Mundo, Tecnologia e Inovação | 19 de setembro de 2015

Novos tratamentos oncológicos exigem reorientação das estratégias de saúde

Medicina oncológica personalizada afeta profundamente o cenário dos cuidados de saúde
Novos tratamentos oncológicos exigem reorientação das estratégias de saúde

Recentes avanços na imunoterapia têm mudado radicalmente a visão do que é possível fazer na área oncológica. Os pacientes que antes estavam em seus leitos de morte agora têm esperança, enquanto outros apresentam reviravoltas milagrosas em seus prognósticos. Um artigo do portal Hospitals & Health Networks faz um apanhado de pesquisas, seus resultados e as consequências para as instituições.

As pesquisas se multiplicam. Na Universidade Duke, está sendo usado o vírus da poliomielite para tratar glioblastoma. Na Mayo Clinic, pesquisadores utilizaram doses elevadas de uma cepa geneticamente modificada do vírus do sarampo, para o tratamento de um câncer hematológico.

Nos EUA, há um caso conhecido de uma menina de 9 anos, Emma whitehead http://emilywhitehead.com/, que passou por um tratamento experimental para leucemia linfoblástica aguda. Em abril de 2012, cientistas da Universidade da Pensilvânia usaram um vírus HIV modificado para reprogramar geneticamente os glóbulos brancos do sangue, na esperança de que as células atacassem e destruíssem o câncer. O resultado: desde fevereiro de 2015, Whitehead está livre do câncer.

Com o “Obamacare” (Affordable Care Act, lei federal dos EUA de 2010) ​​e as mudanças na forma de financiamento do governo nas pesquisas contra o câncer, a imunoterapia se tornou apenas uma peça do quebra-cabeça no mundo complexo da oncologia. Mudanças no tratamento e política exigirão organizações envolvidas em todos os níveis de tratamento do câncer, repensando investimentos e infra-estrutura.

O cenário futuro requer lideranças na luta contra o câncer – administradores de saúde e gestores – para solidificar as novas capacidades estratégicas.

Avanços no Tratamento

O tratamento do câncer está além da quimioterapia, radioterapia e cirurgia. Um ensaio clínico de fase inicial no Dana-Farber Cancer Institute, em Boston, envolvendo 23 pacientes com linfoma de Hodgkin reincidente ou resistente ao tratamento, descobriu que 87% dos doentes tiveram remissão completa ou parcial. Quase todos os pacientes – que não tinham mais outras opções de tratamento – se beneficiaram da imunoterapia.

Em 2014, pesquisadores do Memorial Sloan-Kettering Cancer Center contribuíram com avanços fundamentais para a compreensão de por que alguns pacientes respondem a um imunoterápico (ipilimumab), enquanto outros não. O estudo mostrou que os pacientes que respondem positivamente, têm células tumorais que possuem um elevado número de mutações no gene – alguns que se tornaram tumores mais visíveis para o sistema imunológico e, portanto, mais fáceis de combater. Esses resultados poderiam levar a um teste de diagnóstico para detectar mutações genéticas em pacientes com melanoma, o que ajudaria médicos e pacientes a tomar decisões de tratamento mais precisas.

O governo americano tem investido forte em medicina personalizada. “Eu quero que o país que eliminou a poliomielite e mapeou o genoma humano lidere uma nova era da medicina”, declarou o presidente Barack Obama. As iniciativas focam os cuidados de câncer concentrados em imunoterapias específicas e exames genéticos.

A Necessidade de Liderança Estratégica

Essas mudanças afetarão pacientes, contribuintes e prestadores de serviços. Como políticas de saúde e sistemas de saúde tendem a se direcionar a novas formas de pagamento, a gestão no âmbito dos cuidados de saúde deve aumentar, ampliando ainda mais os efeitos desses novos tratamentos. É fundamental que líderes de cuidados de câncer tentem antecipar estes desenvolvimentos e desafiem os modelos tradicionais, para que estejam preparados para agir e usar a inovação a seu favor.

O planejamento na área oncológica deve desafiar seus atuais quadros de pensamento, para enfrentar um mercado cada vez mais exigente e competitivo, através do desenvolvimento de visões alternativas. Para se adequar ao novo ambiente de cuidados de saúde, é preciso interpretar como a inovação irá impactar seus negócios, e da indústria como um todo. Os líderes estratégicos devem prestar atenção aos sinais de todas as partes do mercado, dos produtos farmacêuticos, às pesquisas de câncer e como está funcionando a estrutura pagadora.

Tendo em vista todas as inovações na área de oncologia, os gestores da saúde devem ter em mente três grandes dilemas:

1 – O número e a eficácia de novos tratamentos. Será que o processo de aprovação regulamentar para os imunoterápicos se tornaram mais eficientes, ou são cada vez mais complexos e demorados?

As organizações que são ágeis o suficiente para acolher rápido a aprovação inesperada de medicamentos, são mais propensas a prosperar no tratamento do câncer.

2 – O papel do paciente na inovação. Será que as ferramentas de aceleração das aprovações e metodologias são eficientes no que se refere às preferências do paciente que busca tratamento e diagnóstico de câncer?

Os sistemas de saúde e hospitais que se mantiverem informados sobre as preferências do paciente podem atender melhor às demandas de mudança mais rápido do que seus concorrentes.

3 – A carga financeira do tratamento do câncer. Será que o número de medicamentos e tratamentos cresce de acordo com a cobertura dos planos de saúde, ou das  possibilidades de pagamento dos pacientes?

Organizações capazes de acolher o volume de mudanças e novas formas de pagamento, serão mais aptas a enfrentar perturbações no mercado.

Riscos e Recompensas

Assim como os investimentos em inovação em oncologia continuam aumentando, o mesmo acontece com o custo da prestação de serviços. De acordo o portal Hospitals & Health Networks, o mercado de medicamentos oncológicos aumentou 5,3% em 2014, mais de 10% acima do total do mercado dos EUA para todas as drogas.

Os resultados positivos do cuidado com o câncer concorrem, também, para o processo global de envelhecimento das populações, o que exigirá um gasto maior. Gestores hospitalares, empresas farmacêuticas e laboratórios de pesquisa terão de enfrentar decisões difíceis. Além disso, o volume de pacientes vai mudar dramaticamente, e é impossível prever como evoluirão as vendas das novas terapias.

Gestores na área da oncologia devem aprimorar suas capacidades e habilidades estratégicas para enfrentar este novo cenário complexo e incerto. Novos desenvolvimentos no tratamento do câncer representam ameaças de ruptura de padrões antigos, mas também criam oportunidades para as organizações aprimorarem e inovarem.

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