Estatísticas e Análises, Mundo | 29 de setembro de 2020

Pessoas com Covid-19 e gripe ao mesmo tempo têm mais chances de óbito

Dados confirmam o perigo da coinfecção de influenza e Covid-19
Pessoas com Covid-19 e gripe ao mesmo tempo têm mais chances de vir a óbito

Pessoas com gripe e Covid-19 ao mesmo tempo têm duas vezes mais chances de morrer do que alguém que contraia apenas a Covid-19, confirma um estudo. A análise, da Public Health England (PHE), que avaliou casos de janeiro a abril de 2020, também descobriu que as pessoas com as duas condições simultâneas têm um maior risco de progredir para uma situação grave. A maioria dos casos de dupla infecção ocorreu em pessoas idosas, e mais da metade do grupo analisado veio a óbito. As informações são do British Medical Journal (BMJ).

Os dados da análise foram publicados no canal de pré-publicação medRxiv, e destacados pelo PHE quando o órgão lançou o programa de vacinação que pretende imunizar 30 milhões de ingleses residentes contra a gripe no próximo inverno europeu. O país possui mais de 67 milhões de habitantes. Os dados reforçam a importância da vacinação para impedir que a gravidade da doença alcance um contingente importante da população.


Jonathan Van-Tam, vice-diretor médico da Inglaterra, disse: “Existem agora algumas evidências emergentes que sugerem claramente que a coinfecção com influenza e Covid-19 produz resultados ruins. Uma dessas doenças é atualmente evitável com vacina, e esse é o ponto realmente importante”, avaliou.


O estudo estimou o impacto na mortalidade. Foram examinadas 19.256 pessoas que foram testadas para gripe e Covid-19 de 20 de janeiro a 25 de abril de 2020. Foram encontradas 58 pessoas com as duas doenças simultaneamente, entre as quais a mortalidade foi de 43,1% (25 pessoas). Dos que morreram, 80% (20) tinham mais de 70 anos.

As chances de morte foram 2,27 vezes mais altas do que em pessoas infectadas apenas pela Covid-19 e 5,92 vezes mais em comparação com pessoas sem gripe nem Covid-19. Os autores disseram que isso sugeria “possíveis efeitos sinérgicos” em pessoas coinfectadas.

Ainda, foi observado que o risco de teste positivo para SARS-CoV-2 foi 58% menor entre os casos positivos para gripe. A PHE disse que isso era consistente com as descobertas recentes de Nova York, onde menos de 3% das pessoas com teste positivo para SARS-CoV-2 tiveram coinfecção com gripe, enquanto 13% daqueles com teste negativo para SARS-CoV-2 foram positivos para gripe.

O estudo da PHE ainda aponta que casos em terapia intensiva e com uso de ventilador são indicadores adicionais de gravidade. Ao analisar pacientes com uso de ventilador mecânico, a chance de morte foi 6,43 vezes maior em pessoas com coinfecção do que naquelas sem vírus. E ao analisar admissão em terapia intensiva, a chance de morte foi 6,33 vezes maior em pessoas com coinfecção do que naquelas sem vírus.

Os autores disseram que isso mostrou fortes evidências de um efeito de interação quando comparado com os dois vírus agindo independentemente. Mas as descobertas não conseguiram distinguir entre um risco reduzido de SARS-CoV-2 em pessoas infectadas pela primeira vez com a gripe ou vice-versa.

Importância de proteção contra gripe

O PHE disse que evidências antigas mostram que ser infectado por um vírus respiratório indica que as pessoas têm menos probabilidade de serem infectadas por outro a curto prazo. Porém, o estudo aponta que mais pesquisas são necessárias para entender a relação entre a gripe e o SARS-CoV-2.


Yvonne Doyle, diretora médica da PHE, disse que a dupla infecção pode representar “sérios problemas”. Doyle disse que os dados do PHE forneceram “um sinal importante” sobre a necessidade das pessoas se protegerem contra a gripe. “A maioria dos [outros] estudos sobre gripe e Covid-19 são relatos de casos e podem estar sujeitos a viés de publicação, mas este trabalho em particular analisou registros de óbito, registros de hospitalização e registros de infecção confirmados em laboratórios. Portanto, estamos bastante confiantes de que reflete o que realmente acontece. Esta campanha vai reforçar a importância de levar a gripe a sério este ano e não ser complacente com isso”, disse.


 



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