Prevenção e atuação em desastres são tema de evento do Hospital Moinhos de Vento
Edição de maio do Grand Round trouxe convidados que colaboraram em situações extremas.Experiente na atuação em eventos adversos, sejam de origem natural ou humana, Mariana Serra foi enfática ao afirmar que a tragédia climática que afeta o Rio Grande do Sul resultou em “um cenário de guerra” e, como tal, “terá consequências de guerra”. A CEO da plataforma de ajuda humanitária internacional VVolunteer fala com a propriedade de quem atuou na guerra entre Rússia e Ucrânia, além de outros desastres, como o ocorrido em Petrópolis, no Rio de Janeiro, em 2022.
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Mariana foi uma das palestrantes do Grand Round desta terça-feira (21), evento promovido pelo Hospital Moinhos de Vento, que teve como tema a Medicina em Tempos de Desastres. O encontro contou com a presença da médica emergencista Silvana Dal Ponte (foto abaixo), que tem fellowship em Medicina de Desastre, e dos médicos intensivistas do Moinhos Juliana Andrade e Edino Parolo.
A CEO da VVolunteer defendeu a necessidade de informar e preparar a sociedade civil para atuar em situações extremas, como a que os gaúchos têm vivenciado nas últimas semanas. Segundo ela, estudos mostram que, na maioria dos casos de catástrofes, o primeiro atendimento é realizado por voluntários.
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“Eles não têm especialização, não sabem o que fazer e, muitas vezes, eles mesmos foram afetados. Atuar como voluntário é o que resta para eles”, disse. “Nesse cenário de guerra vai ser muito importante a união e a colaboração da sociedade civil. Tivemos mais 90% de um estado afetado pelas chuvas. É muito grave e necessário esse levante coordenado do setor público, do privado e da sociedade civil”, completou.
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Ela finalizou sua apresentação reforçando a importância da comunicação, da prevenção e da colaboração para o enfrentamento da crise atual e, também, para as próximas que virão.
Salvar vidas é prioritário
As cheias de 2023 do Vale do Taquari e o incêndio da boate Kiss, em Santa Maria, em 2013, foram alguns dos exemplos que a médica emergencista do Hospital de Clínicas Silvana Dal Ponte usou para ilustrar a palestra. Especialista em Medicina de Desastre, subespecialidade médica criada nos anos 1980, nos Estados Unidos, Silvana trouxe conceitos importantes da modalidade. Um dos principais diz respeito à formação das equipes de resposta às tragédias.
“É um grupo multidisciplinar que atua junto para oferecer um cuidado integral. Nem sempre os médicos são maioria nesses grupos”, destacou.
Em situações emergenciais, como as enchentes, a prioridade é a integridade da vida, seja dos afetados como das equipes de resgate. Posteriormente, deve-se atuar na estabilização do incidente, quando possível, e na preservação das propriedades.
“Todos os profissionais de saúde e gestores devem ter uma base, um conhecimento sobre a prática do preparo da fase de resposta a um desastre. É muito difícil fazer gestão em uma catástrofe. Ninguém está preparado, mas devemos tentar fazer da forma mais ordenada possível”, afirmou Silvana.
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O Grand Round encerrou com um debate entre os palestrantes, os médicos intensivistas do Moinhos Juliana Andrade e Edino Parolo, e moderação da gerente médica do Hospital Moinhos de Vento, Juçara Maccari. Nesse momento, Juliana e Edino compartilharam suas experiências à frente dos hospitais de campanha montados em áreas de resgate, como no Viaduto José Eduardo Utzig, localizado na Avenida Cairu, na zona norte de Porto Alegre, e do Gasômetro.
“Eram duas estruturas bem diferentes. Lá na Cairu, as pessoas chegavam machucadas, especialmente os do resgate. Um deles queria continuar atuando e tivemos que improvisar um curativo com papel filme”, relembrou Juliana.
“O que eu vi ali foi inspirador: a boa vontade de gente extremamente competente da sociedade civil”, relatou Edino, ao mencionar um empresário de tecnologia que atuou de forma exemplar na organização de todas as tendas de atendimento do Viaduto Utzig.
Além da oferta de consultas via telemedicina, o Hospital Moinhos de Vento está prestando atendimento em saúde à população que está nos abrigos de Porto Alegre e Canoas. Por meio do Instituto Moinhos Social, a instituição também arrecada recursos para auxiliar os atingidos pelas enchentes.