Gestão e Qualidade, Mundo | 27 de janeiro de 2017

Antibióticos (e não os hospitais) foram a principal causa de alarmante surto infeccioso na Inglaterra

Acusações contra hospitais, não comprovadas, motivaram a criação do custoso programa “limpeza profunda”
Antibióticos (e não os hospitais) foram a principal causa de alarmante surto infeccioso na Inglaterra

Um estudo divulgado somente agora, concluiu que o uso excessivo de antibióticos como ciprofloxacina levou ao surto de diarreia grave causada pela bactéria Clostridium difficile (C. difficile ou C. diff) que atingiu as manchetes dos veículos de comunicação no Reino Unido, há cerca de dez anos. O surto foi interrompido pela redução substancial do uso de ciprofloxacina e antibióticos relacionados. Primeiramente, autoridades, especialistas e mídia acusaram a falta do controle com a limpeza e falhas na adoção de protocolos por parte dos hospitais envolvidos.

Agora se sabe, que o uso inadequado e a generalizada prescrição de antibióticos como ciprofloxacina (fluoroquinolonas) causaram o surto. Estas preocupações disseminaram acusações envolvendo as superbactérias “superbugs” desenvolvidas nos ambientes hospitalares, que indicavam como causa a falta de limpeza. Esta teoria resultou no anúncio de um programa chamado de “limpeza profunda” (deep cleaning) e outras medidas de controle de infecção em todo o sistema de saúde britânico (National Health Service – NHS), em 2007.

Fluoroquinolona

O estudo conduzido pelas Universidades de Oxford e Leeds e divulgado na The Lancet Infectious Diseases no dia 25 de janeiro, verificou que os casos de C. difficile caíram apenas quando o uso de fluoroquinolona foi restrito e sua aplicação mais direcionada.

A restrição resultou no desaparecimento – na grande maioria dos casos – e uma queda de 80% no número dessas infecções no Reino Unido.

Co-autor do estudo, Mark Wilcox, professor de Microbiologia, da Universidade de Leeds, afirmou que “os resultados significam que agora entendemos muito mais sobre o que realmente levou a epidemia de infecção no Reino Unido pelo C. difficile em meados dos anos 2000″.

Surtos como o que afetou o Reino Unido têm se espalhado por todo o mundo, e por isso é plausível que o controle “antibiótico alvo” poderia ajudar a alcançar grandes reduções de infecções de C. diff em outros países. Os autores observam que é importante que uma boa higiene das mãos e controle de infecção continuem a ser praticadas para controlar a propagação de outras infecções.

Derrick Crook, professor de Microbiologia, Universidade de Oxford, disse: “Os aumentos alarmantes em infecções hospitalares do Reino Unido e as mortes causadas pelo C. difficile foram manchete em meados dos anos 2000 e levou a acusações de graves falhas no controle da infecção. Medidas de emergência, tais como ´limpeza profunda´ e cuidados na prescrição de antibióticos foram introduzidos e o número de C. difficile gradualmente caiu em 80%, mas ninguém tinha exatamente certeza do motivo. Nosso estudo mostra que a epidemia foi uma consequência não intencional do uso intensivo de uma classe de antibióticos, especificamente as fluoroquinolonas, e o controle foi conseguido através do controle no uso desta classe de antibióticos. Reduzir o uso de antibióticos como a ciprofloxacina foi, portanto, a melhor maneira de parar esta epidemia nacional de C. difficile e, demonstrou que a limpeza profunda, era uma rotina cara que se demonstrou desnecessária. No entanto, é importante que a boa higiene das mãos continue a ser praticada para controlar a propagação de outras infecções”.

“Essas descobertas são de importância internacional porque outras regiões como a América do Norte, onde a prescrição de fluoroquinolona continua a ser irrestrita, ainda sofrem com números epidêmicos de infecções do tipo C. difficile”, finalizou Derrick Crook.

Acesse o estudo em inglês.

VEJA TAMBÉM