Tecnologia e Inovação | 11 de abril de 2017

Startup que promete reverter condições da velhice já vale 12 bilhões de dólares

Samumed é descrita como revolucionária, mas caso “Theranos” criou ceticismo no mercado
Startup promete reverter as condições da velhice e já vale 12 bilhões de dólares

Samumed é uma startup de biotecnologia de 12 bilhões de dólares que você provavelmente nunca ouviu falar. A empresa, com sede em San Diego, Califórnia (EUA), atraiu 300 milhões de dólares em financiamento e uma grande valorização graças a um leque de tratamentos revolucionários que pretende regenerar cabelos, pele, ossos e articulações.

Ela oferece a promessa de inverter as condições relacionadas ao envelhecimento fazendo o cabelo voltar a crescer em pessoas calvas, suavizando rugas e regenerando a cartilagem das articulações desgastadas em pessoas com osteoartrite. A calvície, por exemplo, atinge cerca de 42 milhões de brasileiros, segundo a Sociedade Brasileira para Estudo do Cabelo.

A startup, porém, sofre com ceticismo, principalmente depois do caso Theranos. Para quem não se lembra, Theranos é uma empresa – dos mesmos moldes da Samumed – fundada em 2003 pela norte-americana Elizabeth Holmes que prometia realizar testes laboratoriais exatos, baratos e confiáveis com apenas algumas gotas de sangue. Com publicidade agressiva, investimento pesado de grandes figuras empresariais e políticas, Holmes levantou um capital que fez com que a Theranos chegasse a valer 9 bilhões de dólares. Acusada de fraude por nunca entregar o prometido, a empresa sofreu com escândalos e hoje tem valor muito menor, além de todo o descrédito. O desenrolar do caso foi noticiado pelo Setor Saúde. O caso da Theranos, de fato, serviu para que o mercado se tornasse mais cético a novas startups do ramo.

Mesmo assim, não é de surpreender que a Samumed tenha se tornado uma das mais altas apostas entras as empresas de biotecnologia. O que a diferencia da Theranos, é a transparência ao adotar uma postura de abrir os seus dados e resultados ao mercado. Antes que cheguem ao mercado, os tratamentos terão de ser aprovados pela agência reguladora de medicamentos norte-americana, a FDA – algo que também não ocorreu com a Theranos, que lançou seus testes de sangue sem grandes auditorias da FDA. Quando a crise da Theranos eclodiu, a FDA pediu mais mais dados sobre a precisão dos exames, expondo os problemas de veracidade da tecnologia.

A ciência por trás

Os nossos corpos estão equipados com algo chamado células-tronco progenitoras. Estas células são responsáveis pela reparação e reposição de órgãos específicos no corpo. Por exemplo, uma célula-tronco mesenquimal da linhagem osteoblástica pode entrar e reparar o osso que está danificado. Esse processo tem algo a ver com a via WNT, um conjunto de proteínas que dizem para essas células-tronco entrarem em ação.

“Ao marcar para cima ou para baixo vários genes WNT ou processos WNT, você pode acionar qualquer uma dessas células-tronco progenitoras de uma certa linhagem”, disse Kibar.

À medida que envelhecemos, nossos níveis de WNT começam a ficar fora de equilíbrio, afirmou o CEO da Samumed. “Se os níveis de atividade WNT já não podem aumentar de tal forma que não está fazendo osso suficiente, agora você desenvolver osteoporose”, completou. O que a Samumed espera fazer é manipular o caminho que faz com que essas células-tronco progenitoras entrem em ação, para que elas não causem essas doenças.

Por exemplo, a Samumed tem um tratamento para a alopecia androgenética, uma forma comum de perda de cabelo. A ideia é que, usando o tratamento, as pessoas com alopecia serão capazes de regenerar alguns dos seus folículos pilosos perdidos, que são a camada de células e tecido conectivo que envolve a raiz de um cabelo e são críticos para o seu crescimento. A empresa terá que mostrar que o tratamento funciona melhor do que o placebo na regeneração do cabelo. E, mesmo assim, ainda há algum ceticismo sobre quanto tempo os efeitos vão durar.

Enquanto o programa de perda de cabelo da Samumed pode ter ainda mais informações e dados para coletar, seu programa de osteoartrite é o mais próximo de entrar em um teste de fase três, contou Yusuf Yazici, chefe médico da Samumed. A fase três é quando a droga ou tratamento é dado a grandes grupos de pessoas para confirmar sua eficácia, monitorar efeitos colaterais, compará-lo com tratamentos comumente usados e coletar informações que permitirão que o medicamento ou tratamento seja usado com segurança.

Esse programa está tentando regenerar a cartilagem no joelho para substituir o que está perdido em pacientes com osteoartrite, uma condição que afeta 30 milhões de americanos e anualmente 2 milhões de brasileiros. Se for bem sucedido, poderia ser o primeiro tratamento para crescimento de cartilagem.

A Samumed tem ainda sete drogas em testes clínicos humanos que já se encontram na fase dois – quando a droga ou tratamento é dado a um grupo maior de pessoas para ver se é eficaz e para avaliar ainda mais a sua segurança – e planeja estar em 10 áreas até o final de 2017. A Samumed também está aplicando sua tecnologia de ativação de WNT em tratamentos para câncer de cólon, doenças degenerativas dos discos da coluna e tendinopatia, bem como para cosméticos, a fim de eliminar rugas.

samumed_boss

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