Novos estudos reforçam eficácia do remdesivir e ineficácia da hidroxicloroquina contra a Covid-19
Estudos foram publicados no periódico New England Journal of MedicineUm estudo publicado na quinta-feira (8), no periódico New England Journal of Medicine (NEJM) confirma os benefícios do remdesivir no tratamento de pessoas hospitalizadas por conta da Covid-19. Também no NEJM, outro estudo reforça a ineficácia da hidroxicloroquina contra a doença.
Nos Estados Unidos, o antiviral remdesivir tem autorização de uso de emergência da agência reguladora de medicamentos do país, a Food and Drug Administration (FDA), para tratar qualquer pessoa hospitalizada por Covid-19. Essa autorização significa que os médicos podem prescrever o medicamento intravenoso para pessoas infectadas com SARS-CoV-2 e que foram hospitalizadas.
No Brasil, o medicamento ainda não está disponível, mas dois estudos entraram na fase III recentemente, sob coordenação da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e participação de centros médicos como o Instituto de Infectologia Emilio Ribas e o Hospital Sírio-Libanês, ambos em São Paulo. “São estudos que buscam apontar com assertividade a segurança e eficácia do Remdesivir o que já foi mostrado em estudos preliminares” diz o diretor-geral do centro de cardiologia do hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, Roberto Kalil, em entrevista para a Veja.
Após o anúncio dos estudos, a Gilead Sciences – fabricante do remdesivir – afirmou que terá suprimento global suficiente para disponibilizar o remdesivir até o final de outubro, disse o CEO da empresa, Daniel O’Day à rede de TV CNBC (EUA) na sexta-feira (9).
“Esses resultados (NEJM) são significativos. Eles definitivamente ajudarão os pacientes do mundo todo, que têm a infelicidade de entrar em um hospital, a melhorarem. Estou realmente satisfeito em anunciar que temos um amplo estoque”, disse O’Day. “Quanto mais cedo você tratar nos hospitais você conseguirá evitar que mais pessoas cheguem aos estágios da doença em que o risco de morrer é muito alto… Este é um medicamento que atua reduzindo a replicação viral no corpo, o que é importante no início da doença e no começo da internação”, afirmou o executivo da Gilead.
Crença médica para casos graves
Embora a droga tenha sido autorizada inicialmente apenas para aqueles que precisavam de oxigênio suplementar ou de ventilação mecânica, a expansão da autorização nos EUA, no final de agosto, reflete a crescente crença entre os médicos de que tratar pessoas que não estão em quadros graves pode trazer ainda mais benefícios – agora inclui pessoas com evidências de infecções respiratórias, mas ainda não precisam de oxigênio suplementar ou da ajuda de um ventilador mecânico.
O remdesivir atua inibindo a capacidade do vírus de fazer mais cópias de si mesmo e, em testes, ajudou tanto pacientes com Covid-19 em estágio inicial quanto aqueles com sintomas mais avançados.
No último relatório, pesquisadores liderados por uma equipe do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (NIAID, na sigla em inglês) forneceram os dados finais de um estudo que eles divulgaram pela primeira vez em maio. Na análise final, que incluiu 1.062 pessoas que foram aleatoriamente designadas para receber remdesivir ou um placebo por até 10 dias no hospital, os pesquisadores fornecem dados mais detalhados sobre como o impacto do medicamento, como o tempo em que as pessoas precisavam receber oxigênio suplementar ou colocar ventiladores mecânicos.
Todos os participantes apresentaram evidências de infecção respiratória, principalmente pneumonia, e 85% foram considerados portadores de doença grave, o que significa que apresentavam pelo menos um de três sintomas: os níveis de oxigênio no sangue estavam abaixo de 94% ao respirar o ar ambiente; eles precisavam de oxigênio suplementar; ou eles precisavam de um ventilador mecânico para respirar. Entre todos os participantes – tanto com Covid-19 grave quanto com sintomas mais leves – aqueles que receberam remdesivir tiveram alta do hospital em média cinco dias antes do que aqueles que receberam placebo.
“Esses dados reforçam o valor do remdesivir em pacientes hospitalizados”, diz o Dr. John Beigel, diretor associado de pesquisa clínica na divisão de microbiologia e doenças infecciosas do NIAID. Enquanto o estudo preliminar forneceu dados de mortalidade após 15 dias, o estudo completo acompanhou os participantes do estudo por 28 dias e descobriu que, entre aqueles que receberam remdesivir, 11% faleceram em comparação com 15% entre o grupo do placebo. Embora essa não seja uma diferença estatisticamente significativa (o estudo não foi grande o suficiente para incluir um número estatisticamente suficiente de mortes em cada grupo), “ainda é uma melhoria significativa”, diz Beigel. Ele observa que as taxas de mortalidade, tomadas em conjunto com outras métricas, incluindo o fato de que as pessoas que tomam remdesivir passam menos tempo com oxigênio e menos dias no hospital, apoiam o benefício geral do medicamento.
Estágios iniciais da doença
Além disso, Beigel observa que a droga parece ajudar não apenas as pessoas que apresentavam os sintomas por mais de 10 dias, mas também aquelas que apresentavam os sintomas por menos de 10 dias. Isso está levando os pesquisadores a estudar mais especificamente como a droga afeta os pacientes que estão nos estágios iniciais da doença.
Esses estudos estão explorando se o remdesivir pode reduzir a evolução da doença, mesmo em pessoas que não são hospitalizadas, e potencialmente evitar que adoeçam o suficiente para precisar de internação. “Saber como as infecções respiratórias virais funcionam, e como esse medicamento funciona, faria sentido”, diz Beigel.
O único desafio por enquanto é que o remdesivir é um medicamento intravenoso, e a logística de gerenciamento de infusões intravenosas para pessoas que não estão hospitalizadas pode limitar seu uso. Mas o fabricante do medicamento, Gilead, diz que está testando uma versão inalada do medicamento que seria mais fácil para os pacientes tomarem.
Hidroxicloroquina não apresenta eficácia
Um estudo sobre a eficácia da hidroxicloroquina em pacientes hospitalizados comparou uma variedade de tratamentos possíveis com o cuidado usual em pacientes hospitalizados com Covid-19. Foram distribuídos aleatoriamente 1561 pacientes para receber hidroxicloroquina e 3155 para receber os cuidados habituais. O estudo analisou a mortalidade em ambos os grupos após 28 dias.
Após 28 dias, 421 pacientes (27%) morreram no grupo de hidroxicloroquina e 790 (25%) no grupo de tratamento usual. Os resultados apontam que os pacientes no grupo da hidroxicloroquina não tiveram uma incidência menor de morte em 28 dias em comparação com aqueles que receberam os tratamentos habituais.
Além disso, entre os pacientes que não estavam sob ventilação mecânica no início do estudo, aqueles no grupo da hidroxicloroquina tiveram uma maior frequência de ventilação mecânica invasiva ou morte (30,7%, comparado com 26,9% do outro grupo). O estudo aponta que não ocorreu nenhuma diferença na incidência de novas arritmias cardíacas entre os pacientes que receberam hidroxicloroquina.
Com informações do site Times, NEJM, CNBC e Veja. Edição do Setor Saúde.