Gestão e Qualidade, Mundo | 15 de julho de 2019

Verde, amarelo e vermelho: hospital rotula alimentos e aumenta venda de produtos saudáveis

Resultados demonstraram a redução de “calorias compradas” pelos funcionários
Verde, amarelo e vermelho hospital rotula alimentos e aumenta venda de produtos saudáveis

Um recente estudo divulgado no JAMA Network Open (produzido pela Associação Médica Americana), realizado por pesquisadores do Massachusetts General Hospital (MGH), localizado em Boston (EUA), mostrou que inserir rótulos nos produtos alimentares em um refeitório hospitalar pode auxiliar na educação alimentar dos funcionários. Os resultados demonstraram a redução de “calorias compradas” pelos colaboradores e o aumento da venda de produtos mais saudáveis em detrimento daqueles menos saudáveis.

A instituição começou a utilizar cores de “semáforo” de trânsito, indicando os produtos mais saudáveis e menos saudáveis. Os rótulos verdes indicavam os alimentos mais saudáveis, os amarelos como os intermediários e os vermelhos para os menos saudáveis.

Para determinar a cor foi considerado se o ingrediente principal era fruta, vegetal, grãos integrais, além dos níveis de gordura saturada e açúcar presente na fórmula, dentre outros indicadores.

Os pesquisadores usaram os números de identificação dos funcionários (tags no crachá) para rastrear as compras realizadas nos refeitórios. A amostra alcançou 5.695 funcionários e compreendeu um período antes e após a rotulagem. Muito trabalho foi feito para tornar o programa possível. ” Tivemos que reprogramar as caixas registradoras para acompanhar o que as pessoas estão comprando”, disse a pesquisadora chefe do estudo, a médica Anne N. Thorndike.

Programa se chama Escolha Bem, Coma Bem (Choose Well, Eat Well)

Programa se chama Escolha Bem, Coma Bem (Choose Well, Eat Well)

xxx

Aumento da venda de produtos mais saudáveis 

Os pesquisadores descobriram que a proporção de alimentos com rótulo verde comprados aumentou, enquanto a proporção dos alimentos menos saudáveis [amarelo e vermelho] diminuiu. As maiores reduções foram observadas nas compras de alimentos com rótulo vermelho. “Isso indica que os funcionários não só consumiam menos calorias no trabalho, mas também que estavam melhorando a qualidade das calorias que estavam comprando”, disse a pesquisadora chefe do estudo, a médica Anne N. Thorndike.

Para os funcionários que compraram nos refeitórios com mais frequência, a redução estimada de calorias equivale a uma perda de peso de até 2 kg ao longo do tempo.

Na lanchonete do Hospital os rótulos codificados por cores indicam as opções mais saudáveis __de sanduíche

Na lanchonete do Hospital os rótulos codificados por cores indicam as opções mais saudáveis de sanduíche

 

“Não é um programa de perda de peso”

No entanto, Thorndike salientou: “este [estudo] não é um programa de perda de peso”. Seria preciso levar em conta outros fatores, como o nível de atividades físicas que a pessoa faz (se faz) e orientações mais personalizadas junto aos funcionários.


A rotulagem seria apenas uma parte de um programa de incentivo à qualidade de vida. “Se um novo programa focado na perda de peso fosse adotado, tudo indica que poderíamos ajudar a garantir que todos mantivessem um peso estável em vez de continuar a ganhar. E assim, poderíamos começar a reverter a epidemia de obesidade”, aposta Thorndike.


Segundo a pesquisadora, outras pesquisas anteriores a esta, avaliaram o impacto das intervenções de rotulagem e foram baseadas em laboratório ou transversais, avaliando uma única escolha de alimento ou refeição. “A diferença com o nosso estudo é que ele olhou para as compras do mundo real pelos funcionários ao longo de vários meses”, disse Thorndike.

Codificação dos alimentos nos refeitórios do MGH

Codificação dos alimentos nos refeitórios do MGH

xxx

Epidemia de obesidade

As Nações Unidas e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) alertaram na segunda-feira (8) que a América Latina e o Caribe vivem uma “epidemia de obesidade”.

De 1975 a 2016, a América Latina e o Caribe viram o sobrepeso saltar de 33,4% para quase 60%. Há cerca de quatro décadas, a obesidade afetava 8,6% dos cidadãos da região — agora, estima-se que um em cada quatro sofra do problema. No Brasil, a obesidade é estimada em 22,1%, e o sobrepeso, em 56,5%.

Obesidade aumenta absenteísmo e gera menor produtividade

Um terço dos quase 150 milhões dos trabalhadores norte-americanos são obesos, e a prevalência da obesidade está aumentando em todos os setores, incluindo o da saúde. Obesidade e doenças relacionadas à dieta, como diabetes e doenças cardiovasculares, supostamente contribuem para maior absenteísmo e menor produtividade, bem como aproximadamente 200 bilhões de dólares em custos de saúde, somente nos EUA.

Os funcionários frequentemente adquirem refeições no trabalho. Uma recente pesquisa descobriu que a comida no local de trabalho era rica em calorias provenientes de gordura saturada e açúcares, muitas vezes oriundos de pizzas, refrigerantes, biscoitos e brownies. Estratégias eficazes para reduzir a ingestão de energia não nutritiva durante a jornada de trabalho podem ajudar a enfrentar a crescente prevalência da obesidade nos Estados Unidos e no mundo.

Conforme as Nações Unidas, na América do Norte – a região com os maiores índices -, o sobrepeso entre os adultos fica em torno de 64% no México e Canadá e sobe para 67,9% nos Estados Unidos. Já a obesidade atinge os 29,4% no Canadá, 28,9% no México e 36,2% nos Estados Unidos.

A jornada de trabalho mais saudável

“ Mais locais de trabalho deveriam fazer esse tipo de intervenção”, acredita Thorndike. Programas de bem-estar geralmente terminam depois de um certo período, mas programas como esse, em que as pessoas são expostas todos os dias [e em locais chave como refeitórios], se tornam parte da cultura do local de trabalho. É assim que você faz as pessoas mudarem seus hábitos a longo prazo”, defende a médica do Hospital norte-americano.

Thorndike acredita que os rótulos ajudaram os funcionários a fazer as escolhas mais saudáveis. “Um rótulo vermelho é um lembrete de que algo não é saudável, justamente no momento em que você está prestes a fazer a compra”, disse ela.

“Os rótulos ajudam as pessoas que estão tentando fazer uma escolha saudável, mas não têm tempo para olhar para o rótulo de informações nutricionais padrão [com letras pequenas e muitas informações]. As pessoas querem algo rápido e fácil para que possam fazer a escolha mais adequada e voltar ao trabalho”, finaliza.

Acesse o estudo aqui.  

VEJA TAMBÉM