Estatísticas e Análises, Mundo | 29 de setembro de 2015

A radiação emitida pelos telefones celulares causa câncer?

Recomendação é usar o celular com certo cuidado
A radiação emitida pelos telefones celulares causa câncer

A radiação emitida pelos telefones celulares podem causar danos, como câncer no cérebro? Pesquisadores que investigam essa questão avançam e recuam em relação ao tema. A falta de conclusões tem dividido a sociedade e os usuários de telefone em dois grupos: os que acham que devemos parar de nos preocupar tanto sobre a radiação de celulares, e os que pensam que não há provas suficientes para justificar recomendações restritivas.

Em uma recente pesquisa realizada nos EUA, pela Consumer Reports, que envolveu mil adultos, “apenas 5% dos entrevistados admitiram preocupação com a radiação de telefones celulares, e menos da metade tomou alguma medida para limitar sua exposição”. A posição é seguida por muitos cientistas. “Não encontramos nenhuma evidência de aumento do risco de tumores cerebrais ou qualquer outra forma de câncer” causada pela radiação, afirmou o médico John Boice Jr., presidente do Conselho Nacional de Medidas & Proteção contra Radiação dos EUA, e professor na Faculdade de Medicina da Universidade de Vanderbilt, em Nashville. “A preocupação deveria estar em falar ou escrever mensagens de texto enquanto estiver dirigindo”, ameniza o especialista. O governo norte-americano também não parece preocupado. A agência reguladora, Food and Drug Administration (FDA), diz em seu site que as investigações geralmente não vinculam telefones celulares a qualquer problema de saúde.

Por outro lado, em maio de 2015, um grupo de 190 cientistas independentes, de 39 países, reuniu mais de dois mil trabalhos sobre o tema e solicitou às Nações Unidas, à Organização Mundial de Saúde e aos governos nacionais, que desenvolvessem controles mais rigorosos sobre a radiação do telefone celular. Eles sugerem o aumento das investigações, bem como a classificação de radiação do telefone celular como um possível fator cancerígeno.

Dr. David Carpenter, diretor do Instituto de Saúde e Meio Ambiente na Universidade de Albany, em Nova York e um dos autores da carta à ONU e OMS, considera “a evidência principal de que a ‘radiação wireless’ pode causar efeitos adversos à saúde é, atualmente, forte o suficiente e quase injustificável que as agências governamentais e cientistas não alertem o público para os perigos”, afirmou.

Alguns lugares já tomaram medidas para proteger os usuários mais jovens. Em países como França, Rússia, Reino Unido e Zâmbia, são proibidos os anúncios que promovam a venda e/ou uso de telefones celulares para crianças, ou que emitam alertas para a utilização.

Em maio de 2015, a cidade de Berkeley, na Califórnia, aprovou a lei “Direito de Saber” (Right to Know), que exige que as empresas de eletrônicos avisem os consumidores sobre o uso correto de celulares. O mesmo já ocorreu, há cinco anos, na cidade de San Francisco.

A pedido do portal Consumer Reports, especialistas em saúde e segurança realizaram uma análise das pesquisas e elaboraram algumas orientações:

O que é a radiação do telefone celular?

O telefone envia ondas de radiofrequência (RF) para as torres de celular próximas, e as recebe quando você faz uma chamada ou manda mensagens. A frequência das ondas de RF de um telefone celular fica abaixo daquelas emitidas por rádios FM e acima das geradas por fornos de microondas, as quais são consideradas formas “não-ionizantes” de radiação. Isso significa que, ao contrário de radiação de uma explosão nuclear, uma tomografia computadorizada, ou um raio-X,  a radiação a partir do telefone não carrega energia suficiente para quebrar ou alterar o seu DNA, o que é uma maneira de ocasionar o câncer. Rádios FM e microondas não são preocupantes, em parte porque não são mantidos perto da cabeça quando em uso, e porque fornos microondas têm blindagem que oferece proteção.

Como a radiação dos telefones celulares pode causar câncer?

