Gestão e Qualidade | 24 de julho de 2025

O futuro da saúde passa pelo combate ao desperdício de recursos

Em artigo, André Machado (CEO da Maida Health), aponta caminhos para enfrentar as ineficiências e os gastos desnecessários na saúde.
O futuro da saúde passa pelo combate ao desperdício de recursos

O combate ao desperdício é a chave para garantir o futuro das operadoras de planos de saúde com aumento no número de pessoas beneficiadas e manutenção da qualidade dos serviços. Medir com exatidão o problema é difícil. Mas estudos indicam que algo entre 20% e 30% dos recursos destinados à saúde são perdidos devido a ineficiências do sistema. As causas são variadas – e se espalham por toda a cadeia de cuidado.


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A repetição desnecessária de exames, por exemplo, é citada com frequência por especialistas. Mas há gargalos bem menos “óbvios” que precisam – e podem – ser reparados. A baixa adesão a exames preventivos, como o de câncer de intestino ou de colo de útero, por exemplo, pode resultar na demora de diagnósticos – o que exige tratamentos mais dispendiosos e – pior – expõe pacientes a riscos evitáveis. A desatenção ao calendário vacinal e o descuido com a gestão de pacientes crônicos (diabéticos e hipertensos, principalmente) também são exemplos de falhas do sistema que drenam recursos.


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Na saúde suplementar, dados atuais podem passar impressão errada ao observador pouco atento. Depois de amargar resultados operacionais negativos que passaram dos R$ 15 bilhões nos anos pós-pandemia (2022 e 2023), no ano passado as empresas do setor registraram resultado operacional positivo acima de R$ 4 bilhões. E no primeiro trimestre deste ano, segundo a Agência Nacional de Saúde, a diferença entre as receitas e despesas diretamente relacionadas às operações de assistência à saúde foi de R$ 4,4 bilhões (em favor das receitas).


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Longe de afastar para todo o sempre os desafios que precisam ser enfrentados pelas empresas, o momento positivo deve garantir fôlego para que ações estruturais sejam implementadas e aumentem a eficiência a longo prazo. O essencial é usar todas as ferramentas disponíveis, que incluem desde a inteligência artificial até o tradicional trabalho do médico de família, para que haja diminuição de desperdício com manutenção – e idealmente melhoria da qualidade da assistência aos beneficiários.

Não é de hoje que o setor enfrenta desafios importantes. O número de operadoras médico-hospitalares em atividade no País caiu de 828 para para 671 nos últimos dez anos. Por outro lado, o total de beneficiários passou de 47 milhões em 2019 para 50,5 milhões em 2022 e agora atingiu o pico de mais de 52 milhões de pessoas.


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São números grandiosos, que ajudam a entender o presente do setor, mas que precisam ser vistos em perspectiva. No primeiro trimestre, a sinistralidade no setor foi a menor registrada para o período pelo menos desde 2018. Os procedimentos pagos consumiram 79,2% das receitas. Em anos anteriores, o percentual ficou sempre acima de 80% e variou entre 80,7%, em 2020, e 87,2% em 2023. O relatório, da ANS, traz uma conclusão que preocupa: “A redução da sinistralidade nos números agregados é explicada principalmente pela recomposição das mensalidades em proporção superior à variação das despesas assistenciais, movimento percebido no setor desde 2023 e mantido no período observado, além de outras receitas não oriundas diretamente das mensalidades do plano de saúde, o que deixa o cenário mais positivo.”

Inviável, porém, pensar que uma política agressiva de reajustes poderá ser mantida a longo prazo – ao menos sem afastar beneficiários dos planos. Esse não é o interesse das próprias operadoras. Financiada principalmente por empresas que oferecem o benefício a seus colaboradores, a saúde suplementar só vai crescer, o que é essencial até para diminuir a pressão sobre o Sistema Único de Saúde, ao conseguir praticar preços que não comprometam a rentabilidade dos seus clientes corporativos.

Por outro lado, se nada for feito, a tendência é de alta constante nos custos. A população está envelhecendo, o que aumenta o número de pacientes crônicos, novas tecnologias e medicamentos são incorporados constantemente aos tratamentos, e levantamentos de entidades como a Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) indicam tendência de crescimento na demanda por alguns procedimentos.

Pode parecer paradoxal, mas não é. A saída desse dilema passa pela oferta de mais saúde aos indivíduos. Isso inclui projetos estruturados de prevenção e gestão de crônicos. Uso intensivo de tecnologia de gestão. Oferta de Atenção Primária à Saúde. Segmentação de beneficiários e controle próximo de perfis mais expostos a doenças. Tudo isso gera redução de gastos desnecessários – e remete ao início desse texto. Como dito, parcela importante dos recursos destinados à saúde no País (um orçamento bilionário, não custa lembrar) é desperdiçada. Imagine o impacto transformador para todo o sistema se fizermos um esforço efetivo para salvar parcela desses recursos.


 Por André Machado – CEO da Maida Health.


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