Mundo | 20 de abril de 2020

Trump define diretrizes para a reabertura gradual da economia norte-americana

Documento apresenta três fases, pressupõe diminuição de casos e determinar um número maior de testes para Covid-19
Trump define diretrizes para a reabertura gradual da economia norte-americana

Na quinta-feira (16), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, divulgou novas diretrizes que estabelecem condições para que as diversas regiões do país comecem a flexibilizar algumas das medidas de distanciamento social impostas para combater a propagação da Covid-19 (doença causada pelo novo coronavírus).

O documento, chamado Opening Up America Again (Abrindo a América Novamente) tem 18 páginas e identifica as circunstâncias necessárias para que os Estados permitam a volta ao trabalho – a decisão de suspender as restrições será tomada pelo governo de cada estado norte-americano.


“ Precisamos ter a economia do trabalho. E nós queremos recuperá-la. Muito, muito rapidamente. E é isso que vai acontecer ”, disse Trump em uma coletiva de imprensa na Casa Branca depois de anunciar a nova orientação. De acordo com o presidente norte-americano, cerca de 29 (do total de 50) estados “poderão abrir em breve”, por estarem em situação mais controlada da pandemia. Porém, Trump frisou que poderão acontecer alguns surtos do vírus novamente.


Pressão para abrir a economia

Os estados, que impuseram suas próprias medidas de contenção para tentar retardar a propagação da doença, não são legalmente obrigados a seguir as instruções da Casa Branca. Mas a nova orientação, no entanto, aumenta a pressão sobre os governadores para diminuir suas restrições, mesmo quando especialistas em saúde e líderes empresariais alertam que são necessários sistemas generalizados de testes antes que os americanos possam começar a retornar com segurança às suas vidas normais.

Apesar do presidente dizer no início desta semana que acreditava que alguns estados poderiam “reabrir” suas economias antes de maio, as diretrizes da Casa Branca não oferecem datas específicas. O plano estabelece três “fases” destinadas a orientar partes do país a avançar gradualmente no sentido de diminuir as restrições sobre empresas e indivíduos.

Antes de entrar na primeira fase, as diretrizes dizem que o número de casos, testes positivos e relatos de sintomas semelhantes aos da gripe ou Covid-19 em um estado ou região deve estar em tendência de queda em um período mínimo de 14 dias. Também deve haver um “programa robusto de testes para profissionais de saúde em risco, incluindo testes emergentes de anticorpos”, de acordo com as diretrizes.

Três Fases

A Fase 1 – para estados e regiões que atendem aos critérios de restrição – sugere que os mais vulneráveis de saúde (como idosos) devem continuar abrigados. Os membros de famílias com residentes vulneráveis devem estar cientes de que, retornando ao trabalho ou a outros ambientes onde o distanciamento não é prático, podem levar o vírus para casa.

O plano diz que “todos os indivíduos vulneráveis” devem continuar protegidos e incentiva todos a manter várias práticas de distanciamento social em público. Também aconselha os empregadores a “voltar ao trabalho em fases”, se possível, tomando precauções como fechar áreas comuns e minimizar viagens não essenciais.

A Fase 2, aplicável a Estados e regiões sem indícios de uma nova onda de casos de coronavírus, afrouxa ainda mais as restrições. No entanto, as diretrizes ainda sugerem que indivíduos de menor risco “considerem minimizar o tempo gasto em ambientes lotados”.

A Fase Dois ainda sugere que todos os indivíduos vulneráveis devem continuar abrigados. Os membros de famílias com residentes vulneráveis devem estar cientes de que, retornando ao trabalho ou a outros ambientes onde o distanciamento não é prático, podem levar o vírus para casa. Devem ser tomadas precauções para isolar os residentes vulneráveis.

Além disso, são sugeridos que ambientes sociais de mais de 50 pessoas, onde o distanciamento apropriado pode não ser prático, devem ser evitados, a menos que sejam observadas medidas de precaução. Para empregadores, a sugestão é de seguir encorajando o trabalho remoto quando possível

Na Fase 3 – aplicável a Estados e regiões sem indícios, pela terceira vez, de uma nova onda de casos de coronavírus -, pessoas vulneráveis podem retomar as interações públicas, mas devem praticar o distanciamento físico, minimizando a exposição a ambientes sociais. onde o distanciamento pode não ser prático, a menos que sejam observadas medidas de precaução.

