Senai e grandes indústrias se mobilizam para consertar 3,6 mil ventiladores pulmonares
Entenda a importância vital dos ventiladores pulmonares no tratamento da Covid-19
Um dos grandes impasses que os países estão passando no enfrentamento a Covid-19 (doença causada pelo novo coronavírus) é a escassez de ventiladores pulmonares. Com espantoso aumento de casos da doença – no dia 30 de março, o mapa em tempo real aponta 770 mil casos da doença pelo mundo -, a requisição pelo equipamento disparou. A garantia de hospitais terem este tipo de equipamentos pode fazer a diferença e garantir a vida de pacientes em estado grave. A Itália, por exemplo, sofreu muito com a falta de ventiladores, o que pressionou muitos médicos a terem que decidir qual paciente receberia o tratamento com o aparelho.
Estima-se que estão fora de operação no Brasil mais de 3,6 mil ventiladores pulmonares. Para solucionar o problema, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e dez grandes indústrias farão a manutenção de respiradores mecânicos que estão sem uso, para ajudar no tratamento de pacientes com a Covid-19.
Desde segunda-feira (30), os equipamentos podem ser entregues pelos gestores de saúde em 25 locais espalhados por 13 estados: Bahia, Ceará, Espírito Santo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. Dez deles são unidades do Senai e 15 são locais das empresas ArcerlorMittal, Fiat Chrysler, Ford, General Motors, Honda, Jaguar Land Rover, Renault, Scania, Toyota e Vale.
Veja abaixo os endereços e contatos
ESTADO | LOCAL | CONTATO |
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BAHIA | SENAI CIMATEC Av. Orlando Gomes, 1845 Piatã Salvador/BA |
Daniel Motta dmotta@fieb.org.br (71) 3534-8090 |
FORD – (Camaçari) – SENAI CIMATEC Av. Orlando Gomes, 1845 Piatã Salvador/BA |
Daniel Camargo dcamarg5@ford.com (15) 98122-3620 |
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CEARÁ | Instituto SENAI de Tecnologia em Eletro-metalmecânica Avenida de Contorno, 1395 Distrito Industrial Maracanaú/CE |
João Luís Giffoni jlpinheiro@sfiec.org.br (85) 99122-2616 |
ESPÍRITO SANTO | Vale – Unidade Vitória Portaria Carapina, Rodovia Norte-Sul Manoel Plaza Serra/ES |
Fernando Dellacqua fernando.dellacqua@vale.com (27) 98111-0737 |
MATO GROSSO | SENAI Várzea Grande Av. Dom Orlando Chaves, 1.536 – Pte. Nova Várzea Grande/MT |
Rinaldo dos Santos supervisao.vg@senaimt.ind.br (65) 3688-1230 |
SENAI Rondonópolis Rua Ademir de Jesus Ribeiro, 3147 – Parque Res. Universitário – Rondonópolis/MT |
Diego Henrique de Andrade diego.andrade@senaimt.edu.br (66) 2101-5002 |
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MATO GROSSO DO SUL | SENAI FATEC Campo Grande Afonso Pena, 1114 Amambai Campo Grande/MS |
Thales Mauricio Saad thales.saad@ms.senai.br (67) 99685-4548 |
MINAS GERAIS | Centro de Inovação e Tecnologia SENAI FIEMG Av. José Cândido da Silveira, 2000 Horto Belo Horizonte/MG |
Júlio Cézar Alvarenga jcalvarenga@fiemg.com.br (31) 3489-2081 |
Fiat Chrysler Automóveis (FCA) – Planta Betim Av. Contorno, 3455, Portaria 2 – Paulo Camilo Betim/MG |
Leonardo Amaral leonardo.amaral@fcagroup.com (31) 97169-5007 |
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ArcelorMittal Centro de Inovação ArceolorMittal para Indústria (CIAMI) Av. José Cândidto da Silveira, 2000 Horto Belo Horizonte/MG |
Omar Menenzes omar.menezes@arcelormittal.com.br (32) 98873-1261Alexandre Caldeira alexandre.caldeira@arcelormittal.com.br (31) 98482-0965 |
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PARANÁ | Instituto SENAI de Tecnologia em Metalmecânica R. José Corrêa de Águiar, 361 Jardim Leblon – Maringá/PR |
Lidia Gomes Mendonca lidia.gomes@sistemafiep.org.br (44) 3293-6700 |
Renault – Planta Curitiba Av. Renault, 1300, Portaria 5 CMO São Jose dos Pinhais Curitiba/PR |
Evandro dos Santos evandro.dos-santos@renault.com (41) 99251-6177 |
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PERNAMBUCO | SENAI Escola Santo Amaro Av. Norte Miguel Arraes de Alencar, 539 Santo Amaro Recife/PE |
Oziel Carmo Alves oziel.alves@sistemafiepe.org.br (81) 99660-7827 |
Fiat Chrysler Automóveis (FCA) – Planta Pernambuco Rodovia BR 101 – Norte KM 13 a 15 S/N Portaria 1 Nova Goiana/PE |
