sociedade em todos os aspectos é fundamental e nossa responsabilidade também, estando entre os pontos de vista a serem abordados em inúmeras sessões nesta edição do congresso”, completa Clarissa, que, além de participar da comissão responsável pela programação científica do evento, também presidirá um Simpósio Clínico Científico sobre Câncer de Pulmão na ASCO 2024.
Vivendo com o câncer
Pesquisas com foco no cuidado integral ao paciente oncológico têm especial relevância na programação por dialogar diretamente com o tema do congresso em 2024: “A Arte e a Ciência do Cuidado do Câncer: Do Conforto à Cura”, que busca focar, entre outros temas, nos avanços não só científicos, mas também em terapias de suporte para uma melhor qualidade de vida, do diagnóstico ao desfecho.
Em linha com essa visão, Cristiane Bergerot (foto acima), líder nacional de especialidade equipe multidisciplinar da Oncoclínicas, levará para os palcos da ASCO a apresentação oral do estudo “Qualidade de vida de pacientes idosos com câncer metastático no Brasil: Uma intervenção de avaliação geriátrica e cuidados de apoio baseada em telemedicina (GAIN-S)” (ABSTRACT #: 1514), 100% nacional, que testou a eficácia de um programa de avaliação geriátrica via telessaúde, integrada a intervenções psicossociais, para pessoas a partir de 65 anos com doença metastática. “Nesse estudo, demonstramos que este programa melhora a função física do paciente, reduz sintomas depressivos, melhora a qualidade de vida, e auxilia no enfrentamento do diagnóstico, tratamento e prognóstico”, explica. Os resultados dessa avaliação fazem parte da seção “Desafios e Oportunidades na Prestação de Cuidados Oncológicos Globais”, que acontece no dia 2 de junho.
Com isso, a área de Oncogeriatria, aponta Cristiane, é um dos destaques da ASCO deste ano. “O envelhecimento da população está diretamente ligado ao aumento no número de casos de câncer, e muitas vezes esses pacientes chegam a um estágio que requer uma assistência integrada e focada nas reais necessidades. Essa é uma área que se torna cada vez mais importante e presente no debate. Além disso, iremos iniciar um outro estudo, de fase 3, com o intuito de avaliar a eficácia desse programa para pacientes com 65 anos ou mais, com início previsto de tratamento oncológico. É fundamental entender como melhorar a qualidade de vida e o enfrentamento da doença para proporcionar melhores prognósticos”, explica.
Além dessa pesquisa, um outro estudo da Oncoclínicas, realizado pelo oncologista Paulo Bergerot, avaliou o impacto de um programa remoto e supervisionado de atividades físicas para pacientes em tratamento oncológico (ABSTRACT #: 1623 / POSTER BD #: 494). A análise sinaliza uma melhora considerável dos sintomas relacionados ao tratamento e à doença, além de uma melhora significativa da qualidade de vida. “Um dos desafios aqui no Brasil é oferecer esse tipo de suporte sem depender de uma estrutura de academia, o que reflete em políticas para melhorar o acesso, um dos nossos gargalos sociais. As pesquisas que apresentaremos nesta edição da ASCO comprovam que, com medidas simples, podemos amplamente contribuir para a melhoria do prognóstico geral dos pacientes, resultando em impactos positivos na redução dos custos totais gerados pela doença para os sistemas de saúde público e privado”, enfatiza Cristiane.
Mucosite: laserterapia traz resultados relevantes
A estomatologista Renata Ferrari (foto abaixo), líder nacional da especialidade na Oncoclínicas&Co, mostrará as respostas de uma experiência brasileira de sucesso baseada no uso da laserterapia na redução do risco de mucosite – uma inflamação que ocorre como efeito colateral do tratamento oncológico, causando feridas dolorosas no interior da boca – em pacientes com câncer de cabeça e pescoço. Os resultados foram comparados com os descritos na literatura, indicando uma redução relevante de aproximadamente 20% na ocorrência de casos.
“Com base nos resultados da análise, fica claro que a terapia com laser profilático desempenhou um papel crucial na redução significativa da incidência de mucosite nesse perfil de pacientes em comparação com os controles históricos. Esta descoberta é especialmente promissora, considerando-se que a mucosite afeta algo em torno de 70% a 90% dos pacientes submetidos à quimioterapia e/ou radioterapia nesta parcela da população oncológica. Além disso, a adesão dos pacientes ao regime de terapia a laser foi impressionante, com 90% deles seguindo todas as sessões prescritas”, explica Renata.
O estudo (ABSTRACT #: 12120 / POSTER BD #: 259), que contou ainda com a colaboração de William Nassib William Jr e Cristiane Bergerot, aponta adicionalmente que mesmo nos pacientes que desenvolveram a condição, a gravidade foi reduzida. Segundo os dados apurados, a partir da adoção do protocolo desenhado pelos especialistas com uso de laserterapia, uma parcela muito reduzida dos pacientes apresentou estágios da mucosite em que os sintomas apresentam gravidade, podendo levar à internação e à deterioração da saúde.
“A incidência de mucosite de grau 3 e grau 4 foi reduzida para 28%, um marco significativo no tratamento desta condição debilitante. Esses resultados destacam a eficácia e o potencial da terapia com laser como uma intervenção preventiva valiosa para a mucosite em pacientes com câncer de cabeça e pescoço”, ressalta a autora principal da análise.
A abordagem promissora deve seguir para novas etapas, com uma investigação mais aprofundada por meio de ensaios clínicos randomizados, reforçando a necessidade de sua inclusão como uma opção terapêutica padrão.
