Gestão e Qualidade | 6 de novembro de 2013

Vijay Govindarajan ensina como inovar em saúde com custos menores

Especialista em estratégia apresentou exemplos de sucesso na Índia
Govindarajan ensina como inovar em saúde com custos menores

O indiano Vijay Govindarajan, ou apenas Vijay como gosta de ser chamado, é um dos mais importantes pensadores do management por seu trabalho em empresas como GE, além de ser famoso por sua pesquisas e como professor da Tuck School of Business. O Portal Setor Saúde acompanhou a palestra A Revolução Health Care na Índia e os ensinamentos para o Brasil ministrada pelo professor durante a HSM Expomanagement 2013, realizada na noite de segunda-feira, 4 de novembro, na capital de São Paulo.

Vijay trouxe ao público presente algumas inovações do mercado de saúde indiano, mostrando exemplos que desafiam os executivos da saúde a repensarem a inovação através da preocupação com os custos sem perder a qualidade.

Poucos médicos e hospitais para atender 1,2 bilhões de pessoas

“Imaginem a realidade de um país que possui poucos hospitais, poucos médicos e uma população absurdamente numerosa e sem condições de pagar pelos serviços de saúde” iniciou Vijay. Detalhe, na Índia, não existe sistema público de saúde como no Brasil, grande parte da população tem que pagar do próprio bolso por seus gastos em saúde. Diante desta apresentação, a primeira ideia é pensar que a Índia, com seus graves problemas, como saneamento básico e desnutrição, não seria o celeiro ideal para inovações na área da saúde.

Mas Vijay alerta em sua palestra que existem hospitais que podem ser considerados casos de sucesso em atendimento de qualidade a custos muito mais baixos em comparação com o sistema de saúde americano, nação que vem lutando contra os altos custos de seu sistema de saúde.

Estudo de nove instituições

O professor pesquisou a fundo nove instituições indianas, que segundo ele “entregam o mesmo serviço a uma pequena parcela do custo cobrado no EUA”. Um dos exemplos é a Aravind Eye Care, instituição de referência na luta contra a cegueira, fundada por um médico que após se aposentar aos 58 anos, buscou especialização em oftalmologia, chegando a operar em alguns momentos mais de 100 pacientes por dia. Uma cirurgia de catarata na Aravind custa cerca de 200 dólares, enquanto que nos EUA pode chegar a 4.000 dólares.

Já o Narayana Hrudayalaya é um centro especializado comandado pelo cirurgião Davi Shetti, que teve como sua paciente a madre Teresa de Calcutá. A religiosa serviu de inspiração para a construção de seu hospital, o que mais realiza operações de coração em todo o mundo, atendendo pessoas de diversas nacionalidades. ” Somente investe os 3 mil dólares pela cirurgia quem tem condições. Se tiver como ajudar com pouco ou quase nada, o paciente não é impedido de realizar a operação” diz Vijay. O valor do mesmo procedimento nos EUA é 50 mil dólares, ou seja, 90% mais caro.

 Conceitos

Para um melhor entendimento de como a Índia vem conseguindo alinhar custos baixos e qualidade, três conceitos foram apresentados por Vijay: Hub-Spoke, Divisão de Tarefas e Desperdício, sempre comparando com a realidade do mercado de saúde americano.

Hub-Spoke

Basicamente é a ideia de centros de referência ou hospitais que focam em resolver um tipo de problema de saúde. A qualidade surge com quantidade encaminhada de pacientes e o grande número de procedimentos realizados. Segundo Vijay, estes elementos ajudam ainda a diminuir o valor dos serviços prestados. As intervenções mais complicadas sempre são realizadas no Hub. Já as mais simples e a triagem em cidades distribuídas em regiões escolhidas estrategicamente, amparadas por sistemas de telecomunicação que possibilitem o contato com os pacientes remotamente (Spoke).

Divisão de Tarefas

Os médicos mais capacitados não deveriam fazer tarefas operacionais e mais simples que outras pessoas poderiam se ocupar. Segundo Vijay, sua atenção deve estar nos pacientes, realizando procedimentos. Na Índia os médicos conseguem atender muito mais pacientes em menos tempo do que nos EUA, pois estão focados em tarefas que somente eles podem fazer. Na Índia, as equipes clínicas são mais numerosas, o que ajuda o médico a focar em sua principal tarefa. Vijay lembrou que o gestor ao pensar em reduzir custos, pensa em demitir, diminuindo as equipes e obrigando os médicos a assumirem funções que impedem uma maior produtividade.

 Desperdício

A fuga do desperdício é peça chave para diminuição de custos. A construção de hospitais mais baratos, sem luxos e extravagâncias é um dos melhores exemplos a serem seguidos, segundo Vijay. Além disto, os gestores indianos buscam sempre por equipamentos similares nacionais, que substituem os caros e impraticáveis importados. Nos hospitais americanos, mesmo quando a Joint Commission International – entidade responsável pelo programa de qualidade adotado pelos principais hospitais do mundo -, indica a possibilidade de reutilização e esterilização de materiais de forma segura, muitos hospitais simplesmente os descartam. Já as bonificações e altos salários deveriam ser revistos segundo o professor, pois impactam decididamente para um aumento de custos.

Vijay acredita que existe ainda outro fator a ser trabalhado pelos gestores e suas equipes, a busca por pessoas com paixão em atender e com o perfil de ajudar o próximo como principal motivação de sua atividade. Todos os exemplos demostrados em sua palestra continham este importante elemento. Para Vijay, a Índia pode ajudar a mostrar ao mundo que para conseguir qualidade na saúde, não é obrigatoriamente preciso trabalhar com custos cada vez mais altos.

 Sobre Vijay Govindarajan: Professor de International Management da Tuck School of Business do Dartmouth College e diretor e fundador do Centro de Liderança Global William F. Achtmeyer. Foi convidado por Jeff Immelt, chairman e CEO da General Electric, para ser o chief innovation consultant da empresa. Obteve pós-doutorado e o MBA pela Harvard Business School, onde também foi professor. Foi nomeado pela revista BusinessWeek como “Professor Extraordinário” e pelo Financial Times como um dos “50 maiores pensadores de management” do mundo. Govindarajan é autor de mais de 70 artigos. Trabalha com CEOs e diretores das maiores empresas do mundo para estimular, desafiar e aperfeiçoar as ideias deles sobre estratégia. Já trabalhou com 25% das empresas Fortune 500, incluindo Boeing, Coca-Cola, Colgate, FedEx, Hewlett-Packard, IBM, Sony e Walmart (com informações HSM Educação).

Seu último livro Inovação Reversa – Descubra as Oportunidades Ocultas nos Mercados Emergentes, escrito em parceria com Chris Thrimble, aborda exemplos de inovações produzidas em países emergentes como Brasil, India e Rússia e posteriormente adotadas com sucesso em nações mais ricas e desenvolvidas.

 

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