Estatísticas e Análises | 14 de abril de 2016

Otimismo com nova opção de tratamento de câncer de pulmão e melanoma

Dr. Bernardo Garicochea, oncologista gaúcho com atuação no Hospital Sirio-Libanês, entende que o medicamento Opdivo representa novo paradigma
Otimismo com nova opção de tratamento de câncer de pulmão e melanoma

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou, em abril, o medicamento Opdivo (Nivolumab), da farmacêutica Bristol, primeiro imunoterápico para tratamento de dois tipos de tumor: o melanoma (câncer de pele agressivo) e o câncer de pulmão. Segundo estudos, a droga aumenta a sobrevida e apresenta poucos efeitos colaterais em relação às terapias tradicionais.

Os imunoterápicos agem ativando o próprio sistema imunológico para que ele combata a doença. Para o oncologista gaúcho Bernardo Garicochea, coordenador de ensino e pesquisa do Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês e pós-doutorado em Biologia Molecular pelo Royal Postgraduate Medical School of London, a chegada do Opdivo representa um novo paradigma para os pacientes. “Cerca de 20% dos pacientes que usam o remédio estão há mais de cinco anos sem regressão”, declarou ao portal Setor Saúde.

“Estamos falando de remissão de câncer metastático pela primeira vez na história”, diz o médico. O Opdivo oferece “uma resposta nunca vista antes. Isso é novo, mas se vai representar a ‘cura’, precisamos de tempo. As pesquisas com pacientes mostraram longos períodos sem nenhum sinal da doença”.

O câncer de pulmão é o que mais mata no mundo. Dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca) estimam que 28.220 novos casos da doença serão diagnosticados no Brasil em 2016, cinco vezes mais do que os de melanoma.

Opdivo (Nivolumabe)

O Opdivo ajuda a fortalecer o sistema imune, melhorando a resposta do organismo contra as células cancerígenas, apresentando menos efeitos colaterais que os métodos de tratamento tradicionais como quimioterapia ou radioterapia. O medicamento é indicado para pacientes com câncer de pulmão em estágio avançado e cujo tratamento quimioterápico não obteve sucesso. Também pode ser usado para tratar melanoma nos casos em que o câncer se espalhou e já não pode ser removido com cirurgia. O uso deve ser definido pelo médico, dependendo do caso e tipo de tumor, mas normalmente é administrado no hospital, por infusão venosa, durante cerca de duas semanas, em sessões de 60 minutos por dia.

Segundo o especialista, o Opdivo “age de uma forma completamente diferente” das terapias tradicionais, explica o Dr. Garicochea. “É outro princípio. Ele bloqueia uma proteína que inibe o sistema imunológico. Para não ser destruído, o tumor produz os linfócitos. Como o sistema imune não reconhece essa anomalia, fica exausto. O que a medicação faz é fechar o caminho dessa proteína, não permite chegar ao linfócito, recupera a capacidade de ataque e o destrói”.

Valor do medicamento ainda não foi estabelecido

A Anvisa ainda está em negociação com a Bristol para determinar o preço do medicamento, processo que leva cerca de três meses. Nos EUA, cada aplicação do Opdivo custa cerca de US$ 15 mil (R$ 55 mil). O tratamento combinado com outras drogas pode custar US$ 500 mil ao ano (R$ 1,8 milhão).

“Os planos de saúde terão que cobrir. Quem tiver um plano completo terá acesso, mas é claro que vai dar problema de judicialização. Se o paciente tem uma doença grave, mortal e tem como tratar, ele buscará isso”, considera o Dr. Garicochea, lembrando que a aprovação não vale ainda para o sistema público. “É obvio que os pacientes vão buscar o tratamento juridicamente. Os outros são tratamentos tóxicos, debilitantes, ruins para o paciente. Esse é leve. A quimioterapia não cura ninguém. O Opdivo, talvez”, considera Bernardo Garicochea.

Já existe no mercado brasileiro outro imunoterápico indicado contra melanoma: o ipilimumabe, cujo nome comercial é Yervoy, também produzido pela Bristol.

Um campo promissor

A busca de imunoterápicos contra câncer é um campo promissor de pesquisa em oncologia. “Nos próximos anos vamos ouvir falar de outros medicamentos e aumentar ainda mais os tratamentos”, considera o especialista, que aponta o Pembrolizumab (Keytruda, fabricado pela Merck, já aprovado na Europa e EUA) como novo imunoterápico que pode ter uma relevância superior aos atuais tratamentos.

Dr. Garicochea diz que as novidades “estão começando com melanoma e pulmão, mas logo terá aprovação para outros tumores, como rim, linfoma não-Hodking, câncer de cabeça e pescoço, e também existem estudos para câncer de mama e intestino”. Ainda em 2016, o médico acredita que devem ser liberados, no Brasil, dois outros medicamentos para melanoma, e outro para pulmão.

Na quimioterapia, as células que se reproduzem mais rápido são destruídas – o que inclui as tumorais e também algumas células saudáveis. Já com a imunoterapia, as pesquisas geram entusiasmo no meio médico. “Falar em cura de doença metastática é complexo. Mas o que podemos dizer é que os pacientes podem ficar por muito tempo livre de sintomas. No mínimo, oferece uma sobrevida livre de doença”, diz Bernardo Garicochea. “Na resposta imunoterápica, vamos ter mais peças [medicamentos] para mexer [gerenciar]”, conclui Dr. Garicochea.

A Bristol Brasil afirma que está trabalhando para conseguir a aprovação da Anvisa para o Empliciti (elotuzumab), imunoterápico para mieloma múltiplo, já aprovado nos EUA. Ele atua tanto nas células tumorais quanto na ativação da defesa natural do sistema imunológico.

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