Leonardo Amaral leonardo.amaral@fcagroup.com (31) 97169-5007 |
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RIO DE JANEIRO | Jaguar Land Rover América Latina e Caribe Avenida Industrial Alda Bernardes de Faria, 1555 Distrito Digital Itatiaia/RJ |
Marcos Arezo marezo@jaguarlandrover.com (24) 99958-4094 |
RIO GRANDE DO NORTE | SENAI Natal Avenida Capitão Mor Gouveia, 2770 Lagoa Nova Natal/RN |
Antônio Marcos de Medeiros ammedeiros@isi-er.com.br (84) 3204-8115 |
RIO GRANDE DO SUL | General Motors – Planta Gravataí Rodovia BR 290 km 67 Gravataí/RS |
Edgar Hackbart edgar.hackbart@gm.com (51) 99897-1024 |
SANTA CATARINA | Instituto SENAI de Inovação em Sistemas de Manufatura e Processamento a Laser Arno Waldemar Dohler, 308, Santo Antônio Joinville/SC |
Alceri Schlotefeldt alceri@sc.senai.br (47) 3441-7771 |
General Motors – Planta Joinville Rodovia BR 101, km 47 Joinville/SC |
Luiz F. Duccini luizfernando.duccini@gm.com (47) 99981-0318 |
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SÃO PAULO | General Motors – Planta São Caetano do Sul Rua João Pessoa, altura do nº 500, Portão 8 São Caetano do Sul/SP |
Clayton Silva clayton.silva@gm.com (11) 94498-9265 |
General Motors – Planta São José dos Campos Avenida General Motors 1959, Portaria 3 Ronda São José dos Campos/SP |
Ricardo Reis ricardo.reis@gm.com (12) 98825-8041 |
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General Motors – Planta Indaiatuba Estrada General Motors s/n Bairro Caldeira Indaiatuba – SP |
Rodrigo Borba rodrigo.borba@gm.com (19) 98309-0060 |
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Toyota – Planta Sorocaba Avenida Toyota, 9005 Itavuvu Sorocaba/SP |
Gustavo Noronha gnoronha@toyota.com.br (19) 99604-6440 |
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Honda Automóveis do Brasil – Fábrica de Sumaré Estrada Municipal Valêncio Calegari, 777 Nova Veneza Sumaré/SP |
Bruno Gobbi bruno_gobbi@honda.com.br (19) 98198-7147 |
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Scania – SBC Avenida José Odorizzi, 151 Vila Euro São Bernardo do Campo/SP |
Juliana Sá Nakahashi juliana.sa@scania.com (11) 4104-7778 |
A importância vital dos ventiladores pulmonares no tratamento da Covid-19
Os respiradores mecânicos são essenciais no tratamento de doentes graves da Covid-19 (doença causada pelo novo coronavírus), pois o vírus provoca forte insuficiência respiratória nos pacientes, com alta letalidade. Nas estimativas sobre a doença, já se sabe que a maioria das pessoas infectadas com o SARS-CoV-2 (o vírus que provoca a Covid-19) vai ter apenas sintomas leves – tosse, dificuldade respiratória, febre —, e que cerca de 80% dessas pessoas poderão ser tratadas em casa. Entretanto, 15% serão internados e 5% dos infectados irá precisar de cuidados intensivos. É para o grupo mais grave que a presença dos ventiladores pulmonares poderá ser vital.
Pelo menos é esta a opinião de Sarath Ranganathan, diretor do serviço de medicina respiratória e do sono no The Royal Children’s Hospital de Melbourne (Austrália), que falou ao The Guardian sobre a questão dos ventiladores: “A experiência na Itália e Espanha, e o modelo usado por matemáticos em todo o mundo, indica que o número de pessoas que irão ficar criticamente doentes com Covid-19 irá exceder muito a capacidade de as tratar com apoio respiratório. Sem acesso aos ventiladores, muitos pacientes que poderiam sobreviver à doença irão morrer”, afirma.
Como funcionam
Um ventilador pulmonar é uma pequena máquina usada para auxiliar a respiração de pessoas com doenças respiratórias graves com impacto nos pulmões – como a pneumonia ou a Covid-19.
O doente é sedado e recebe um relaxante muscular – normalmente este processo é feito por um médico anestesista — antes de ser entubado. O tubo é colocado através da boca até à traqueia e depois ligado ao ventilador pulmonar. Uma vez ligado, o ventilador bombeia ar e oxigênio até aos pulmões, sendo que os médicos podem ajustar a velocidade e a quantidade de oxigênio.
Se o doente precisar ficar ventilado durante muito tempo, poderá ser feita uma traqueostomia, ou seja, abrir um buraco na garganta para que o tubo chegue diretamente à traqueia. Esta opção não traz problemas a longo prazo e permite que os doentes fiquem conscientes.
