Mundo, Política | 30 de março de 2015

EUA prepara plano de 5 anos para combater superbactérias

Críticos encontraram pontos fracos na abordagem  
EUA prepara plano de 5 anos para combater superbactérias

A Casa Branca, sede oficial do poder executivo americano, anunciou no dia 27 de março um novo plano de cinco anos para travar a propagação de bactérias resistentes a antibióticos. No entanto, cientistas e legisladores já estão encontrando grandes falhas no plano, segundo reportagem da Reuters.

Mais de 20 mil americanos morrem a cada ano de infecções resistentes a antibióticos. Exemplo recente da urgência do problema – por sua intratabilidade – foi o surto da bactéria CRE (Carbapenem-Resistant Enterobacteriaceae) que não responde aos antibióticos e que matou duas pessoas e deixou dezenas expostas a uma iminente contaminação em um hospital da Califórnia (ver aqui).

Elaborado por uma força-tarefa do governo liderado por profissionais de saúde e da agricultura, o plano exige enormes investimentos e mudança de políticas dos órgãos reguladores. As metas incluem reduzir drasticamente as taxas de incidência das mortais superbactérias – ou “superbugs” como são denominadas nos EUA -, dentro de cinco anos, investindo em novas ferramentas de diagnóstico e antibióticos, melhorando o gerenciamento, uso dos medicamentos, a vigilância e as práticas de prescrição para animais de abate e estratégias e ações para hospitais; além do aumento da colaboração internacional através de ministérios dos Negócios Estrangeiros da Saúde e da Organização Mundial de Saúde (OMS).

O presidente dos EUA, Barack Obama, já duplicou o financiamento para a luta contra as superbactérias para US$ 1,2 bilhão. Especialistas dizem, no entanto, que a abordagem do plano para animais, em particular, é fraca. Os críticos já estavam atacando o plano antes do seu lançamento, pelo pouco rigor com as grandes fazendas que utilizam medicamentos em animais – um dos principais fatores que geram da resistência aos antibióticos em seres humanos – e por não estimular a descoberta de novos compostos para combater as bactérias.

No entanto, nem tudo é negativo. “Nós nunca vimos algo tão abrangente e compreensivo”, afirma Amanda Jezek, vice-presidente de políticas públicas e relações governamentais da Infectious Diseases Society of America, em entrevista à Reuters.

A demanda dos consumidores para que seja limitado o uso de antibióticos tem surtido efeito em algumas grandes empresas, como a rede de fast food McDonald´s (ver aqui) e a Nestlé, que fizeram recentemente mudanças em suas políticas corporativas para coibir o uso de antibióticos ao longo das suas cadeias de suprimentos.

A Reuters fez um resumo do projeto:

– Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) vão trabalhar para reduzir as taxas de infecções mais mortíferas e desenfreadas – incluindo a redução de infecções das bactérias C. difficile em 50%, CRE  em 60% e MRSA  em 50%;

– Os hospitais serão obrigados a lançar consistentes programas de controle de infecção – que incluem melhores técnicas de lavagem das mãos, superfícies e equipamentos hospitalares. Os médicos serão encarregados de baixar as taxas de prescrição de antibióticos aos pacientes;

– Será intensificada a vigilância no sistema de saúde público em relação à prescrição de antibióticos – especialmente quando eles forem distribuídos para infecções não bacterianas, como resfriados;

– Os CDC farão triagens de pessoas que vierem de fora dos EUA, oriundos de países com altas taxas de tuberculose multirresistente. Atualmente, o CDC faz essa triagem em cerca de 500 mil indivíduos. Dentro de cinco anos, essa taxa está prevista para dobrar;

– O plano prevê a aprovação de dois novos antibióticos e o financiamento de diagnósticos rápidos que serão capazes de apontar rapidamente uma infecção bacteriana ou viral de um paciente. Essa medida deve melhorar os padrões de prescrição.

O plano também sugere que a FDA – agência similar à Anvisa no Brasil – tome medidas adicionais em parceria com o órgão de controle veterinário americano para reduzir o uso de antibióticos na pecuária – mas a Reuters diz que o relatório não estabelece um objetivo neste aspecto, algo fundamental em um plano de combate às superbactérias.

 

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