Projeto usa IA para criar calculadora que estima risco de suicídio
Semana Científica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre vai reunir iniciativas de inovação em saúde.
Um projeto de pesquisa em andamento no Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) e na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) como centro coordenador pretende criar uma calculadora que estima o risco de suicídio de pacientes que já estiveram internados em instituições que ofertam internação psiquiátrica. O projeto vai ser apresentado nesta quinta-feira (25) na 45a Semana Científica do HCPA – uma parte da programação do evento, o Summit HCPA, vai apresentar pitches sobre inovação em saúde. Vale lembrar que estamos no Setembro Amarelo, mês dedicado à conscientização e prevenção do suicídio.
A ideia da calculadora é utilizar o aprendizado de máquina (sub-área da inteligência artificial) para criar essa ferramenta. A partir de um algoritmo de inteligência artificial (IA), são fornecidos dados de pacientes que tentaram e de pacientes que não tentaram suicídio, dentro do período (a chamada janela de risco) do pós-alta da internação psiquiátrica. A intenção é que o algoritmo seja capaz de captar os padrões clínicos, comportamentais, sociodemográficos e de história de vida associados ao comportamento suicida, e utilizar a ferramenta em pacientes novos. Assim, pretende-se que a calculadora seja capaz de estimar de forma acurada o risco de uma tentativa de suicídio para este determinado paciente.
O estudo ainda está em fase de coleta de dados nos centros de pesquisa ao redor do Brasil, mas dados preliminares já estão sendo apresentados em congressos científicos. A meta é coletar dados de cerca de mil pacientes acima de 18 anos em todo o país. Até julho de 2025, já haviam sido avaliados 381 pacientes (71% mulheres) internados ou em atendimento ambulatorial em oito centros de pesquisa no Brasil. Destes, 122 foram reavaliados no acompanhamento de 3 meses e 50 indivíduos, no acompanhamento de 6 meses. A maioria das entrevistas iniciais (39,6%) foi realizada no Hospital de Clínicas de Porto Alegre e Hospital Espírita de Porto Alegre. Os pacientes internados responderam questionários de pesquisa poucos dias antes da alta psiquiátrica ou em data agendada com os pesquisadores (para pacientes ambulatoriais), e depois três, seis e doze meses a partir da primeira avaliação.
O projeto é coordenado pelo professor do Serviço de Psiquiatria do HCPA, Ives Passos, em parceria com a Universidade de Columbia (Nova Iorque), além das instituições de ensino e estabelecimentos de saúde nacionais que também integram a pesquisa. O estudo é financiado por um edital do CNPq e do Ministério da Saúde, que também pretende munir a RAPS (Rede de Atenção Psicossocial) com instrumentos para mapear fatores de risco e monitorar o risco de suicídio. Também participam a Universidade Federal de Juiz de Fora, a Universidade Federal do Tocantins, Universidade Federal do Paraná, Universidade Católica de Pelotas, Universidade Federal da Fronteira Sul, Universidade Federal de Sergipe e a Universidade de Brasília.
Onde pedir ajuda
Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e o Centro de Valorização da Vida (CVV) oferecem ajuda para quem está passando por esse tipo de problema.
O CVV oferece apoio pelo telefone pelo 188, e funciona todos os dias, 24 horas por dia, incluindo feriados. Há também ações que o próprio sujeito pode fazer para promoção da sua saúde mental, como a prática regular de atividade física, sono regular e a espiritualidade Outro fator importante de proteção é o apoio social, com fortalecimento de laços sociais e familiares de qualidade.
Foto: Bruno Montezano, doutorando do Laboratório de Psiquiatria Molecular do HCPA. Crédito: Angélica Coronel/ HCPA.