Gestão e Qualidade | 9 de dezembro de 2013

Ana Amélia Lemos diz que saúde brasileira precisa ter “padrão FIFA”

Em evento da FEHOSUL, senadora destacou a importância de dar atenção ao setor das Análises Clínicas
Cenário das Análises Clínicas

No dia 29 de novembro a FEHOSUL realizou importante encontro com lideranças nacionais e estaduais da saúde no Hotel Sheraton. Uma das convidadas, expositora no turno da tarde, foi a senadora Ana Amélia Lemos, que tratou do Cenário Nacional das Análises Clínicas.

Para ela, o setor vive um momento muito delicado. “Talvez seja a área mais deprimida e sofrida da saúde pela defasagem de correção de tabela do SUS, de 19 anos. Só sobrevive quem tem muita coragem, porque realmente não é humano conseguir sobreviver financeiramente nessas condições”, considerou, no início de sua palestra.

Ana Amélia ressaltou que, apesar da mudança com a entrada na vida política, mantém sua antiga postura profissional. “Agradeço a oportunidade de participar do evento e digo: o que estou fazendo no Senado é o que aprendi no setor privado. Trabalhei 33 anos na mesma empresa, nessa transição estou fazendo a mesma coisa no Senado do que eu fazia na minha atividade como jornalista. Não recebi 3,5 milhões de votos gratuitamente, os gaúchos que acreditaram em mim tinham a percepção de que eu estava envolvida nos temas de interesse estadual. Na política, onde estou aprendendo a cada dia, é possível apresentar resultados muito rapidamente quando se tem disposição para fazer”.

A senadora acredita que as demandas ainda não recebem a devida atenção em Brasília. “As instituições que sobrevivem apenas com SUS, quando não há reajuste, estão sendo colocadas na UTI, porque não se tem mais fôlego. É preciso um olhar de maior respeito pelo setor que administra a saúde pública. Não foi em vão que a população foi às ruas. E se essas demandas não foram atendidas e continuarem reprimidas, as pessoas vão voltar”, alertou. “O meu conceito é atender a demanda para dizer sim, não, pode ou não pode. Não adianta bater nas costas e dizer que vai fazer. A classe política está muito desacreditada por conta dessas mazelas, não dar respostas adequadas às demandas da sociedade”, acrescentou.

Para ganhar credibilidade junto à população, a senadora destaca a relação de respeito que tem implantado em seu gabinete. “Nunca deixei de responder um email, isso é retorno. Posso não conhecer a pessoa, mas tenho que ver o que é possível fazer por aquele setor. Meu chefe de gabinete recebeu a entidade representativa dos laboratórios e analisamos qual era a saída para resolver o problema. Tem que dar visibilidade ao problema e, se ele já foi para o Executivo e não foi resolvido, você coloca a público, ganha visibilidade e cobra mais. Fizemos uma audiência pública na Comissão de Assuntos Sociais com uma brilhante exposição. Até agora não saiu nada, mas fizemos a nossa parte. Alguma coisa avançou, embora seja muito pouco, por isso continuei cobrando. Depois da Audiência, o Ministro da Saúde foi ao plenário falar sobre a saúde do Brasil, que é uma demanda das ruas. Ele não deu uma resposta nem politicamente adequada, nem do ponto de vista médico para a categoria”. Veja o vídeo do debate entre Ana Amélia e Alexandre Padilha aqui. “Há um problema pontual grave. Um exame de análises clínicas, com defasagem de quase 20 anos”, completou.

A senadora utilizou um termo atual, em alusão à Copa do Mundo e seus modernos estádios, para salientar a necessidade de melhora na saúde. “Tenho posição no aspecto de cobrar correções de tabela, que não vale apenas para os laboratórios de análises clínicas, que hoje a crise é maior, mas também aos hospitais. Há um preconceito lamentável no País com as questões do setor privado. Penso que precisamos conseguir, na saúde, o padrão FIFA. Isso se faz com disposição para colocar no setor não só palavras bonitas, relatórios, mas sim fazer as coisas, mostrar resultados efetivos. Nessa matéria o Rio Grande do Sul, em comparação com outros Estados, está bem pelo esforço de responsáveis por prosseguir esse trabalho, às vezes com muito sacrifício”.

Dedicada às questões da saúde, Ana Amélia lembra da importância de um trabalho em conjunto com as entidades. “Cheguei ao Senado em fevereiro de 2011 e fizemos várias audiências públicas. Fui provocada pela Sociedade Brasileira de Mastologia, pela Femama, que tem muito protagonismo, para discutir o câncer de mama. As mulheres se mobilizam e eu fico feliz de ver tantas cuidando da saúde das pessoas, seja como médicas, nas análises clínicas, como pesquisadoras, gerentes, pessoas que estão vivendo o problema nos hospitais ou nas enfermarias, nos planos de saúde. Naquele ano apresentei um projeto que era sugestão de uma ONG de São Paulo, propondo que a quimioterapia oral em domicilio fosse incluída no rol dos planos de saúde, já que na época só o SUS tinha essa obrigação. Sei que são medicamentos mais caros, e como há sobrecarga no SUS, é preciso compartilhar essa responsabilidade. Sou racional e não quero criar problema para as operadoras, mas quando se trata de saúde pública é preciso estar consciente e ser responsável para abordar o tema de maneira equilibrada. Fizemos uma análise do custo-benefício, para saber como ficaria essa situação, e vimos que não haveria problema maior. Podia reduzir um pouco a lucratividade do plano, mas minha responsabilidade é com a sociedade como um todo, então entendo que o fornecimento para o cliente deveria ser um direito. Em dois anos esse projeto, que tinha resistência natural dos planos, foi sancionado sem veto pela Presidente. É uma amostra clara de que, com empenho e disposição, dá para fazer”.

Outro tema defendido por Ana Amélia é o Ato Médico. “Fui defensora desde o começo. É a única categoria que não tem regulamentada a profissão. Lamentavelmente perdemos essa luta, e por isso sou agora favorável à abertura do voto para exame de veto, porque muita gente foi favorável, mas manteve o veto em coisas essenciais. Essa seria a hora da verdade, onde o parlamentar deveria manter a coerência, ou mostra que não tem segurança quando vota em algo”, ponderou.

“No Senado somos uma clínica geral, porque temos que tratar de medicina, educação, indústria, exportação. Precisamos entender um pouco de cada coisa e eu procuro fazer de um jeito eficaz. Acredito no ditado ‘água mole em pedra dura tanto bate até que fura’. Então, algum dia, esse problema tem que ser resolvido”, finalizou Ana Amélia

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