Em níveis de alta potência, ondas de RF podem aquecer as moléculas de água (como funciona o microondas). Os cientistas centravam suas preocupações na possibilidade de que esse aquecimento do tecido humano (que é principalmente água) danifique as células. Todos os telefones devem passar por testes nesse sentido, antes de serem colocados no mercado. Mas a maioria dos especialistas não estão mais preocupados com esse possível aquecimento dos tecidos causados ​​por ondas de RF. Em vez disso, o que está preocupando os cientistas são estudos de laboratório mais recentes, que sugerem que a exposição à radiação de telefones pode ter efeitos biológicos sem aumento da temperatura.

Pesquisas do National Institut of Health mostraram que baixos níveis de radiação a partir de um telefone celular, quando perto de uma cabeça humana, poderia mudar a forma como as células do cérebro funcionam, mesmo sem aumentar a temperatura do corpo. O estudo não prova que o efeito sobre as células do cérebro seja perigoso, mas que a radiação pode ter um efeito direto sobre o tecido humano.

O que os estudos mostram?

Uma revisão das investigações sobre os telefones celulares para identificar se o uso destes aparelhos aumenta o risco de tumores no cérebro de seres humanos, focou cinco grandes estudos populacionais. Juntos, os trabalhos incluíram mais de um milhão de pessoas em todo o mundo, comparando usuários de celulares com não usuários.

Especificamente, três estudos (um da Suécia, outro da França e um terceiro que combinou dados de 13 países) sugeriram uma conexão entre o uso frequente de telefone celular e gliomas (tumor de células que protegem, nutrem e dão suporte aos neurônios). Um desses estudos também sugeriu uma ligação entre celulares e neuromas acústicos (tumores não cancerosos), e dois estudos insinuaram relação com meningiomas, um tumor relativamente comum, mas geralmente não mortal.

Embora as conclusões sejam preocupantes, nenhum dos estudos pode provar uma ligação entre celulares e câncer de cérebro. Além disso, os resultados podem ser influenciados pelo fato de que os celulares do estudo foram, em alguns casos, fabricados há duas décadas. A forma como usamos os telefones celulares e as redes que permitem a operação, também mudaram. Por fim, o câncer pode se desenvolver lentamente ao longo de décadas, no entanto, os estudos analisaram dados de um período de cinco a 20 anos.

Os celulares atuais são mais seguros?

Os modelos de telefones celulares mudaram muito desde a conclusão dos estudos citados. As antenas por onde a maioria da radiação é emitida já não estão localizadas fora dos telefones perto do topo, próxima de cérebro quando o usuário fala, mas estão dentro do telefone. Como resultado, a antena não fica encostada na cabeça. Isso é importante porque quando se trata de radiação de telefones celulares, cada milímetro conta: a força da exposição cai dramaticamente conforme a distância do corpo aumenta. A melhor proteção talvez seja que os telefones são, hoje, mais usados para mensagens de texto e imagens, do que para falar. Além disso, fones de ouvido estão crescendo em popularidade. Por outro lado, nós usamos telefones celulares muito mais do que antes, por isso a nossa exposição global pode ser maior.

O recomendado é parar de usar telefone celular?

Não, a Consumer Reports não acha isso necessário, mas existem preocupações. Não há evidências concretas que digam que a radiação dos telefones celulares cause câncer, mas é preciso mais investigações sobre o assunto. No entanto, o portal recomenda algumas precauções:

Tente manter o telefone longe da cabeça e do corpo. Isso é particularmente importante quando o sinal de celular é fraco, porque os telefones podem aumentar o seu poder de busca por sinal, para compensar.

Opte por texto ou chamada de vídeo, quando possível.

Ao falar, use o viva-voz ou um fone de ouvido.

Não guarde seu telefone no bolso da camisa. Em vez disso, carregue em uma bolsa ou pasta, por exemplo.

Por fim, o artigo aponta alguns tópicos, que precisam ser esclarecidos em novas pesquisas sobre a radiação dos telefones celulares:

Os testes realizados para aprovação dos aparelhos é baseada no possível efeito dos dispositivos em adultos, embora a pesquisa sugere que os crânios mais finos das crianças podem absorver mais radiação.

Novos testes devem ser desenvolvidos para avaliar a potencial vulnerabilidade das crianças.

Os fabricantes de telefones celulares devem exibir de forma proeminente avisos sobre as medidas que os usuários de telefones celulares precisam tomar para reduzir a exposição à radiação.

VEJA TAMBÉM