Neurocientista Iván Izquierdo morre em Porto Alegre
Izquierdo é considerado um dos maiores nomes da pesquisa em memória do mundoConsiderado um dos maiores nomes da pesquisa em memória do mundo, o professor e pesquisador Iván Izquierdo faleceu na manhã desta terça-feira (9), em Porto Alegre. Izquierdo tinha 83 anos e morreu em sua residência, na capital gaúcha. A PUCRS e a UFRGS lamentaram a morte do pesquisador nascido na argentina e naturalizado brasileiro. A causa da morte foi em decorrência do agravamento de uma pneumonia.
O velório será no dia 10 de fevereiro, das 8h às 11h, no Crematório Metropolitano de Porto Alegre. A cerimônia de despedida será restrita a um pequeno grupo devido à pandemia de Covid-19. O pesquisador deixa esposa, dois filhos e quatro netos.
PUCRS
O reitor da PUCRS, Ir. Evilázio Teixeira define como inquestionável o legado de Izquierdo enquanto pesquisador e formador de gerações de novos cientistas. “Os frutos de seu trabalho seguirão se multiplicando nas áreas do saber em que imprimiu seu nome e produção científica, especialmente na neurociência. A PUCRS se solidariza com sua família, amigos, colegas, alunos e orientandos”, afirma.
Considerado um dos maiores pesquisadores do País, com um vasto trabalho científico na área de neurociências, em especial na memória, ele foi inspiração para milhares de estudantes e professores no mundo inteiro. “Estamos todos muito tristes. O professor Iván Izquierdo colocou no cenário internacional as pesquisas sobre memória. Foi um exemplo de pesquisador e professor que formou e motivou inúmeros neurocientistas. Como idealizador, coordenador e pesquisador do Centro de Memória, embasou as pesquisas da doença de Alzheimer no InsCer e formou jovens neurocientistas. Iván Izquierdo, um grande homem, um talentoso cientista e um nobre mestre”, afirma Dr. Jaderson Costa da Costa, diretor do Instituto do Cérebro do RS.
O pró-reitor de Pesquisa e Pós Graduação, Carlos Eduardo Lobo e Silva, também destacou o legado inigualável que Izquierdo deixa na área de neurociências e na formação de muitos pesquisadores que hoje lideram grupos no Brasil e no mundo. “Foi pioneiro no estudo da memória e de seus mecanismos e na PUCRS fez um imenso e relevante trabalho. Agradecemos pela sua vida dedicada à ciência e à sua difusão”, completa.
Em 2004, assumiu a coordenação do Centro de Memória da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. A partir de 2012, ano da criação do Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul, integrou e coordenou o Centro de Memória da Instituição. Como professor na PUCRS, atuou nos Programas de Pós-Graduação em Gerontologia Biomédica e em Medicina e Ciências da Saúde.
Izquierdo dedicou mais de 60 anos à neurociência, durante os quais publicou cerca de 700 artigos em periódicos científicos com quase 23 mil citações. Considerado um dos maiores pesquisadores do mundo na área de fisiologia da memória, o neurocientista recebeu mais de 60 prêmios e distinções nacionais e internacionais, entre eles, o Grã-Cruz da Ordem do Mérito Científico (1996), Prêmio Conrado Wessel (2007), Prêmio Almirante Alvaro Alberto (2010), Doutor Honoris Causa das universidades do Paraná e de Córdoba, além de Professor Honorário das universidades de Buenos Aires e Córdoba e Professor Emérito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2014). Em 2018 foi laureado com o prêmio Cientista do ano, na área de neurociências, pelo Instituto Nanocell. Ele é também o pesquisador com o maior número de citações acadêmicas da América Latina.
Foi membro da Academia Brasileira de Ciências e da National Academy of Sciences (EUA), além de membro do Comitê Editorial de mais de 30 revistas internacionais. Orientou mais de 100 teses e dissertações. Suas linhas de pesquisa concentravam-se em mecanismos da memória e neurofarmacologia da memória. Foi responsável pela descoberta dos principais mecanismos bioquímicos da memória em várias estruturas cerebrais, entre elas, o fenômeno conhecido como dependência de estado endógena e a separação funcional entre as memórias de curta e longa duração.
Em 2018 recebeu ainda o Prêmio Internacional Unesco-Guiné Equatorial para Pesquisa em Ciências da Vida. O reconhecimento, concedido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), foi obtido por suas descobertas em elucidar os mecanismos de processos de memória, levando a uma melhoria da qualidade de vida humana.
UFRGS
Izquierdo era graduado e doutor em Medicina pela Universidad de Buenos Aires e foi professor do Departamento de Bioquímica da UFRGS entre 1973 e 2003. Nesse período, atuou também nos Programas de Pós-Graduação em Fisiologia e em Bioquímica e no laboratório denominado Centro de Memória, no qual fez importantes descobertas científicas que justificam seu renome internacional na área de Farmacologia da Memória. Conforme a UFRGS, como neurocientista, contribuiu para a compreensão das bases celulares dos processos mnemônicos, investigando a formação e a evocação de diferentes tipos de memórias.
Em 2014, o docente foi agraciado com o título de Professor Emérito da UFRGS, em reconhecimento à sua trajetória e dedicação à Universidade. Na ocasião, Izquierdo, que nasceu na Argentina e se naturalizou brasileiro, declarou que chegou a Porto Alegre, nos anos 1970, atrás de um sonho – e que aqui descobriu o que já havia vislumbrado antes: correr atrás de um sonho não é suficiente; é necessário se agarrar a ele e montar em cima, pois ele é a própria vida.
A comunidade acadêmica da UFRGS lamentou a perda do ex-colega. A Administração Central manifestou seu profundo pesar pelo falecimento de Izquierdo. Segundo a vice-reitora em exercício da Reitoria da UFRGS, Patricia Pranke, “o professor Ivan Izquierdo foi e continuará sendo um exemplo de pesquisador a ser seguido, tendo inspirado e orientado o trabalho de muitos seguidores.” Um de seus colegas na UFRGS, o professor Diogo Onofre de Souza comenta a perda do amigo, lembrando que Izquierdo está entre os cinco ou dez maiores pesquisadores do mundo na sua área. “Ele mudou a neurociência internacionalmente enquanto estava na UFRGS”, diz. E completa: “Eu perdi um grande amigo, a ciência perdeu um grande cientista, e a humanidade perdeu um grande benfeitor no que se refere a tratamento e prevenção de doenças neurocerebrais”.
O ex-reitor Carlos Alexandre Netto, que foi orientado por Izquierdo na Iniciação Científica durante a graduação e depois também no mestrado e no doutorado, afirma que o pesquisador foi um cientista brilhante e um ser humano excepcional. Netto revela que foi a experiência com Izquierdo na graduação que fez com que optasse por seguir a carreira acadêmica. “Ele deixa um legado enorme para a ciência internacional e também para a comunidade da UFRGS, onde orientou muitas pessoas e contribuiu para que os programas de pós-graduação tivessem a inserção e o impacto que têm atualmente”, acrescenta o ex-reitor.
A UFRGS, publicou algumas palestras ministradas pelo professor Iván Izquierdo no ciclo comemorativo aos 80 anos da UFRGS em 2014. Confira aqui.