Subnotificação dos casos de tromboembolismo venoso traz alerta para os cuidados com a saúde vascular
Doença foi responsável por mais de 43 mil internações no último ano, período em que a coleta de dados foi prejudicada devido à pandemia de Covid-19A subnotificação no número de casos relacionados ao tromboembolismo venoso (TEV) gera um sinal de alerta. De acordo com um levantamento do Sistema Único de Saúde (SUS), em 2021, a doença foi responsável por mais de 43 mil internações na rede pública. Esse número pode ainda ser maior, pois nem sempre a doença é diagnosticada e durante a pandemia de Covid-19 a coleta de informações acabou sendo prejudicada.
O tromboembolismo venoso é caracterizado pela presença de um trombo ou um coágulo no sistema circulatório venoso. A condição se manifesta de duas formas: Trombose Venosa Profunda (TVP) que acomete uma veia profunda dos membros inferiores; e o Tromboembolismo Pulmonar (TEP), que é a terceira maior causa de morte cardiovascular, e hoje é considerada a principal causa evitável de morte intra-hospitalar. Essa última ocorre quando o coágulo ou trombo se desloca pela corrente sanguínea e se aloja nas artérias do pulmão, o que dificulta a oxigenação do sangue, e se torna mais grave quando ele sobrecarrega o trabalho do coração.
Estudos epidemiológicos internacionais demonstraram que a doença é muito frequente, apresentando uma prevalência de um a três casos a cada 1.000 habitantes por ano. Nos Estados Unidos ocorrem em torno de 550 mil internações pelo diagnóstico de TEV anualmente, conforme levantamento feito por especialistas da Universidade de Utah. De acordo com o presidente da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular – Regional São Paulo (SBACV-SP), Dr. Fabio H. Rossi, com base nesses dados americanos, e levando em conta as diferenças populacionais, no Brasil deveria haver em média 350 mil hospitalizações ao todo pela patologia durante um ano.
“Considerando que nossa média de internações anual não ultrapassa 50 mil casos no SUS, podemos inferir que ainda hoje se faz pouco diagnóstico da doença no Brasil, e isso é muito sério, se avaliarmos o risco de graves sequelas e a alta mortalidade. Isso pode ocorrer porque sabemos que o tromboembolismo venoso evolui muitas vezes de maneira silenciosa ou oligossintomática, ou seja, apresenta-se com poucos sintomas, e os sinais acabam sendo atribuídos a outras enfermidades. A maioria dos estudos epidemiológicos é baseada nos sintomas clínicos, que possuem uma sensibilidade inferior a 50% no diagnóstico”, afirma.
O desenvolvimento da doença está relacionado à falta de mobilidade, como ficar longos períodos sentados ou em pé, situações rotineiras em ambientes de trabalho, durante viagens demoradas e em pós-operatórios. “Mas há outros fatores de risco, que são TEV prévio, obesidade, insuficiência cardíaca e renal, doenças autoimunes, tabagismo, câncer, trauma, cateter venoso central, varizes nos membros inferiores, causas genéticas e doenças infecciosas como as infecções virais e bacterianas graves”, esclarece Dr. Fabio.
Os sintomas mais comuns do tromboembolismo venoso são dor, inchaço, calor, vermelhidão, edema e endurecimento do tecido do membro acometido. Em quadros com embolia pulmonar os indícios são tosse, dor torácica, escarro com sangue, palpitações, desmaio e até parada cardiorrespiratória nos casos mais graves.
Apesar de se manifestar com maior incidência em pessoas mais velhas, o TEV também pode acometer os mais jovens devido a maus hábitos como o do tabagismo – e isso vale para narguilé e cigarros eletrônicos – e o sedentarismo. As mulheres, tanto as mais jovens como as mais adultas, que usam anticoncepcionais ou fazem reposição hormonal, estão na gravidez ou no puerpério, possuem chances mais altas de desenvolver a condição do que os homens. O Dr. Rossi explica também que com a pandemia do Coronavírus, o TEV se manifestou em maior frequência nos infectados. De acordo com um estudo publicado na National Library of Medicine, com a Covid-19, o TEV acometeu de 5 a 10% dos pacientes internados em enfermaria, e entre 30 e 50% dos pacientes internados na UTI, contribuindo para o óbito em muitos dos casos.
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Síndrome Pós-Trombótica
Quando há o comprometimento das veias próximas da coxa e pelve, decorrente da Trombose Venosa Profunda aguda, a chegada do sangue arterial – rico em oxigênio e nutrientes – pode ficar prejudicada e, assim, provocar a isquemia, e até a necessidade de amputação do membro, nos casos mais graves. “Mesmo nos cenários que não ocorram evolução a esse ponto, entre 30 e 50% dos casos, há a possibilidade da doença resultar na Síndrome Pós-Trombótica, que leva a um grave comprometimento funcional do membro, e até mesmo úlceras varicosas de difícil cicatrização. Essa síndrome é a 14ª causa de afastamento do trabalho em pacientes jovens, de acordo com o Ministério da Previdência Social, e apresenta altíssimo custo de tratamento. Nos casos menos volumosos e graves, pode-se levar à formação de varizes, edema, escurecimento e espessamento da pele”, declara o Dr. Fabio.
Segundo o presidente da SBACV-SP, sem o tratamento médico correto, o TEV acarreta complicações graves, sendo a parada cardíaca e consequentemente o óbito o quadro mais crítico, que acontece em 19,6% dos casos de embolia pulmonar maciça. Em uma fase tardia e crônica, a obstrução parcial das artérias do pulmão pode gerar a Hipertensão Pulmonar Tromboembólica Crônica, uma causa frequente de perda de qualidade de vida e que acomete de 2 a 4% dos pacientes sobreviventes.
O diagnóstico é feito com o auxílio de exames, sendo a ultrassonografia com Doppler vascular indicada nos casos de suspeita de trombose, e a tomografia computadorizada na hipótese de embolia pulmonar. Em algumas situações é preciso realizar uma ecocardiografia, que avalia e analisa o grau de sobrecarga do coração.
Na maioria dos casos, o tratamento é feito com medicamentos anticoagulantes, que hoje podem ser administrados por via oral, e uso de meias elásticas, e tratados em regime domiciliar, mas com acompanhamento pelo médico vascular. Porém, em casos mais graves, pode ser necessário o uso de medicamentos que dissolvem o trombo, chamados de trombolíticos, que devem ser usados com muito cuidado e por equipe experimentada, porque há risco de hemorragias. “Hoje em dia temos cateteres, que possuem a capacidade de fragmentar e aspirar o trombo, de forma rápida e segura. Nos casos em que existe contraindicação do uso de anticoagulante, será necessária a implantação de um filtro de veia cava. É um dispositivo em formato de guarda-chuva que é colocado para prender os coágulos que possam se desprender, impedindo a chegada desses trombos ao pulmão”, explica o Dr. Fabio Rossi.
É muito importante a divulgação de informações sobre os principais sintomas e os fatores de risco devido à alta prevalência, risco de morte e as possíveis sequelas graves que podem inclusive atingir a população jovem, piorando para sempre a qualidade e a capacidade laborativa. É fundamental estimular a visita regular ao médico e ter consciência da condição, tão vital para evitar maiores problemas. “É fundamental diagnosticar os riscos, saber como evitar e tratar precocemente, e isso nem sempre é fácil, pois o TEV pode passar despercebido até mesmo para os profissionais da saúde”, finaliza o profissional.