Gestão e Qualidade | 9 de dezembro de 2025

O papel dos hospitais frente às mudanças climáticas

Evento da FEHOSUL discutiu o tema no painel intitulado "AGORA OU NUNCA: A RESPONSABILIDADE DAS INSTITUIÇÕES DE SAÚDE NA CRISE CLIMÁTICA".  
O papel dos hospitais frente às mudanças climáticas

 A FEHOSUL promoveu na tarde desta sexta-feira (5) mais uma edição dos Seminários de Gestão. O evento ocorreu na Amrigs (Porto Alegre) e contou com temas variados, entre eles o painel “AGORA OU NUNCA: A RESPONSABILIDADE DAS INSTITUIÇÕES DE SAÚDE NA CRISE CLIMÁTICA”, com a participação de Gustavo Seferin (Arquiteto e Sócio Fundador da Seferin Arquitetos da Saúde) que abordou o tema Edificações Sustentáveis e Admilson Reis (Superintendente de Riscos, Qualidade e Responsabilidade Social do Hospital Moinhos de Vento) que apresentou as práticas ESG da instituição hospitalar. A mediação do debate ficou a cargo de Renata Gueresi (Coordenadora de Gestão da Qualidade do Hospital Ernesto Dornelles). O portal Setor Saúde apresenta a primeira matéria do evento. Durante esta  semana serão publicadas as demais matérias com conteúdos dos outros painéis do evento. Acompanhe.

seminarios de gestao dezembro 2025

O evento teve como patrocinadores o BANRISUL (ouro), ASTELLAS FARMA BRASIL (bronze) e MV (bronze). Os patrocinadores institucionais foram o Grupo São Pietro Hospitais e Clínicas, Hospital Ernesto Dornelles, Hospital Mãe de Deus, CliniOnco e Hospital Tacchini (Tacchini Saúde).

Decisões erradas do projeto arquitetônico geram impacto ambiental e financeiro

Gustavo Seferin (Arquiteto e sócio-fundador da Seferin Arquitetos da Saúde) destacou a importância dos hospitais se tornarem mais ativos em relação ao impacto ambiental de suas atividades. O especialista apontou  estratégias de gestão que podem ajudar a tornar as edificações mais sustentáveis e até mesmo mais rentáveis. “É importante os CEOs trabalharem a questão da gestão no prédio existente e nas estruturas futuras. O hospital é considerado como um vilão do meio ambiente. O estrutura hospital, por exemplo, é responsável por 5% da emissão de gás de efeito estufa. Isso contando só a parte energética. O segmento hospitalar é um poluente importante em termos de geração de resíduos. Isto porque concentra muitas pessoas, muitos funcionários.  Exige um consumo de água altíssimo, um consumo de energia altíssimo. Então acho que devemos começar por aí.”

Gustavo Seferin

“É preciso ter cada vez mais estratégias sustentáveis. Pensando no hospital já existente, há iniciativas que podem auxiliar a gestão desses recursos, economizar o gasto com água e de energia. Existem algumas estratégias que já estão consolidadas, como os equipamentos redutores de vazão de água e o controle de fuga de vazamentos. Há muitos hospitais antigos que possuem vazamentos constantes que geram um gasto de água enorme. Um banho hoje, em média, gasta em torno de 200 litros de água. Em um hospital de 200 leitos, são 40 mil litros por dia. É muita coisa. Mas há ações que a gente consegue trabalhar num hospital para melhorar todo este desperdício. Isso é questão de gestão. É gestão financeira pura. Isso reduz o custo operacional pro resto da vida”, explicou Seferin. “A parte energética também é muito importante. Uma estratégia é controlar, por meio de uma gestão inteligente, o controle de salas que não estão sendo utilizadas, desligando automaticamente o ar-condicionado. O ar-condicionado é responsável por 20% de todos os gastos de energia em um hospital.”