Como se escolhe quem precisa? Quanto tempo dura o tratamento?
Para que os médicos tomem a decisão de ligar um doente a um ventilador, precisam identificar sinais de falha respiratória grave nos doentes. “A velocidade de respiração aumenta, as pessoas ficam aflitas, o gás carbônico (CO2) no sangue se eleva e podem até ficar confusas”, explica David Story, diretor-adjunto do Centro Integrado de Cuidados Intensivos da Universidade de Melbourne, em entrevista ao The Guardian.
Porém, antes de recorrer aos ventiladores, os médicos vão tentar outras formas de regularizar os níveis de oxigênio do doente, com métodos não invasivos. Quando a alternativa não funciona e o médico responsável determina que é necessário um ventilador pulmonar, começa a luta contra o tempo. Numa situação crítica, os médicos têm apenas cerca de 30 minutos para ligar o paciente a um ventilador. E, no caso da Covid-19, os doentes podem ficar ventilados durante várias semanas (o tempo médio nas experiências da China e Itália é de 2 a 3 semanas).
Brasil
O Brasil conta hoje com 65.411 respiradores, dos quais 46.663 estão disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS) e 18.748 na rede privada, segundo dados do Ministério da Saúde. Entretanto, apenas 61.219 estão aptos para uso.
Situação em outros países
Em Portugal, de acordo com os números da Direção-Geral de Saúde do país, há 1142 ventiladores – 528 nos cuidados intensivos, 480 em bloco operatório e 134 como capacidade de expansão – no setor público e 250 no sector privado. Aos já existentes, irão somar-se mais 500 ventiladores vindos da China.
Na Austrália, investiga-se se os ventiladores usados por veterinários podem ser convertidos e usados em humanos, assim como as máquinas usadas para casos de apneia do sono e por anestesistas. Os ventiladores das ambulâncias também estão na retaguarda, pois podem servir de auxílio em caso de necessidade.
Na Alemanha, o Governo pediu às construtoras de automóveis que se concentrem na produção de equipamentos médicos, como máscaras ou ventiladores.
Na Itália, duas gigantes dos automóveis – a Ferrari e a Fiat – também se mostraram disponíveis para construir estes aparelhos. Na Espanha, a Seat também anunciou o mesmo.
Nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump invocou a Lei de Produção de Defesa, uma norma que remonta à Guerra da Coreia, a fim de obrigar a General Motors (GM) a fabricar respiradores para assistir a pacientes com coronavírus (Covid-19).
Ainda nos Estados Unidos, em Nova Iorque (local que concentra o maior foco da doença no país no momento), face à escassez destes aparelhos, as equipes de anestesistas e cuidados intensivos do Hospital Presbiteriano de Nova Iorque experimentaram colocar dois doentes ligados a um mesmo ventilador, através de um tubo com uma divisão, como descreve matéria da Reuters. Até agora foi bem-sucedida, mas a comunidade médica alerta para os riscos: os dois pacientes podem não precisar do mesmo nível de oxigênio, por exemplo.
Conectar vários pacientes em um mesmo ventilador não é seguro
Para compensar a escassez, alguns médicos sugeriram em um vídeo na internet, a divisão de ventilador: dividir mangueiras para que um ventilador pudesse teoricamente tratar quatro pacientes. Porém, a Sociedade Americana de Anestesiologistas emitiu um alerta, em conjunto com outras cinco associações médicas, como a Sociedade de Medicina Intensiva e a Associação Americana de Cuidados Respiratórios: é impossível compartir com segurança um ventilador e ainda fornecer atendimento de qualidade.
“A fisiologia dos pacientes com síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA) com COVID ‐ 19 é complexa. A tentativa de ventilar vários pacientes com COVID-19 pode levar a maus resultados e altas taxas de mortalidade para todos os pacientes coortes.”
E citam alguns motivos para abolir este tipo de prática: O gerenciamento individualizado para melhoria ou deterioração clínica seria impossível; a pressão expiratória final positiva, que é de importância crítica nesses pacientes, seria impossível de controlar; e ainda, no caso de uma parada cardíaca, a ventilação de todos os pacientes precisaria ser interrompida, dentre outras.
A questão ética também é um dos alertas no documento das entidades: “Finalmente, há questões éticas. Se o ventilador puder salvar a vida de um único indivíduo, usá-lo em mais de um paciente por vez ocasionará o risco de falhar o tratamento e provocar a morte de todos eles. ”
Achatar a curva de infectados
A mensagem, no entanto, mantém-se. Para que sejam precisos menos ventiladores, é preciso reduzir o número de pessoas infectadas com a doença, seguindo os conselhos das autoridades sanitárias, como o reforço do distanciamento social e as regras de higiene, e garantir que não adoecem todas ao mesmo tempo, sobrecarregando os sistemas nacionais de saúde. Ou seja, é preciso “achatar a curva” de novas infecções.