Estatísticas e Análises | 14 de fevereiro de 2017

Pesquisa do Hospital de Clínicas de Porto Alegre traz mudança de paradigma no tratamento da hipertensão

Estudo sugere nova maneira de prevenir e de tratar a doença
Pesquisa do Hospital de Clínicas de Porto Alegre traz mudança de paradigma no tratamento da hipertensão

A maior causa de morte, em todo o mundo, são as doenças cardiovasculares e a hipertensão arterial – popularmente conhecida como pressão alta – é o principal fator de risco na grande maioria dos casos. Atualmente, para uma pessoa ser considerada hipertensa e começar o tratamento, sua pressão arterial deve ser maior ou igual a 140/90 mmHg (ou 14 por 9). No entanto, um estudo de âmbito nacional, que teve o Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) como centro coordenador, mostrou que o tratamento, quando iniciado ainda na fase de pré-hipertensão (valores entre 120/80 mmHg e 139/89 mmHg), reduz drasticamente o risco de o paciente desenvolver hipertensão no futuro.

O Estudo PREVER, como foi batizado, também mostrou que a combinação de dois diuréticos, para o tratamento da pressão alta, é mais eficaz e mais barata que um dos medicamentos oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), no Programa Farmácia Popular. De acordo com os coordenadores do estudo, Sandra Fuchs e Flávio Fuchs, o PREVER pode se tornar uma importante base para mudanças nas diretrizes nacionais e internacionais sobre hipertensão. Os resultados completos da pesquisa foram apresentados no HCPA em coletiva de imprensa, realizada no dia 14.

Com início em 2008, o projeto é o maior já realizado sobre o assunto no Brasil e inclui dois estudos independentes:

PREVER-1 (Prevenção), e

PREVER-2 (Tratamento).

No primeiro, os pesquisadores queriam descobrir se era possível prevenir a hipertensão utilizando medicamentos anti-hipertensivos em baixa dose. No segundo, eles investigaram se o tratamento anti-hipertensivo com diuréticos seria superior ao tratamento com losartana, medicamento hoje oferecido pelo Programa Farmácia Popular. “Nossas evidências mostraram que estamos passando da hora de rever as diretrizes sobre hipertensão”, conclui o professor Flávio. “Nós estamos fornecendo os dados científicos. Agora é o momento de os governantes pensarem em políticas públicas de saúde”, explica a professora Sandra.

No total, 21 centros de pesquisa, em geral ligados a universidades, participaram do projeto. Situados em dez estados, esses centros foram os responsáveis pela avaliação de mais de 18 mil voluntários. Ao final, cerca de 700 pessoas foram selecionadas para cada um dos estudos. “É importante que a comunidade tenha conhecimento desses dados, pois eles podem mudar a vida das pessoas”, afirma a presidente do Clínicas, professora Nadine Clausell.

Sobre o PREVER-1

Neste estudo, foram considerados elegíveis aqueles participantes com idade entre 30 e 70 anos, pré-hipertensos e sem doenças crônicas. Dos 18 mil avaliados inicialmente, 1.443 foram selecionados e aceitaram mudar seu estilo de vida (perdendo peso, consumindo mais alimentos saudáveis e reduzindo a quantidade de sal, praticando atividade física, reduzindo ou cessando o consumo de bebidas alcoólicas e cigarro). Passados três meses, 730 voluntários ainda permaneciam pré-hipertensos e elegíveis para o estudo. Esses participantes foram divididos em dois grupos: o primeiro recebeu o tratamento com uma associação de diuréticos (clortalidona + amilorida) em baixa dose e o segundo recebeu placebo. Os participantes eram acompanhados a cada três meses.

Após 18 meses, os participantes do primeiro grupo tiveram incidência de hipertensão arterial reduzida em quase 45%, em comparação com os participantes que tomaram placebo. Além disso, e pela primeira vez na literatura científica, demonstrou-se que o tratamento com diuréticos diminuiu a massa do coração – quando ela fica espessa, há risco maior para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares.

A coordenadora do PREVER Prevenção, professora Sandra Fuchs, defende:

“Nossos dados, assim como as evidências trazidas pelo estudo internacional Sprint, poderiam ser a base de uma iniciativa inovadora em saúde pública: a de começar o tratamento anti-hipertensivo a partir de valores de pré-hipertensão, utilizando as baixas doses de diurético empregadas em nosso estudo”.