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“Outras iniciativas, agora em se tratando de projetos de novas edificações, é a escolha correta dos materiais e do próprio projeto arquitetônico. A gente vê hoje uma tendência em arquitetura com os prédios todos envidraçados. Se o hospital decide ter uma fachada toda de vidro e neste local há uma insolação muito grande, você cria um problema para si mesmo, pois será obrigado a comprar vidros que sejma mais eficientes contra o calor, porém mais custosos. Mas de qualquer maneira o hospital vai gastar mais com ar-condicionado e criará um passivo para a operação pro resto da vida. Há prédios hoje em que, se você desliga o ar-condicionado, chega a 60 graus Celsius. Então é um absurdo! Um erro arquitetônico e de estratégia muito grande.”

seferin arquitetura hospitalar

“Eu acredito que é preciso começarmos a ver a importância do arquiteto auxiliando na busca dessas estratégias e atuando alinhado com o planejamento do hospital. O hospital, como ator tão importante para a sociedade na questão da prevenção e de tratamentos complexos, precisa ser sensibilizado sobre o quanto a gente pode contribuir. E, do outro lado, do quanto a gente pode prejudicar um hospital com um projeto mal feito, gerando um passivo desnecessário. Para consertar depois é extremamente custoso”, completou o arquiteto da Seferin Arquitetos da Saúde.

arquitetura hospitalar edificacao sustentavel

Seferin reforçou que escolhas erradas geram um déficit operacional muito grande, algo que invariavelmente impactará na falta de recursos para o objetivo principal da instituição hospitalar, que é oferecer o que há de melhor em tecnologias e em uma boa assistência. A estrutura hospitalar deve contribuir para a sustentabilidade financeira, não ser uma inimiga do desenvolvimento do hospital. “É responsabilidade do arquiteto ajudar os decisores a impedirem que essas coisas aconteçam. O executivo também precisa conhecer um pouco mais sobre arquitetura. Para isto, é preciso contratar profissionais competentes e sérios.”

gustavo seferin arquiteto saude

Sobre a certificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), sistema de classificação de edifícios sustentáveis desenvolvido pelo U.S. Green Building Council (USGBC), Seferin entende que ela é importante, mas não é algo para a maioria dos hospitais brasileiros. “A certificação LEED hoje custa, em média, só para conseguir a certificação, em torno de 5% do valor da obra. Então ela já é cara em si. Ela tem toda uma questão de normativas, porque ela é uma certificação internacional que obedece aos guidelines, mas que estão alinhados aos standards dos Estados Unidos. É preciso avaliar caso a caso, pois os padrões exigidos acabam onerando os hospitais no Brasil. Aqui temos questões climáticas, por exemplo, diferentes das encontradas nos Estados Unidos.”



“É claro que a certificação LEED é uma ferramenta legal, principalmente para demonstrar o engajamento institucional com a causa ambiental para a sociedade. Mas você consegue ter um hospital sustentável sem ter a certificação. Eu acho que é esse o ponto legal. Tu podes ser menos sustentável, fazer aquilo que está de acordo com a tua capacidade. O mais importante é fazer alguma coisa, mas sempre dentro do seu limite orçamentário e de acordo com o seu porte”, completou Seferin.

ONA, JCI e ações do Hospital Moinhos de Vento

A mediadora do debate foi Renata Gueresi (Coordenadora de Gestão da Qualidade do Hospital Ernesto Dornelles). Ela pontuou que a Organização Nacional de Acreditação (ONA) tem novidades sobre o tema. “A ONA vai trazer no manual de 2026 um novo olhar para a avaliação olhando a jornada do paciente e esse capítulo especial de ESG.  Ela busca trazer para as instituições esse olhar não só interno, mas também externo, olhando para sua comunidade e seus fornecedores. Ou seja, é importante avaliar como a responsabilidade socioambiental impacta a segurança e a qualidade do nosso paciente.”

renata gueresi

A (ONA) lançou recentemente o Manual OPSS 2026. A nova versão do Manual promove a maior transformação já realizada no ecossistema normativo da acreditação em saúde no Brasil. Como novidades, há um maior foco em ESG, experiência do paciente e modelos mais modernos de governança. “A ONA está trazendo esse olhar social com a comunidade, ou seja, de que forma aquele hospital onde ele está inserido, o que ele está fazendo de ações? Que indicadores ele está gerando para monitorar se realmente as suas ações ambientais e sociais estão tendo algum retorno? A ONA vai trazer esse olhar mais forte que antes. Anteriormente, o objetivo era saber como a instituição se relacionava no quesito gerenciamento de resíduos, baseado em lei que os hospitais precisam cumprir há muito tempo. Mas agora ela coloca toda a sustentabilidade como uma estratégia, uma diretriz estratégica das nossas organizações”, completou Gueresi, que também é avaliadora do IAHCS Acreditação, uma das Instituições Acreditadoras Credenciadas (IACs) que participaram da construção do Manual OPSS 2026.


