Gestão e Qualidade | 7 de julho de 2016

Hospitais não devem “ter medo do escuro”

Arquiteta norte-americana defende que ambientes escuros também ajudam na recuperação de pacientes
Hospitais nao devem ter medo do escuro

O Design Baseado em Evidências (DBE) é um conceito que define o processo pelo qual o mobiliário, instalações e até mesmo plantas em ambientes hospitalares devem ser utilizadas a partir de resultados colhidos em pesquisas científicas.

Em um artigo publicado pelo portal Healthcare Design, a arquiteta Joan Suchomel, presidente da Academia de Arquitetura para a Saúde do Instituto Americano dos Arquitetos (AIA Academy of Architecture for Health), destacou que a iluminação é fundamental, mas também é preciso dar espaço para ambientes escuros.

Segundo ela, o DBE “já nos ensinou muito em relação a dar importância à iluminação, particularmente a iluminação natural, no processo de cura dos pacientes. Períodos de recuperação mais rápidos, menos dor e uma sensação geral de bem-estar têm sido relacionados ao acesso do paciente à luz do dia”.

No entanto, “a maioria das pessoas se sente mais cansadas em dias muito quentes e ensolarados do que em dias nublados. Há também uma maior sensação de segurança durante o dia e em locais bem iluminados, em comparação àqueles sem iluminação durante a noite. Tememos o que não podemos ver. O contraste é ainda alegórico: bondade é associada com luz, enquanto alguém chamado Príncipe da Escuridão (Prince of Darkness) é certamente maligno”.

A luz é importante, ainda, auxiliando na regulação do relógio biológico, afetando processos químicos no cérebro que dão suporte a um metabolismo saudável. Portanto, qual seria o problema da luz?

Mas a especialista garante que “a escuridão é igualmente importante. Precisamos dela para sermos saudáveis também. Apenas no completo escuro é que certas funções corporais críticas agem. Os nervos ópticos em nossos olhos sentem a luz; isso é verdade mesmo se não conseguimos ver. Mesmo sem receptores visuais – como ocorre em pessoas cegas – , quando a luz é detectada, um sinal de que é hora de acordar é enviado para o cérebro. Os níveis de cortisol sobem, cai a produção de melatonina, e os nossos corpos se preparam para a ação”, explica o artigo.

Quando a luz é constante à noite (horário em que a pessoa deveria estar dormindo) perdem-se alguns dos benefícios restauradores do sono. Isso pode ter efeitos prejudiciais sobre os níveis de gordura corporal, inflamação sistêmica e resistência à insulina. A melatonina, que é produzida quando está escuro, reduz a pressão arterial, a temperatura corporal e os níveis de glicose.

“Luz durante a noite interrompe os ciclos normais dos nossos organismos e tem um efeito negativo sobre a nossa saúde. Devemos dormir na escuridão total”, sustenta Joan Suchomel. Os Centers for Medicare & Medicaid Services (unidade do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA) parece reconhecer isso em uma pergunta inserida na pesquisa HCAHPS (sigla para Avaliação do Consumidor para Serviços Hospitalares e Sistemas Relacionados), que pede aos pacientes que digam a frequência com que a área em torno do seu quarto estava tranquila à noite. Em parte devido a esta questão, os arquitetos estão buscando maneiras de fazer com que os quartos dos pacientes sejam mais silenciosos.

No entanto, não há nenhuma pergunta na pesquisa HCAHPS sobre se o quarto estava escuro à noite. “Pense em todas as fontes de luz indesejadas durante a noite que podem estar presentes em um quarto de paciente: exibidas nos monitores e outros dispositivos médicos; a que vem do corredor do hospital e talvez, da janela; a lâmpada acesa à noite; aquela pequena luz da TV para a qual você aponta o controle remoto”. Por fim, a especialista questiona “podemos nós arquitetos desenvolver maneiras de os quartos dos pacientes ficarem mais escurecidos durante a noite? Resultados bem sucedidos podem depender disso.”

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