O impacto da espiritualidade na saúde foi tema de evento no Hospital Moinhos de Vento
Teólogo suíço, rabino, pastor, budista e profissionais da saúde discutiram o tema“Nosso propósito é cuidar de vidas – compreendendo o ser humano como uma realidade indivisível e única. Vemos a pessoa de forma integral: em sua dimensão somática, psíquica, social e espiritual. Tem sido assim desde 1927.” A reflexão do superintendente Executivo do Hospital Moinhos de Vento, Mohamed Parrini, resume a essência do I Simpósio de Espiritualidade e Saúde, realizado na sexta-feira (13), em Porto Alegre.
Em um encontro inédito, a instituição propôs tratar de um tema que foi tabu por muito tempo. “Vergonha, por quê? Precisamos falar sobre isso. Nossa força está no cuidado do ser humano. Isso é o que fomos e o que ainda somos”, definiu Parrini. Ele ainda resumiu: “Medicina é ciência, mas também é amor”.
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Com o desafio de esclarecer “O que é espiritualidade?”, o teólogo suíço Rudolf von Sinner refletiu sobre o poder da fé diante das turbulências e do sofrimento. Decifrou o surgimento, a origem da palavra e seus significados no mundo contemporâneo. “Não sejamos reducionistas a religiões: a espiritualidade está atrelada ao sentido do bem — do bem-estar, do bom viver, de viver bem. É um termo humano inclusivo”, definiu.
Promover o diálogo e encontrar convergências foram alguns dos objetivos alcançados com o simpósio, na avaliação do pastor do Hospital Moinhos de Vento, Daniel Annuseck Hoepfner. O religioso destacou que o evento dialoga com a história da instituição. “Desde 1927, acolhemos o paciente em todas as dimensões: somática, psíquica, social e, também, espiritual”, ressaltou.
Conexão de ideias e opiniões
Com a participação de uma médica e praticante espírita, um rabino formado em Jerusalém, um mestre do budismo tibetano e um psiquiatra, o simpósio propôs conectar ideias e opiniões em uma mesa de debates. Entre as diferenças, um consenso: a espiritualidade não tem uma religião.
O rabino Guershon Kwasniewski apresentou a perspectiva judaica. “Toda pessoa espiritualizada tem uma tendência a ficar sadia. E não se fala somente de corpo, mas de alma. E muitas vezes acontece isso, a alma adoece o corpo”, disse. O segredo, segundo ele, é sempre “buscar o equilíbrio”.
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A partir de estudos de impactos de espiritualidade sobre patologias, o médico Rogério Zimpel salientou como a fé e a ciência podem andar juntas. “As análises tiveram resultados significativos”, disse, ao apresentar diagnósticos de síndromes como a do pânico. Zimpel também ressaltou que três elementos costumam acompanhar muitos profissionais da área: “saúde, valores culturais e fé humana”.
O budista Lama Padma Samten questionou a separação entre o mundo e a espiritualidade, um aspecto comum na sociedade contemporânea. Ele ainda explicou as visões da sua religião sobre o trajeto da vida e a evolução para outro plano. “Acreditamos que aparências e sintomas são mutáveis”, resumiu.
Histórias reais
Relatando experiências de espiritualidade no campo da medicina, a ginecologista e obstetra Tiane Nogueira Salum contou o caso de uma paciente grávida, portadora de HIV e usuária de drogas. O desafio clínico era evitar a transmissão do vírus para o bebê. Anos após o caso, o reencontro ocorreu com a filha, já criança, e a mãe, em uma situação melhor. “Perguntei o que havia mudado, e a resposta foi: ‘encontrei Jesus’”, relembrou a médica. “Nunca soube a religião da paciente, mas tenho a certeza do valor da fé e da espiritualidade na reconstrução humana.”
O evento ainda falou sobre o impacto da espiritualidade na saúde integral da pessoa, com o psiquiatra Alexander Moreira de Almeida. A psiquiatra Lorena Caleffi e a oncologista Alessandra Morelle finalizaram o evento tratando sobre prática clínica.