Estatísticas e Análises, Gestão e Qualidade | 9 de dezembro de 2016

O que uma cama de hospital pode ensinar sobre a segurança do paciente

O perigo de contrair infecção hospitalar por falha de projeto ou de assepsia correta
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Muito dos pacientes hospitalizados passam a maior parte do tempo em uma cama. Qualquer fluído corporal como sangue, fezes, urina, conteúdos estomacais, pode ficar depositado na cama. Sendo assim, a limpeza e desinfecção completa das camas entre cada utilização é fundamental para prevenir a propagação de microrganismos perigosos de paciente para paciente.

As infecções hospitalares são uma fonte perigosa de complicações. As chamadas infecções nosocomiais “não só expõem os pacientes a riscos de morbidade e mortalidade, mas também são um rombo sério nos orçamentos da saúde”, destaca uma publicação do portal norte-americano philly.com, do jornal The Philadelphia Inquirer.

Nos EUA, os Centros para Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) e outras agências governamentais acompanham atentamente a incidência de infecções. Quase todos os hospitais têm uma força-tarefa interna para identificar fontes e vetores destes micróbios. “Mas, é possível que uma cama hospitalar, em que milhões de pacientes deitaram para se recuperar, seja um vetor negligenciado no que se refere a infecções hospitalares?”, questiona o texto.

Um artigo publicado no JAMA Internal Medicine mostrou que pacientes em uso de um leito hospitalar ocupado por outros pacientes que receberam antibióticos são mais propensos a contrair Clostridium difficile, bactéria que pode causar diarreia e colite severa, muitas vezes fatal.

A reportagem do portal Philly cita o exemplo de uma paciente que passou por uma cirurgia no Hospital da Universidade da Pensilvânia. Após a operação, ela estava se recuperando em um leito de UTI TotalCare, da empresa Hill-Rom – sendo cuidada pelo mais qualificado grupo de médicos e enfermeiros. “No dia seguinte ao da operação, no entanto, ela notou algo muito perturbador: os trilhos laterais da cama tinham um total de quatro recipientes onde engates de cintos (para segurar um paciente) estavam localizados. Estes nichos, que são parcialmente obscurecidos pelo leito, estavam cheios de sujeira e detritos. Por tudo o que sabemos, eles poderiam conter material de risco biológico de pacientes anteriores”, alerta o texto.

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A administração do hospital e a equipe da UTI foram informados deste problema e responderam com preocupação apropriada e foi iniciada uma investigação interna. “O potencial de dano a partir desses nichos imundos ainda perturba profundamente”, diz o texto, assinado pelo cirurgião cardíaco Hooman Noorchashm, marido da paciente citada. “Ficamos chocados ao ouvir a vice-presidente executiva de relações públicas do hospital, Susan E. Phillips, afirmando ao jornal Inquirer que esses detritos não representavam risco e eram ‘inofensivos’ para os pacientes”.

Não há maneira de limpar definitivamente, muito menos desinfetar, estes nichos – não importa o quão dedicado e cuidadoso for o pessoal de limpeza do hospital. Em virtude da sua concepção, a sua posição e sua inacessibilidade, estes engates de cintos irão armazenar detritos que poderiam entrar em contato com o paciente vulnerável.

O nicho ser considerado algo de “nenhum risco” e “inofensivo” desafia a lógica, não importa com que ênfase se tente minimizar isso. “A FDA não é realmente tão rigorosa quando se trata de regulação segura de dispositivos médicos – como vários exemplos de desastres ao longo dos últimos cinco anos têm demonstrado repetidamente”, critica o texto.

Dr. Carlos Urrea, vice-presidente de assuntos médicos da Hill-Rom, empresa fabricante do leito hospitalar em questão (muito utilizados em todo o mundo, inclusive no Brasil)  respondeu a perguntas da mídia quase imediatamente após a denúncia. Ele indicou o compromisso em “garantir produtos seguros e eficazes” e como chefe de assuntos médicos da empresa, também prometeu “estar pessoalmente envolvido no entendimento desta questão e na determinação de medidas adequadas”. Mas não se conhece nada sobre uma ação realmente efetiva sobre o problema.

O hospital e a empresa deveriam emitir um alerta imediato a todas as instituições que usam o leito UTI TotalCare através da FDA, e disseram que vão agir rapidamente para corrigir esta falha de projeto, de modo a evitar a chance de pacientes entrarem em contato com esta fonte de contaminação.

“Se eliminar o risco de infecções hospitalares é uma prioridade do país, hospitais, fabricantes, a FDA e os CDC deveriam olhar para esse vetor de forma mais séria. Não faz sentido gastar bilhões de dólares por ano em recursos privados, estaduais e federais para combater as infecções hospitalares, utilizando antibióticos e novas tecnologias, e depois expor os pacientes ao potencial de contaminação nos leitos onde eles passam todo o seu tempo (de internação)” , resume a reportagem.

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