Gestão e Qualidade | 6 de novembro de 2015

“Ranço ideológico” prejudica avanço da saúde nacional

Maniqueísmo entre público e privado deve ser superado, diz Balestrin
Ranço ideológico prejudica avanço da saúde nacional

Em artigo publicado dia 4 de novembro no jornal Estado de São Paulo, o presidente da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), Francisco Balestrin (foto), analisa o movimento que tem inviabilizado a saúde nacional, apontado por ele como “uma tentativa maniqueísta de partir a sociedade entre ‘nós’ e ‘eles’”. Balestrin foi recentemente eleito como futuro presidente da Federação Internacional dos Hospitais (IHF – International Hospital Federation), entidade que congrega mais de 50 mil hospitais e estabelecimentos de saúde de mais de cem países e que atende cerca de três bilhões de pessoas.

De acordo com o texto, intitulado “O Ranço Ideológico”, Balestrin analisa essa dualidade dentro do setor saúde, que se materializa na ruptura entre público e privado. “Existe um embate ideológico entre grupos que pensam que a Saúde, para ser boa e adequada, deve ter origem pública e estatal. Outros defendem que a assistência apropriada só pode ser privada e privatizada. Aparentemente, os dois julgamentos sustentam enganos”, considera.

“A sociedade ruma para um ambiente em que projetos e propostas põem unicamente o cidadão no centro das intenções e das atenções. Assim, não importa a natureza da prestação do serviço, desde que haja uma visão clara focada no cliente/paciente, num ambiente de acolhimento, qualidade, equidade, honestidade e segurança”.

Segundo Balestrin, o melhor caminho deve ser a integração entre público e privado, o que pode gerar intercâmbio de experiência, redução de custos e esforços. “Não se trata de utopia, mas de um caminho que já mostrou ser viável em algumas experiências bem-sucedidas”, diz ele, citando o exemplo do Hospital do Subúrbio, em Salvador, que trabalha no modelo de Parceria Público-Privada (PPP). “Inaugurado há cinco anos, o hospital, hoje com 373 leitos e 1,5 mil funcionários, é publico e gerido por um operador privado e oferece acesso aos pacientes do SUS com qualidade, segurança assistencial, e de forma gratuita.

Outra possibilidade citada pelo presidente da Anahp são as Organizações Sociais (OSS), “em que é outorgada a uma entidade privada, sem fins lucrativos, a competência de gerir aparelhos públicos de saúde em linha com sua missão de benemerência, necessariamente de interesse da comunidade”. Ele destaque que essa gestão já é aplicada pelos hospitais Albert Einstein, Sírio-Libanês, entre outros.

No Brasil existe o mito, ou o devaneio, de que a assistência privada é superior à pública. Essa mentalidade vem da constatação de que o agente público prestador do serviço, muitas vezes, não consegue manter parâmetros assistenciais independentes de orientações ideológicas e corporativistas, considera Balestrin.

Por fim, a segregação entre “nós e eles”, entre saúde pública e privada, evidencia apenas as lacunas de gestão, mais acentuadas, em geral, no primeiro segmento. O setor privado tem demonstrado maior rigor estratégico e flexibilidade operacional não só na área de saúde, mas em todas que exigem maior atenção em recursos humanos, investimento em infraestrutura e gestão. “Mas, enquanto estivermos neste embate político, a população que depende do serviço público continua na fila do pronto atendimento. Só quando o Estado fizer valer o direito à saúde como um bem fundamental do cidadão é que as barreiras – ideológicas, territoriais ou tecnológicas – se quebrarão. Então, não existirá mais ‘nós’ e ‘eles'”, conclui o artigo.

Novo presidente da IHF

A eleição e posse de Francisco Balestrin ocorreu durante o 39º Congresso Mundial de Hospitais da IHF, em Chicago (EUA). O mandato, de acordo com o modelo da entidade, passará a vigorar a partir de 2017. O médico José Carlos Abrahão, que hoje comanda a ANS, foi presidente da IHF, entre os anos de 2009 a 2011.

O Comitê Executivo da IHF é formado por três presidentes – passado, presente e o designado – e de um diretor tesoureiro. Para a gestão 2015-2017, respondem pelo cargo de presidente o norueguês Erik Kreyberg Normann (passado), o sul-coreano Kwang Tae Kim (presente) e como presidente designado, Francisco Balestrin. “Temos uma grande identidade com a IHF, cujo papel é o de contribuir com os hospitais na ampliação do nível de serviços com segurança e qualidade, além de oferecer suporte para a educação continuada de seus profissionais. Esta é uma oportunidade importante para que o Brasil contribua com as principais discussões sobre saúde no mundo e compartilhe das melhores práticas mundiais de assistência”, afirmou Balestrin.

Destaques da Saúde 2015 

No dia 2 de dezembro, Balestrin será um dos homenageados do Prêmio Destaques da Saúde 2015, evento promovido pela Federação dos Hospitais e Estabelecimentos de Saúde do Rio Grande do Sul (Fehosul). O coquetel de confraternização, que reunirá lideranças do setor, será realizado no Centro de Eventos do Plaza São Rafael, em Porto Alegre, juntamente com o Sindicato dos Hospitais e Estabelecimentos de Saúde de Porto Alegre (Sindihospa).

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