Mundo | 16 de novembro de 2016

Novas diretrizes das estatinas indicam necessidade de uso a partir dos 40 anos

Força-Tarefa dos EUA divulgou novas orientações para o uso do medicamento
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A Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos EUA (U.S. Preventive Services Task Force – USPSTF) divulgou, no dia 13 de novembro, novas orientações para o uso das estatinas para combater o colesterol. Como salientado pelo jornal The Washington Post, o relatório expande o universo de pessoas que devem ser rastreadas para ver se precisam da medicação para todos com 40 anos ou mais, independentemente de terem uma história de doença cardiovascular.

 As estatinas são drogas que bloqueiam no fígado a enzima responsável pela produção do colesterol e podem “atrasar” a fabricação de LDL. Ao congestionar a fabricação de LDL, consequentemente leva ao aumento da produção de HDL, considerado o “bom” colesterol.

 As recomendações também sustentam a posição do American College of Cardiology (ACC) e da American Heart Association (AHA), que em 2013 mudaram radicalmente recomendação para que os médicos se concentrassem no nível de lipoproteínas de baixa densidade (LDL), ou “mau colesterol”, dos pacientes, focando em um quadro mais abrangente de risco com base em situações como peso e pressão arterial, bem como os fatores de estilo de vida.

 “As pessoas sem sinais, sintomas ou histórico de doença cardiovascular ainda podem estar em risco de ter um ataque cardíaco ou AVC”, alertou Kirsten Bibbins-Domingo, que preside a força tarefa. O grupo, constituído por peritos independentes, mas encomendado pelo governo, concordou após uma revisão abrangente das evidências sobre o tema, que “é necessária uma avaliação mais ampla de riscos. Mas coloca uma maior ênfase na idade do que o ACC e a AHA deram na determinação de quem pode se beneficiar do medicamento na prevenção de ataque cardíaco ou derrame. É também um pouco mais conservador quando se trata de determinar os benefícios de tomar os medicamentos, que incluem Lipitor, Crestor e Zocor”.

 Os tratamentos com estatinas para reduzir o colesterol diminuem o risco de acidentes cardiovasculares e apresentam efeitos colaterais adversos apenas em um número limitado de casos, de acordo com um estudo publicado recentemente. Desde que o tratamento foi lançado, há três décadas, milhões de pessoas no mundo com colesterol alto – mas sem ter necessariamente problemas cardíacos preexistentes – tomam estatinas de modo regular. É um dos medicamentos mais vendidos pela indústria farmacêutica. Porém, nos últimos anos, especialistas têm discordado dessa prática.

 As novas diretrizes, publicadas no Journal of the American Medical Association, sugere que pessoas com idades entre 40 a 75 anos que têm um ou mais fatores de risco – entre eles colesterol alto, pressão alta, diabetes ou tabagismo, que acrescentam 10% ou mais de risco de ter um ataque cardíaco ou derrame nos próximos 10 anos – devam tomar estatinas. “O grupo também disse que as pessoas com um risco de 7,5% a 10% também podem se beneficiar, mas não estão entre os que definitivamente devem tomar a droga. As pessoas deste grupo devem fazer uma decisão individual com o seu médico sobre a possibilidade de começar a usar estatinas”, aconselha a força-tarefa.

Outra diferença importante entre os grupos é que a força-tarefa mantém a recomendação sobre como iniciar a administração de estatinas em adultos que tem 76 anos ou mais, dizendo que “as evidências atuais são insuficientes para avaliar o equilíbrio entre benefícios e malefícios”. Em um comentário no Journal of the American Medical Association que acompanha as diretrizes, Philip Greenland e Robert Bonow (ambos cardiologistas na Universidade de Northwestern), dizem que há “incerteza e hesitação” nas orientações em relação às pessoas mais velhas, mas que aparentemente não é necessário parar de tomar estatinas aos 76 anos, se o paciente já as estiver usando.

“A força-tarefa e grupos da AHA têm uma imensa influência na prática médica e em relação ao que as companhias de seguros darão cobertura. O sistema de saúde público dos EUA normalmente segue as diretrizes da USPSTF na determinação de cobertura e especifica que as recomendações da USPSTF classificadas nos níveis mais graves devem ser utilizadas como uma base para a cobertura para as seguradoras privadas. No caso das estatinas, isto se aplica à utilização do fármaco por aqueles que têm de 40 a 75 anos com um ou mais fatores de risco para doença cardiovascular e que têm um risco de 10% ou maior – mas não aqueles com 7,5% a 10% de risco”.

 Individualmente, médicos são livres para adotar o conselho ou não, e nos últimos meses tem havido muita discussão sobre o que as evidências científicas mostram realmente a respeito da terapia, destaca o jornal norte-americano.

 “Há um consenso entre especialistas de que as pessoas em risco substancial para doenças cardíacas se beneficiam das estatinas, mas há considerável desacordo sobre os pacientes de menor risco. Em outubro, Francis Collins, diretor do National Institutes of Health escreveu na revista Lancet que “é um esforço para o bem”. Já Rita Redberg, cardiologista da Universidade da Califórnia em San Francisco e editora da JAMA Internal Medicine, têm sido a voz dos especialistas que crêem que as drogas são prescritas em demasia e que os efeitos colaterais – que vão desde dores musculares e catarata para, possivelmente, um maior risco de diabetes em mulheres – deve ser levado mais a sério.

 Em um recente artigo, Redberg e Mitchell Katz, vice-editor da JAMA Internal Medicine, aconselham todos a darem “um passo atrás” e perguntar “por que este debate é tão controverso?” Eles sugerem que as estimativas dos benefícios das estatinas podem ser infladas, que as drogas como uma intervenção são “fracas”, e que os relatórios de eventos adversos são incompletos. “Ao decidir sobre qualquer terapia, é importante entender os riscos e benefícios, em particular para as pessoas saudáveis”, escreveram os especialistas.

Em 2015, o NICE (National Institute for Health and Care Excellence), do serviço nacional de saúde da Inglaterra, incentivou os médicos a prescreverem essas drogas anticolesterol a qualquer pessoa com uma chance de 10% de ter um ataque cardíaco. Essa mudança resultou em 17 milhões de adultos (quase todos com idade superior a 40 anos) sendo elegíveis para tomar esses medicamentos.

As orientações dos EUA são mais agressivas em recomendar drogas do que os relatórios emitidos pelas suas contrapartes em outras partes do mundo, incluindo a Sociedade Cardiovascular Canadense (que recomenda estatinas em homens com 40 anos e mais velhos, mas apenas depois dos 50 anos nas mulheres). A Sociedade Europeia de Cardiologia se concentra mais sobre o gerenciamento de LDL. Mesmo assim, um estudo de 2011 mostrou que pelo menos 32 milhões de norte-americanos usam as estatinas. As diretrizes de 2013 do ACC e da AHA recomendam um número estimado de 24 milhões de pessoas.

 As recomendações da USPSTF vêm na esteira de um importante novo estudo, que mostra que as pessoas que usam estatinas sobrevivem a ataques cardíacos melhor do que aqueles que não tomam. “Esses pacientes são mais propensos a não só chegarem ao hospital e sobreviver até que recebam alta, mas também sobrevivem em número maior até um ano após a hospitalização, em comparação àqueles que não usam estatinas”.

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