Anvisa aprova uso de dostarlimabe para primeira linha de tratamento de pacientes com câncer de endométrio
“A vinda da imunoterapia transformou o cuidado das pacientes com câncer de endométrio. Começamos a falar de um excelente controle de doença e de um ganho de sobrevida de forma robusta", explica Mariana Scaranti, líder nacional de Tumores Ginecológicos da Dasa Oncologia.A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) anunciou a aprovação regulatória do dostarlimabe (Jemperli) para uso em primeira linha no tratamento do câncer de endométrio, tipo de câncer ginecológico. Em 2022, a terapia da biofarmacêutica GSK já havia recebido aprovação do órgão para o tratamento de pacientes em estágio avançado ou recidivado com deficiência de mismatch repair (dMMR) ou instabilidade de microssatélites (MSI-H) previamente expostas a um regime quimioterápico baseado em platina. O dostarlimabe é um anticorpo bloqueador do receptor de morte programada-1 (PD-1), que se liga ao receptor PD-1 e bloqueia sua interação com os ligantes PD-1, PD-L1 e PD-L2.5.
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Segundo a médica Mariana Scaranti, líder nacional de Tumores Ginecológicos da Dasa Oncologia, a aprovação é importante, pois a terapia representa um novo paradigma para pacientes que enfrentam o tumor de endométrio. “A vinda da imunoterapia transformou o cuidado das pacientes com câncer de endométrio. Começamos a falar de um excelente controle de doença e de um ganho de sobrevida de forma robusta. Por décadas, o tratamento do tumor foi baseado em quimioterapia isolada e felizmente, nossas estratégias de tratamento foram ampliadas”, explica.
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RUBY
Novos dados da fase III do estudo clínico RUBY trazem evidências positivas e apontam potencial para a terapia em mais pacientes com doença primária, avançada ou recorrente⁵. RUBY é um estudo de fase III global, randomizado, duplo-cego, multicêntrico, para pacientes com câncer endometrial primário avançado ou recorrente que investigou a eficácia e a segurança da associação de dostarlimabe à quimioterapia padrão no tratamento de primeira linha de pacientes com câncer de endométrio.
A Parte 1 do estudo de fase III RUBY investigou o dostarlimabe associado à quimioterapia padrão (carboplatina-paclitaxel) seguido de dostarlimabe em monoterapia em comparação com quimioterapia associada a placebo seguido de placebo. O principal objetivo foi avaliar quais pacientes com doença primária avançada ou recorrente podem ser beneficiadas com o tratamento à base de dostarlimabe mais quimioterapia.
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Na avaliação do grupo das pacientes com câncer de endométrio com deficiência de enzimas de reparo (dMMR) ou instabilidade de microssatélite (MSI-H) – uma alteração molecular do tumor que predispõe a melhor resposta à imunoterapia, os resultados são bastante expressivos. Estas pacientes apresentaram aumento da sobrevida livre de progressão da doença com redução de 72% de chance de aumento dos tumores ou morte.
Já na população total do estudo, foi observada redução de 31% no risco de morte e aumento de 16,4 meses na sobrevida global mediana observada com dostarlimabe mais quimioterapia versus quimioterapia na população em geral. O medicamento da GSK associado à quimioterapia é a única combinação imuno-oncológica que mostra benefício em sobrevida global clínica e estatisticamente significativa em uma população geral. A avaliação da sobrevida global é bastante significativa em estudos de oncologia porque este resultado representa as chances destas pacientes estarem vivas após o período avaliado em relação as pacientes que não fizeram o uso da medicação. Estes resultados também ampliam o uso para as pacientes que não possuem as alterações moleculares do tumor citadas acima.
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O RUBY faz parte de uma colaboração internacional entre a Rede Europeia de Ensaios Oncológicos Ginecológicos (ENGOT) e da rede de pesquisa da Sociedade Europeia de Oncologia Ginecológica (ESGO), que consiste em 22 grupos de ensaios em 31 países europeus que realizam pesquisas clínicas em cooperação.
Sobre o Câncer de Endométrio
O endométrio é o revestimento interno da cavidade uterina⁶. “É esse endométrio, que na mulher em idade fértil, se prepara para receber um embrião. E se não receber um embrião, parte desse endométrio descama na forma de menstruação. O caminho natural é que na pós-menopausa, esse revestimento interno do útero involua (regrida) em espessura. Nesta fase, a mulher tem o endométrio, mas ele tende para um caminho de atrofia”, explica Mariana.
Eventualmente o endométrio pode adotar um comportamento mais ativo após a menopausa. “Em uma situação de obesidade, por exemplo, em que há uma produção maior de estrogênio no tecido gorduroso, esse hormônio estimula o endométrio e ele começa a ficar mais proliferativo e espesso”. Em alguns casos, esse processo sai do controle e se torna um tumor. Ou seja, o câncer de endométrio é uma proliferação anormal deste revestimento interno da cavidade uterina. E ocorre tipicamente em mulheres no pós-menopausa⁷. Hoje, o principal fator de risco é a obesidade. Diferente de outros tumores, em que a expectativa é de redução nos casos, o tumor de endométrio tem uma previsão de crescimento global, principalmente, pela pandemia de obesidade.
O principal sintoma do tumor de endométrio é o sangramento uterino na pós-menopausa. “Para câncer de endométrio, não existe um exame eficaz para rastreamento. O sinal de que a mulher precisa procurar um ginecologista é o sangramento uterino no período do pós-menopausa⁹”, acrescenta Mariana. A grande maioria dos casos de tumor de endométrio são diagnosticados em estágio inicial. Segundo o Inca, são estimados cerca de 7 mil novos casos de câncer de endométrio por ano até 2025. As regiões Sul e Sudeste concentram cerca de 70% dos casos.