Sobre o PREVER-2

Neste estudo, foram selecionados 655 participantes com hipertensão arterial estágio I (entre 140/90 e 159/99 mmHg) entre os 18 mil avaliados inicialmente. Aqui, os voluntários também foram divididos em dois grupos: o primeiro utilizou uma associação de diuréticos (clortalidona + amilorida) e o segundo ingeriu losartana, medicamento oferecido pelo Programa Farmácia Popular. Os participantes tinham consultas a cada três meses e, se a pressão não tivesse reduzido, a dose do medicamento anti-hipertensivo era dobrada e na consulta seguinte era acrescentado novo medicamento.

Ao final de 18 meses, os participantes do grupo que recebeu clortalidona + amilorida obteve redução de 2,3 mmHg na pressão sistólica, em comparação com o grupo que recebeu losartana. Além disso, mais pessoas do segundo grupo necessitaram de dose maior de anti-hipertensivo e de mais medicamentos para controlar a pressão arterial.

“O estudo foi feito porque suspeitava-se que a losartana fosse menos eficaz e foi a essa conclusão que chegamos. Os diuréticos deveriam ter preferência no manejo da hipertensão arterial, especialmente essa combinação que utilizamos no estudo. Ela inclusive poderia ser disponibilizada na Farmácia Popular, já que o custo é inferior a um terço do da losartana”, explica o coordenador do estudo PREVER Tratamento, professor Flávio Fuchs.

PERGUNTAS E RESPOSTAS SOBRE HIPERTENSÃO

O que é hipertensão, ou seja, pressão arterial elevada?

Quando corremos, praticamos esporte de moderada a alta intensidade ou quando nos assustamos, a pressão se eleva. Isso é normal e necessário para suprir as necessidades do corpo, dos músculos. Quando se mede a pressão arterial obtém-se uma medida, ou, se medirmos duas vezes, a média de duas medidas. Esses valores representam a pressão em uma ocasião, ou seja, pressão casual. Quando medimos duas ou mais vezes, repetidamente e em dias alternados, podemos calcular a média de todas as medidas, o que caracterizará a pressão usual. A pressão usual maior ou igual a 140/90 mmHg é que permite dizer que o indivíduo é hipertenso.

Quantas pessoas têm hipertensão?

Sabe-se que aproximadamente 29% dos indivíduos adultos no Brasil são hipertensos. Como a pressão alta não causa sintomas, a única maneira de saber se a pessoa tem hipertensão é medindo a pressão.

Qual a relevância de tratar e controlar a hipertensão?

Hipertensão arterial é o principal fator de risco para desenvolver infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral, condições que não só colocam em risco a vida dos indivíduos, como podem limitar a qualidade de vida, causar deficiências, ou doenças em outros órgãos, como olhos (retinopatia), rins (nefropatia) ou mesmo no coração (cardiopatia). Está bem demonstrado que o tratamento e o controle da pressão arterial reduzem o risco de desenvolver infarto, acidente vascular cerebral, doenças nas artérias coronárias (artérias do coração), insuficiência cardíaca ou morte por causas cardiovasculares.

O quanto a pressão deve baixar?

De um modo geral, o conhecimento atual indica que basta reduzir a pressão para valores menores do que 140/90 mmHg. Contudo, em 2015 foi publicado um estudo (Sprint) que mostra que indivíduos com hipertensão, alto risco cardiovascular ou com 75 anos ou mais, que tomavam medicamentos anti-hipertensivos e conseguiram reduzir a pressão para menos que 120/80 mmHg, tiveram menos infarto, acidente vascular cerebral, doenças nas artérias coronárias, insuficiência cardíaca, e morreram menos por causas cardiovasculares em comparação aos que apenas reduziram a pressão para menos de 140/90 mmHg. Isso é muito importante porque mostra que não basta ter pressão menor do que 140/90 mmHg, é preciso reduzir para menos de 120/80 mmHg.

Como fazer para baixar a pressão?

As pessoas devem adotar uma dieta saudável, sem sal ou com muito pouco sal, perder peso, não fumar, fazer atividade física e, caso tenham pressão alta, devem tomar os remédios para baixá-la.

Informações Assessoria Comunicação HCPA/Fotos Clóvis S. Prates. Edição SS. 

 

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