As visitas aos hospitais podem ser retomadas, com medidas de precaução e higiene adequadas. Além disso, restaurantes, cinema, locais esportivos, igrejas e locais de culto poderão operar, seguindo protocolos de distanciamento. Academias poderão abrir se estiverem aderidas as recomendações de protocolo de higiene.

open america

A importância dos testes

O plano é uma “evolução natural do que dissemos antes”, disse Anthony Fauci, especialista em saúde da força-tarefa de coronavírus da Casa Branca e diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (The National Institute of Allergy and Infectious Diseases/NIAID). “Quando entrarmos no outono, acho que estaremos em boa forma”, disse.

O governo Trump se recusou a declarar uma ordem de bloqueio nacional, optando por emitir diretrizes de distanciamento social que originalmente deveriam expirar no final de março. O presidente chegou a dizer no mês passado que esperava ver “igrejas lotadas” no domingo de Páscoa – um comentário rapidamente condenado por alguns especialistas em saúde.

Anthony Fauci

Anthony Fauci

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Mais tarde, a Casa Branca revisou sua linha do tempo, estendendo as orientações até o final de abril. Porém, em uma coletiva de imprensa sobre coronavírus na terça-feira (14), Trump disse que espera que alguns dos estados menos afetados possam diminuir suas restrições antes de 1º de maio.

A disponibilidade dos testes de coronavírus continua sendo uma questão importante. Embora cerca de 120 mil a 140 mil testes Covid-19 sejam realizados todos os dias nos EUA – cerca de 3,5 milhões de testes no total até agora -, essa taxa fica atrás de outros países em uma análise da base per capita.

Sem poder rastrear funcionários e clientes quanto ao vírus, os americanos não estarão “confiantes o suficiente para voltar ao trabalho, comer em restaurantes ou fazer compras em estabelecimentos de varejo”, disseram lideranças do mercado financeiro ao presidente, de acordo com o periódico The Wall Street Journal.

Em conferências, membros da Câmara e do Senado pediram a Trump que esperasse que os testes do Covid-19 se tornassem amplamente disponíveis antes de aconselhar a reabertura da economia, informou a NBC. Porém, Trump, com apoio de expressivas lideranças do setor produtivo, insiste que a economia deve ser reaberta o quanto antes.

Enquanto isso, a Sociedade de Doenças Infecciosas da América (The Infectious Diseases Society of America /IDSA) recomendou que os líderes do governo só comecem a mudar suas políticas de distanciamento social “quando testes em massa permitirem uma vigilância precisa da disseminação do coronavírus”.

De acordo com a organização, uma “expansão significativa” de testes e outros suprimentos médicos ainda é necessária antes que o país possa ser reaberto com segurança. Os EUA relataram mais casos e mortes por Covid-19 do que qualquer outro país. Mais de 766 mil pessoas foram infectadas e mais de 40 mil morreram, conforme mapa da Johns Hopkins (15h20 horário do Brasil, 20 de abril).

Necessidade de ao menos 500 mil testes por dia até o dia 1º maio

Segundo especialistas da Harvad, os EUA precisam realizar pelo menos 500 mil testes para o Covid-19 por dia para poder reabrir com segurança a economia, conforme estimativas de Ashish Jha, diretor do Harvard Global Health Institute; Thomas Tsai, pesquisador da Harvard TH Chan School of Public Health e Benjamin Jacobson, assistente de pesquisa do Harvard Global Health Institute.

Ashish Jha

Ashish Jha

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Atualmente, até 140/150 mil testes por dia são realizados e cerca de 20% dão resultado positivo. A porcentagem atual de testes que retornam positivos nos EUA é muito alta, disseram os pesquisadores. A Organização Mundial da Saúde (OMS) sugere que a taxa de testes positivos deveria estar entre 3% e 12%.

Os pesquisadores da Harvard, reforçam que mais testes são necessários para identificar corretamente quem está infectado e assim definir ações para não expor outras pessoas ao risco. “Se não podemos fazer pelo menos 500 mil testes por dia até 1º de maio, é difícil enxergar como podemos abrir a economia”, escreveram .

Leia mais: Distanciamento social intermitente é a melhor estratégia, defendem especialistas em saúde pública da Harvard

 

 

Com informações do CNBC, CNN (EUA) e Casa Branca. Edição do Setor Saúde.

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