Estatísticas e Análises | 11 de novembro de 2015

Urologistas e oncologistas unificam diretrizes para tratamento de câncer de próstata

Entidades entram em consenso sobre como orientar médicos no melhor caminho a ser seguido
Urologistas e oncologistas unificam diretrizes para tratamento de câncer de próstata

Em torno de 68,8 mil novos casos de câncer de próstata surgem a cada ano no Brasil, sendo 10% deles diagnósticados em estágio avançado, conforme o Instituto Nacional do Câncer (Inca). Ao mesmo tempo, a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) indica que 51% dos homens nunca consultaram um urologista.

Conforme entrevista concedida à Agência Brasil o coordenador do Departamento de Uro-Oncologia da SBU, Lucas Nogueira, afirmou que nos últimos cinco anos houve progressos no tratamento da fase de câncer de próstata mais avançado que, em geral, leva o paciente à morte. “Não havia droga efetiva que prolongasse a vida do paciente. De cinco anos para cá, a gente tem uma gama gigante de tratamentos nessa área, com novas medicações, inclusive orais”.

A questão do tratamento está em discussão em todo o mundo no momento, principalmente no Novembro Azul – mês que faz referência à importância dos cuidados relacionados ao câncer de próstata – razão pela qual a SBU e a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) decidiram unificar as diretrizes sobre como orientar os médicos no melhor caminho a ser seguido, em benefício dos pacientes.

“As duas especialidades juntas têm que falar a mesma língua para beneficiar os pacientes”, disse Lucas Nogueira. Recentemente, o secretário de saúde do Estado do Rio Grande do Sul, João Gabbardo, protagonizou uma polêmica ao afirmar que o exame para detecção do câncer só deveria ser feito em alguns casos.

Durante o 35º Congresso Brasileiro de Urologia, as entidades submeteram à análise de oito oncologistas, oito urologistas e dois médicos nucleares, 40 questões relevantes sobre o tema. O resultado foi o 1º Consenso Brasileiro de Tratamento do Câncer de Próstata Avançado, divulgado pela SBU e pela SBOC. Houve acordo em relação às novas drogas para tratamento de câncer de próstata resistente e à não indicação de algumas medicações antigas e ainda utilizadas, como a ciproterona, que não mostravam muito benefício.

De acordo com Nogueira, foi fechado consenso também em relação a métodos de imagem e de diagnóstico para acompanhamento da doença nos pacientes. As diretrizes estarão reunidas em um documento que será distribuído para todos os médicos associados da SBU e da SBOC. Um artigo científico será publicado no Jornal Brasileiro de Urologia, em nome das duas entidades. O documento deverá ajudar, inclusive, o paciente a ter acesso às novas drogas junto aos planos de saúde e ao governo, no SUS.

“São medicações novas, que não se tinha muito uma posição de quando utilizá-las. Para o paciente de câncer de próstata avançado houve uma melhor definição da melhor droga a ser utilizada a cada momento da doença, da forma de definir se aquela droga está agindo ou não e da disponibilidade dessas drogas em outras situações”. Esta é a primeira vez que se atesta a efetividade dessas drogas que estão aprovadas para uso no Brasil (Rádio-223, abiraterona, enzalutamida e cabazitaxel), embora ainda não houvesse uma definição bem colocada para sua aplicação.

“Faltava um direcionamento para qual tipo de paciente e cada estágio da doença”, frisou. As novas drogas podem prolongar a sobrevida dos pacientes em média de quatro a seis meses cada (não cumulativo), além de melhorar a qualidade de vida e reduzir a dor. Os medicamentos agem retardando o progresso da doença.

Os avanços no conhecimento das relações moleculares e genéticas de pacientes com câncer urológico, especialmente câncer de próstata é um ponto destacado pelo médico. “É o início do mapeamento genético do câncer de próstata que vai nos ajudar a uma melhor definição do grau de agressividade de cada doença, determinando qual o melhor tipo de tratamento para aquele paciente”, declarou. O mapeamento genético, segundo Nogueira, ainda não está disponível no Brasil. Nos EUA, testes moleculares já são feitos, mas precisam ser estudados em uma população grande para ver se funcionam de fato.

O coordenador do Departamento de Uro-Oncologia da SBU acredita que nos próximos cinco anos já se terá esse mapeamento genético que permitirá diferenciar o tipo de câncer e a pré-disposição do paciente para ter uma doença agressiva. No caso do câncer de próstata, o mapeamento permitirá, a partir do diagnóstico, traçar um perfil molecular da doença e, assim, escolher a forma de tratamento mais adequada. Por fim, o urologista lembra que outro avanço no diagnóstico é a ressonância magnética da próstata. “A gente não tinha muita imagem e a ressonância tem evoluído, tanto no diagnóstico para fazer biópsia, como no tratamento”, concluiu.

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