Mundo | 23 de novembro de 2017

Startup de 5 bilhões de dólares desenvolve vacina personalizada para combater o câncer

Tratamento começou a ser testado em uma mulher com câncer no pulmão
Startup de 5 bilhões de dólares desenvolve vacina personalizada para combater o câncer

A empresa de biotecnologia Moderna Therapeutics está desenvolvendo uma vacina que prepara o corpo para atacar tumores e combater o câncer. O procedimento começou a ser testado em Glenda Cleaver, de 67 anos e com câncer de pulmão, que estava sendo tratada no Sarah Cannon Research Institute, em Nashville, Tennesse (EUA). Uma pequena amostra do tecido cancerígeno foi recolhida e enviada para Kentucky, junto a um pequeno recipiente de sangue congelado da paciente, onde entrou num sistema de monitoramento. Após, foi feito o escaneamento do código genético do tumor e comparado ao do sangue, em busca das alterações malignas que deram origem ao câncer de Glenda, que passou assim a ser a primeira pessoa a ter a sua própria vacina contra o câncer.

A Moderna Therapeutics é uma das maiores startups de biotecnologia dos Estados Unidos, e está avaliada em 5 bilhões de dólares. Sediada em Cambridge, Massachussets, conseguiu atrair 1,9 bilhão de dólares de investidores e parcerias com indústrias farmacêuticas, desde a sua fundação, em 2010.

A empresa afirma que pode melhorar a forma que os fármacos são produzidos. Os medicamentos tradicionais de biotecnologia baseados em proteínas são cultivados em cubas e colhidos de organismos vivos, em um processo complexo e caro. A empresa quer tornar possível ser o próprio corpo a criar o seu medicamento, por meio de instruções genéticas denominadas pelo RNA mensageiro (RNAm).

O RNAm é depois ligado a um código informático e com a combinação certa de letras, a Moderna Therapeutics afirma ser possível entrar nos mecanismos que criam as proteínas das células para criar o tratamento dentro do próprio corpo. Se funcionar, o RNAm pode ter as mais variadas aplicações: doenças infecciosas, complicações cardiovasculares ou doenças raras.

“Seria uma enorme conquista tecnológica para abrir o espaço para vacinação contra câncer, tendo em vista o histórico de falhas”, diz David Nierengarten, analista de biotecnologia da Wedbush Securities.

Porém, esta tecnologia ainda não está comprovada e é difícil canalizar o RNAm para células certas, sem que o sistema imunitário as destrua. Por isso, há várias maneiras pelas quais a Moderna poderia falhar. Apenas cerca de um em cada 10 medicamentos biotecnológicos o fazem dos primeiros ensaios humanos para o mercado. O RNAm também pode não durar o suficiente no corpo para induzir uma forte resposta imune. Além disso, o câncer é um inimigo indescritível.

“O tumor tem todos os tipos de truques para lutar”, disse Greg Lizee, especialista em imunologia tumoral do Anderson Cancer Center.  “Os cânceres podem reduzir alvos na superfície ou secretar coisas desagradáveis que são tóxicas para o sistema imunológico”, completou.

Os investigadores acreditam que alguns tipos de câncer se espalham porque o sistema imunológico não reconhece as células malignas como “estrangeiras”. Esta vacina pode ensinar o corpo a reconhecer proteínas que só aparecem nas células cancerígenas.

Por enquanto, esta terapia está sendo testada somente em pacientes cujos tumores já foram removidos. Se a vacina provar a eficácia no combate ao câncer de pulmão de Glenda Cleavere nos primeiros pacientes, a empresa quer começar a fazer o teste em pacientes com câncer ativo. A Moderna Therapeutics estima que os primeiros resultados sejam divulgados no final de 2018.

As recentes novidades na luta contra o câncer

Hoje, medicina personalizada é a palavra da moda na saúde. O custo atual do sequenciamento de um genoma completo caiu para cerca de 2 mil dólares (custava milhões no início dos anos dois mil). As drogas contra o câncer agora são rotineiramente acompanhadas de testes diagnósticos e são administradas apenas a pacientes com as características genéticas adequadas.

Os cientistas acreditam que alguns tipos de câncer se espalham porque o sistema imunológico não reconhece células malignas como “estrangeiras.” A vacina da empresa Moderna ensinaria o corpo a reconhecer alvos proteicos que aparecem apenas nas células cancerígenas.

Mais empresas no mercado

A Moderna não está sozinha e possui concorrentes no mercado.  Pesquisadores do Instituto Dana-Faber, de Boston, nos Estados Unidos, e da Corporação Biofarmacêutica Novas Tecnologias (BioNTech), em Mainz, na Alemanha, mostraram a viabilidade da produção de vacinas personalizadas para melanoma, tipo agressivo de câncer de pele. Os cientistas extraíram o melanoma e fizeram a análise genética do tumor dos participantes dos estudos — 13, no norte-americano, e seis, no alemão —, identificando as variantes do DNA tumoral de cada um deles.

A Neon Therapeutics, cujos escritórios ficam próximos da Moderna Therapeutics em Cambridge, espera resultados do seu primeiro estudo, sobre o tratamento de melanoma, câncer de pulmão e câncer de bexiga no início de 2018. A empresa está executando um ensaio clínico maior da vacina neoantigênica NEO-PV-01. Com 125 milhões de dólares de investidores privados, a empresa “está bem financiada para concluir esse trabalho”, disse um porta-voz.

 

*Com informações da Bloomberg e Saúde Online. Edição do Setor Saúde.

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