Em 2021, “nossa maior conquista foi nos alinharmos ainda mais ao que a sociedade precisa”. “O cansaço de quase dois anos de pandemia não sobrepujou aquele que é nosso propósito: vidas fazendo mais pela vida”. Estas duas declarações ajudam a resumir a satisfação da diretora-presidente do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), professora Nadine Clausell, ao falar das ações de gestão e de assistência implementadas na instituição de saúde, integrante da rede de hospitais universitários do Ministério da Educação, e que nesta ano completou 50 anos de atuação. Nadine é terceira entrevistada da Série Especial com gestores de hospitais e operadoras do Rio Grande do Sul (saiba mais sobre a série, no final da matéria).

Ao portal Setor Saúde, a presidente do HCPA destaca as principais conquistas de 2021; aborda ações a serem implementadas em 2022; analisa tendências que impactarão o setor da saúde com mais força nos próximos anos; e detalha alguns ensinamentos que a pandemia trouxe. Ela alerta ainda sobre a necessidade de investimento em uma rede integrada capaz de dar conta das sequelas pós-covid em pacientes que foram acometidos pela doença.

Confira a entrevista completa:

Pandemia, capacidade de enfrentar desafios e a entrega de resultados

Em relação aos principais desafios enfrentados, Nadine salienta, que como era esperado, a pandemia obrigou gestores e equipes assistenciais a darem atenção quase que prioritária para atender pacientes com Covid-19. Por outro lado, o bom trabalho desempenhado pelas equipes demonstraram o poder de adaptação e a capacidade do HCPA em entregar resultados.

“Já esperávamos que 2021 carregaria consigo a marca da pandemia. Acompanhamos de perto todas as movimentações e chegamos a 135 leitos críticos, mais 82 leitos de enfermarias que adaptamos para atender uma complexidade muito alta. A jornada do Clínicas durante o ano repercute as movimentações da doença. Trabalhamos e retrabalhamos perspectivas o ano todo, com nossas equipes dedicando-se ao máximo para darem conta de toda atenção necessária. Fomos palco das primeiras doses de vacinas aplicadas no Estado. Avançamos nas teleconsultas. Com a diminuição de casos, próximo ao fim do ano, retomamos com mais ênfase procedimentos cirúrgicos e consultas. Nossa maior conquista foi nos alinharmos ainda mais ao que a sociedade precisa. O Clínicas demonstrou não só resiliência, mas capacidade de enfrentar os desafios, se adaptar e se manter forte, tanto no aspecto do pessoal quanto na responsabilidade com a gestão financeira. Chegamos ao fim deste ciclo com um time ainda mais unido, que compreende seu papel transformador e gosta do que faz”, define.

Investimentos previstos para 2022: Pediatria e ocupação de novos blocos

“Há um amplo leque de ações. Uma das metas do ano é fortalecermos a Pediatria, com a ampliação no número de leitos. Houve fechamento de leitos em outras instituições e nosso hospital quer poder ofertar ainda mais para as crianças, mantendo a qualidade que nos marca. Para isso, há esforços de busca de doações, investimentos próprios e busca de emendas parlamentares”, anuncia Nadine.

Em novembro deste ano, o HCPA iniciou os atendimentos na nova Emergência, no térreo do Bloco B. Na ocasião Nadine, destacou: “a nova Emergência é um grande ganho para os profissionais e pacientes. Quem trabalhou no outro espaço sabe o quanto é difícil manter a segurança do atendimento em um local superlotado. Certamente os processos se qualificam aqui. ”

Para 2022, a ideia é seguir o plano de ocupação. “Com responsabilidade, vamos seguir o plano de ocupação dos novos blocos, qualificando espaços de pesquisa, assistência e ensino, em que pese que continuamos trabalhando por recursos para equipamentos. Demandas pós-covid, como a qualificação das estruturas e equipamentos da Fisiatria, estão entre nossas prioridades, sem descuidar da retomada geral de outros atendimentos nos diversos Serviços. ”

Controles internos para garantir o uso racional e responsável de recursos

Ao analisar os movimentos de mercado, que buscam, entre outros objetivos, a eliminação de custos e desperdícios, Nadine destaca que o HCPA mantém uma gestão baseada em indicadores, transparência e planejamento, com controles internos para garantir o uso racional e responsável de recursos.

