Mundo, Tecnologia e Inovação | 5 de agosto de 2015

Pesticida que mata pragas agrícolas pode ajudar na luta contra o câncer?

Para o laboratório Bayer a integração de estudos pode trazer benefícios
Pesticida que mata pragas agrícolas pode ajudar na luta contra o câncer

Os nematóides são minúsculos organismos que vivem em diversos ecossistemas, sendo geralmente – mas não necessariamente – parasitas. A lombriga, que vive no ser humano, é a mais conhecida popularmente. Já os nematóides que se alimentam de plantas, encontrados nas raízes e no solo, são pragas que dizimam grandes plantações, como soja, amendoim e algodão, por exemplo. O combate a esse pequeno verme, segundo o CEO da Bayer, Marijn Dekkers, pode ser muito útil no futuro da Bayer no tratamento do câncer.

Os nematóides chamaram a atenção da multinacional por propósitos destrutivos. Os pesquisadores desenvolveram um inseticida que acabava com o oxigênio, acabando com a praga na agricultura. Quando os cientistas analisaram esta abordagem de “sufocamento” com produtos farmacêuticos, foi considerada a possibilidade de usar essa técnica para acabar com células cancerígenas.

Os cientistas dos laboratórios da Bayer em Berlim estão explorando se o mesmo caminho pode beneficiar humanos e animais. O objetivo é sufocar a forma mais perigosa de câncer de pele em seres humanos, bem como a dirofilariose, que atinge cães com insuficiência cardíaca. Embora otimista, a Bayer ressalta que a pesquisa pode levar anos para chegar aos ensaios clínicos.

Com o projeto, Dekkers está dando um passo de transformação, dividindo a unidade de plásticos da Bayer em direção ao conceito (cross-species strategy), que vai interligar as unidades da multinacional para buscar resultados complementares.

A Bayer mantém uma biblioteca com 4 milhões de compostos, incluindo 600 mil novidades oriundas da unidade de produtos químicos de plantações. “Apesar de uma planta e um ser humano serem diferentes, muitos mecanismos a nível celular são movidos pelos mesmos fundamentos químicos”, salienta Dekkers.

As primeiras pesquisa focam em proteínas que podem atuar criando bloqueios para novas drogas. Essa forma de ação é encontrada no inseticida cujo princípio ativo é também usado para matar pulgas, como no caso do Advantage, produto para animais de estimação.

“A novidade agora é que estamos fazendo isso de uma forma muito mais sistemática”, destacou Liam Condon, que dirige a unidade de agricultura da Bayer, em matéria do jornal de negócios Bloomberg. O objetivo da empresa é “desenvolver produtos em paralelo, e não em sequência”, explica. Para isso, uma equipe de mais de 200 especialistas em ciência da computação, estatística e engenharia estão analisando os dados recolhidos através de todos os esforços da investigação.

Para Markus Manns, gestor de finanças da Union Investment Luxembourg SA, que detém 1% da Bayer, a estratégia é boa, porque as unidades equilibram-se mutuamente em termos de risco e de crescimento. “As sinergias entre a indústria farmacêutica e ciência agrícola são mínimas, especialmente na área de pesquisa e desenvolvimento”, considera ele. “Há definitivamente mais sinergias entre a saúde animal e humana, mas não muitas”.

A unidade de saúde – que inclui produtos para animais e seres humanos – foi a mais rentável unidade da Bayer em 2014, rendendo € 20 bilhões. No entanto, a menor unidade (agrícola), com € 9,5 bilhões em vendas, é o crescimento mais rápido. A colaboração expandida também significa combinar estudos de compostos que contenham os componentes básicos de futuros medicamentos.

VEJA TAMBÉM