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Admilson Reis (Superintendente de Riscos, Qualidade e Responsabilidade Social do Hospital Moinhos de Vento) falou sobre ESG e destacou que, assim como a ONA, a Joint Commission International (JCI) também revisou seus requisitos neste mesmo sentido. “Pegando carona no aspecto das certificações, nós somos certificados pela JCI e ela também apresentou em seus novos capítulos esta questão. Nas últimas revisões, especificamente do aspecto relacionado às políticas ESG, há duas grandes etapas. A primeira é você tentar reverter a situação dos impactos ambientais. No Hospital Moinhos já trabalhamos com energia renovável, com uma política muito rigorosa de uso e destinação dos nossos resíduos, e a utilização dos recursos hídricos também. Mas, sobretudo, estamos atentos aos efeitos que essas mudanças trazem na vida das pessoas. E falando especificamente sobre os nossos colaboradores, a gente está constantemente monitorando os aspectos relacionados à saúde mental, aos impactos nas suas vidas, no pós-calamidade, tudo isso para que a gente consiga manter o nosso bem maior, que é cuidar das pessoas com excelência.”

admilson reis hospital moinhos de vento

Reis (foto acima) abordou alguns projetos de destaque relacionados ao tema de responsabilidade socioambiental. “Em relação ao projeto Certidão da Vida, é sempre muito bom ressaltar que o aspecto do plantio tem como viés o objetivo de tentar retornar a condições anteriores de quantidades da mata existente. O projeto Certidão da Vida trata disso; é um grande projeto de replantio que associa a cada nascimento de uma criança no Hospital Moinhos de Vento uma nova árvore. Esse é um projeto que vai chegar a 20 mil unidades de árvores replantadas. Outro projeto novo que estamos desenvolvendo que se encontra neste momento na fase de engenharia é sobre a automação para classificação e manuseio do nosso resíduo sólido, um avanço importante também.”

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“E atuando diretamente em relação à comunidade afetada pelas calamidades pós-enchentes de 2024 no Rio Grande do Sul, temos um projeto grandioso chamado ‘Recomeçar RS: Promovendo a Saúde Mental em Comunidades Atingidas por Enchentes’. O projeto identifica pessoas com algum acometimento de saúde mental para tentar minimizar ou trazer o mais próximo da normalidade a vida dessas pessoas. Isso impacta em todos os aspectos socioeconômicos, produtividade, absenteísmo, baixa autoestima, enfim, um grande e invisível impacto na sociedade. O projeto pretende auxiliar milhares de pessoas, em grande maioria aquelas que ficaram desalojadas em algum momento e aas pessoas em situação de vulnerabilidade.”, completou Reis. As informações serão fundamentais para gestão de crise em momentos futuros, tanto para o Rio Grande do Sul como para outras regiões do Brasil e inclusive no mundo. 

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O Reconeçar RS integra o rol de programas do Hospital Moinhos junto ao Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (PROADI-SUS) e Ministério da Saúde e tem as seguintes etapas: Rastreamento e aconselhamento em saúde mental (estimativa 10 mil pessoas); Disponibilização de programa de apoio em saúde mental para indivíduos com sintomas de ansiedade, depressão e estresse (1,5 mil pessoas); Curso EAD de capacitação de profissionais da saúde para (2 mil pessoas); Atendimento especializado e individual com psicólogos e/ou psiquiatras conforme avaliação de necessidade (1 mil pessoas); e Monitoramento de participantes: Seguimento de 6 meses para avaliação das trajetórias de saúde mental, qualidade de vida e determinantes sociais de saúde (2 mil pessoas). 

renata gueresi fehosul

Por fim, Gueresi ressaltou a importância da temática do evento: “Eu acho esse tipo de evento extremamente importante. É uma forma da gente poder engajar as pessoas para elas poderem ter a consciência de que o ato individual vai colaborar com os atos coletivos.”

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Próxima edição do Seminários de Gestão

A próxima edição dos Seminários de Gestão está agendada para junho de 2026. Em breve, a FEHOSUL divulgará mais informações.

Confira fotos do evento

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