“Somos um hospital público, integrante da rede de hospitais universitários do Ministério da Educação e vinculados academicamente à Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Sempre tivemos um foco muito grande nos controles internos, uso racional e responsável de recursos. Trabalhamos com indicadores, transparência e muito planejamento, justamente para otimizar nossa capacidade de ação em um ambiente de recursos limitados. Esse cuidado é uma prática nossa de anos, que está no nosso cerne.”

Pesquisa, inovação e ambiente físico para o empreendedorismo

“Acreditamos e praticamos fortemente o desenvolvimento de pesquisas. Estamos avançando em práticas de inovação, com nosso Núcleo de Inovação e Transferência de Tecnologia e a estruturação de um ambiente físico que funcione como um hub de empreendedorismo. Estas tendências terão forte impacto no sistema de saúde, com novos produtos e tecnologias, e nisso também trabalhamos para sermos protagonistas, formando redes colaborativas. O futuro é coletivo e depende de uma permanente capacidade de se reinventar, sem perder o estofo que construiu nossa história. Estamos permanentemente atentos às possibilidades, aos novos tratamentos. A pesquisa científica nunca esteve tão em voga e esta é uma de nossas vocações”, entende Nadine.

Ensinamentos que a pandemia trouxe

Adaptabilidade, teleatendimento e capacidade de envolvimento das equipes foram citadas por Nadine, entre os principais ensinamentos que a pandemia trouxe.

“Nossa adaptabilidade foi testada ao extremo. Há anos trabalhamos com planejamento estratégico, pois é fundamental termos uma visão clara de onde queremos chegar, mas evidenciamos na prática que conseguimos, com a força da nossa gente, ajustar rumos para sermos aquilo que a sociedade necessita, mesmo na pior crise de saúde da história recente”, explica a diretora presidente.

Segundo Nadine, ficou evidenciado, com a pandemia, os benefícios de conciliar o remoto e o presencial. “O trabalho remoto foi essencial. O trabalho presencial também. Conciliar ambos exigiu muito do time de Gestão de Pessoas e de TI. Na assistência, os teleatendimentos ganharam força e espaço, sendo um legado positivo deste período desafiador. ”

A diretora-presidente do Hospital faz questão de salientar que o propósito institucional se manteve inabalável, mesmo diante da pandemia. “Nossas equipes foram remanejadas. Planos refeitos. A tomada de decisões no tempo correto, a comunicação transparente e ágil, a capacidade de capilarizar esforços, com lideranças e equipes motivadas foi posta à prova e mostrou resultados. O cansaço de quase dois anos de pandemia não sobrepujou aquele que é nosso propósito: vidas fazendo mais pela vida.”

As estratégias do HCPA foram reconhecidas pela revista Catalyst da New England Journal of Medicine (NEJM) Group. Em artigo publicado no mês de julho, foram abordadas ações de sucesso que possibilitaram a ampliação e a gestão de leitos durante a pandemia (saiba mais aqui).

Gargalos: pacientes pós-covid, cirurgias e transplantes

Para Nadine, os reflexos da pandemia seguem fortes, principalmente em pacientes que foram acometidos, e que hoje vivem com sequelas da Covid-19. A retomada das cirurgias e dos transplantes, igualmente, é um fator que precisará de atenção.

“Dentre os inúmeros desafios, é impossível não pensarmos na necessidade de termos uma rede capaz de dar conta das sequelas pós-covid. São muitas pessoas que precisam de uma atenção especializada. Os procedimentos cirúrgicos, do mesmo modo, precisam de um olhar especial, pois há ainda uma demanda reprimida a ser compensada. Os transplantes, fortemente impactados pela pandemia, são bons exemplos disso”, finaliza.

Sobre a Série Especial Setor Saúde

Pelo quarto ano consecutivo, o portal Setor Saúde publica a sua série especial com executivos da saúde do Rio Grande do Sul. Neste ano, as entrevistas serão publicadas diariamente a partir do dia 20 de dezembro. Não haverá publicações no período de festas de Natal e Ano Novo (dias 24, 25, 26 e 31 de dezembro, assim como em 1º e 2 de janeiro). Acompanhe as nossas redes sociais (facebook, twitter, linkedin) para ficar atualizado sobre as publicações ou acesse www.setorsaude.com.br.