Estatísticas e Análises | 19 de março de 2016

A reputação do “bom colesterol” sob suspeita

Novo estudo questiona a vantagem de ter elevados níveis de HDL, o colesterol responsável pela "limpeza" das artérias
A reputação do “bom colesterol” sob suspeita

Um trabalho de pesquisadores da Universidade da Pensilvânia (EUA) questiona os benefícios da proteção do chamado “colesterol bom”. Os altos índices de HDL, popularmente conhecido como “colesterol bom”, até hoje foram uma garantia da saúde cardiovascular que compensava o aumento do LDL, ou “mau colesterol”.

 O estudo, publicado pela revista Science, descobriu que a causa desse paradoxo é uma mutação genética que impede que o HDL cumpra a sua missão de evitar o acúmulo do “mau colesterol” nas artérias. “É como se uma cidade não tivesse caminhões de lixo suficientes para remover os detritos, o que pode causar um acúmulo perigoso”, explicou Héctor Bueno, pesquisador no Centro Nacional de Pesquisas Cardiovasculares (CNIC) de Madri e cardiologista no Hospital 12 de Octubre, de Madri, ao jornal espanhol ABC.

A pesquisa mostra a complexidade do HDL e lança novas dúvidas sobre as vantagens de ter um alto índice de bom colesterol, um princípio em que se baseiam muitas recomendações nutricionais para evitar doenças cardiovasculares.

Os níveis de colesterol atualmente considerados saudáveis ficam em torno de 100-120 para o LDL, e 50 a 55 para o HDL. Para manter estes números, é aconselhado o consumo de castanhas, nozes, ou peixes como salmão, sardinha ou atum.

O colesterol é um tipo de gordura essencial para o organismo, necessário para a produção de novas células, sais biliares, vitamina D e de hormônios esteróides – como testosterona e progesterona.

Segundo dados do Instituto do Coração (Incor), de São Paulo, cerca de 614 mil brasileiros têm colesterol alto, sendo que 90% sequer sabem disso. Por ignorarem a condição metabólica, é provável que uma parte dessas pessoas passe anos consultando médicos sem ter solução para seu colesterol alto. Enquanto isso, o processo de aterosclerose no organismo, acelerado pela doença, irá evoluir mais rapidamente que o comum, aumentando de 10 a 20 vezes o risco de obstruções nas veias e artérias do coração (infarto) e do cérebro (AVC).

Evidências ignoradas por décadas

Para José Ordovás, diretor de Nutrição e Genética na renomada Universidade Tufts (EUA), as recomendações nutricionais tradicionais dependem do paciente. O especialista – que participou do estudo – acredita que é necessário terminar com esse conceito simplista.

“A reputação de bom colesterol vem de estudos epidemiológicos observacionais com todos os problemas de interpretação envolvidos. No entanto, se manteve um conceito simplista nos últimos 40 anos. Em 1980 foi descoberta na Itália, uma mutação genética que reduz o colesterol bom e, paradoxalmente, protegia da doença cardiovascular, o que deveria, já então, ter abalado a reputação do bom colesterol, mas não se fez muito e os pesquisadores escolheram ignorar essa evidência sólida e sinal de alarme de que as coisas não eram tão simples como a epidemiologia havia sugerido”.

Passados 20 anos, seguiram surgindo resultados semelhantes, e com pesquisas usando técnicas genéticas mais sofisticadas, foi demonstrado que os níveis de HDL dizem muito pouco sobre o risco cardiovascular. “Em resumo, em poucas décadas sabemos que os níveis de colesterol bom não são informativos, mas continuaram a serem usados como uma medida de risco” critica o Dr. Ordovás.

Artérias mais limpas

A função mais conhecida do HDL é transportar o excesso de colesterol das artérias para o fígado. Mas uma pessoa ter níveis baixos de colesterol pode significar tanto que esse transporte funciona bem quanto mal. José Ordovás dá um exemplo:

“Se em uma estrada coletamos uma imagem em um momento com poucos carros, não sabemos se há poucos carros circulando, ou se estão se movendo muito rápido. Ou seja, uma pessoa pode medir os níveis de colesterol bom em um determinado momento, mas não sei se há pouco LDL ou o transporte é muito rápido e eficiente”. Em sua opinião, o importante é desenvolver medidas para nos informar como o HDL (colesterol bom) funciona, e não sua quantidade (que é o que tem sido feito). Neste aspecto, a genética pode ajudar muito.

O cardiologista Hector Bueno, contudo, prefere ser mais conservador. Embora reconhecendo a complexidade do HDL, o especialista não vê razão para quebrar o paradigma. “Comer alimentos ricos em colesterol bom, como peixes oleosos ou azeite de oliva extra virgem, e reduzir gorduras animais ricas em colesterol ruim ainda é o melhor conselho. Devemos manter as mesmas recomendações nutricionais”, garante.

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