Pulmão: estudos sobre diferentes tipos tumor são destaques
O tipo de câncer que mais mata no mundo, o de pulmão, mereceu especial atenção dos oncologistas nas últimas décadas e, nesta edição da ASCO, abstracts com avanços serão apresentados em diferentes painéis. William Nassib William Jr (foto abaixo)., líder nacional da especialidade tumores torácicos da Oncoclínicas&Co, cita entre as mais importantes o uso da tecnologia como aliada. “Uma das boas notícias do congresso é sobre cuidados paliativos via telemedicina introduzido para pacientes com câncer de pulmão de maneira precoce, sinalizando efeitos positivos que nos ajudam a moldar práticas clínicas mais efetivas”, comenta.
Na linha de medicações, o médico sinaliza duas análises relevantes baseadas no uso de imunoterápicos e drogas alvo direcionadas. “Um estudo relevante aborda uma imunoterapia que é dada para pacientes com câncer de pulmão de pequenas células, com doença limitada. Neste caso, a gente já usava imunoterapia para doença extensa e agora teremos dados apresentados de que em casos potencialmente curáveis a imunoterapia pode ser uma opção viável”, diz William William, que participará da sessão de resumo oral sobre o tema “Podemos aumentar o benefício da imunoterapia no câncer de pulmão de células não pequenas?”, parte da agenda de sessões orais do dia 31/05.
Pesquisa inédita traça perfil das variantes brasileiras do câncer de mama hereditário
Um dos tipos de tumores mais comuns entre as mulheres, as pesquisas em diagnóstico, tratamento e cuidados para o câncer de mama avançam ano a ano. Dados mundiais mostram que 5-10% dos casos de câncer de mama têm uma causa genética herdada, sendo que a metade desses casos estão associados com genes BRCA1 e BRCA2. Essa prevalência varia de acordo com a idade ao diagnóstico oncológico, raça, etnia, região demográfica e o subtipo de câncer de mama.
Um estudo retrospectivo liderado pela Oncoclínicas&Co no período de 2019 a 2023 avaliou a prevalência de variantes patogênicas e de significado incerto em genes de alta e moderada penetrância em pacientes com Câncer de mama que realizaram painel genético no laboratório Oncoclínicas Medicina de Precisão. A prevalência foi analisada na população geral e em subgrupos de idade e subtipo de câncer de mama.
Foram analisados 2208 pacientes, sendo a maioria pacientes do gênero feminino (99%), da região sudeste (80%), com idade menor/igual a 50 (60%) e com uma idade mediana de 47 anos. “Essa é a maior de coorte de dados brasileiros nesse cenário. A prevalência de variantes patogênicas (mutações) em genes de alta e moderada penetrância para câncer de mama foi de 10%, sendo 6% em BRCA1 e 2 e 40% em genes adicionais”, destaca Leandro Jonata (foto abaixo), oncologista da Oncoclínicas e principal autor do estudo.
Os achados indicam ainda que a taxa de mutações foi maior em pacientes abaixo dos 50 anos (12%) e com câncer de mama triplo negativo (14%). “Destacamos a prevalência de 15% em pacientes abaixo dos 35 anos e 17% em pacientes com câncer de mama triplo negativo abaixo dos 40 anos. Os principais genes com variantes patogênicas foram BRCA2, BRCA1, TP53 e PALB2. Já a variante R337H correspondeu a 80% das variantes no gene TP53. E a prevalência de variantes de significado incerto foi de 20%, sendo ATM, NF1, BRCA2 e CHEK2 os principais genes associados”, diz.
Os dados corroboram as estatísticas internacionais referente a prevalência de mutações em genes de alta e moderada penetrância.
Tumor de pênis: avanços em qualidade de vida
O congresso deste ano vai contar ainda com a apresentação oral dos dados do estudo Hércules(Abstract #5009), desenvolvido pelo Latin American Cooperative Oncology Group (LACOG), com foco em câncer de pênis – um tumor raro e de difícil tratamento, com poucos dados de estudos clínicos.
“Essa é uma pesquisa que foi desenvolvida combinando quimioterapia com imunoterapia. Vale lembrar que por aqui, o câncer de pênis representa 2% de todos os tipos que atingem os homens, uma alta incidência se comparado a outros países do mundo e que está relacionada a fatores como infecção pelo vírus HPV e também má higiene”, explica Denis Jardim (foto acima), líder nacional de especialidade tumores urológicos da Oncoclínicas.
O Brasil soma altas taxas de amputações do órgão e também óbitos – em 2023 o país registrou 651 amputações (totais e parciais) de pênis e 454 óbitos em decorrência da doença.
Oncoclínicas na ASCO 2024
Assim como em outros anos, a Oncoclínicas&Co, um dos maiores grupos especializados no tratamento do câncer da América Latina, é destaque na ASCO 2024 com 37 participações. A presença brasileira conta com apresentação oral e em pôsteres, e também em sessões como painelistas e debatedores.
“A pesquisa clínica e a educação são instrumentos essenciais para tornar a saúde acessível a todos, independentemente dos limites territoriais. A Oncoclínicas vem avançando a passos largos para, de fato, contribuir nessa equação. Nesta edição da ASCO, contaremos com uma delegação de mais de 100 especialistas, que compartilharão conhecimento com a comunidade oncológica mundial na busca pelas melhores alternativas de cuidado para vencer o câncer”, afirma Bruno Ferrari(foto abaix0), fundador e CEO da Oncoclínicas&Co.
Além disso, pela primeira vez a companhia contará com um stand na área de expositores do evento, um espaço dedicado a compartilhar avanços científicos e promover a interação direta com principais tomadores de decisão e influenciadores do setor. “O fortalecimento da nossa presença na ASCO 2024 é mais um passo que possibilita a formação de parcerias que podem acelerar o desenvolvimento e a implementação de novas frentes de combate à doença, beneficiando amplamente os nossos pacientes”, finaliza.