Assim como no Brasil, o número de cesarianas nos hospitais dos EUA, mais precisamente na Flórida, têm crescido de forma demasiada. A taxa média nos hospitais na Flórida esteve entre as mais altas do país, com cerca de 32 para cada 100 partos, segundo um estudo divulgado dia 7 de outubro pelo Leapfrog Group, uma agência sem fins lucrativos que realiza pesquisas junto a hospitais para acompanhar a qualidade dos serviços e as medidas de segurança.

O resultado, divulgado pelos próprios hospitais – e que incluía apenas mães de baixo risco que estavam na primeira gravidez -, excedeu o máximo recomendado, de cerca de 24 cesáreas para cada 100 nascimentos. Instituições em cidades ou condados como Miami, Fort Lauderdale e Hollywood tiveram uma taxa ainda mais alta (42 para 100 partos). Em alguns casos, o número de cesáreas superava os 50% do total.

O resultado da pesquisa, na opinião dos realizadores do estudo, sugeririam que muitos hospitais estão colocando em perigo as pacientes, através de uma operação desnecessária e mais cara. De acordo com um estudo feito em 2013 pela Truven Health Analytics – agência consultora de serviços médicos –, o pagamento médio total de cesariana foi cerca de 50% mais alto do que os pagamentos médios para o parto natural, tanto em planos privados (US$27,866 contra US$ 18,329) como no Medicaid, serviço público norte-americano (US$ 13,590 contra US$ 9,131).

No Brasil, a ANS estabeleceu novas regras para incentivar o parto normal, através da Resolução Normativa nº 368 (http://setorsaude.com.br/entra-em-vigor-as-novas-regras-que-incentivam-o-parto-normal/). Atualmente, o percentual de partos cesáreos na saúde suplementar brasileira é de 84,6%, uma taxa considerada altíssima. A cesariana, quando não tem indicação médica, ocasiona riscos desnecessários à saúde da mulher e do bebê: o parto prematuro aumenta em 120 vezes a probabilidade de problemas respiratórios para o recém-nascido e triplica o risco de morte da mãe. Cerca de 25% dos óbitos neonatais e 16% dos óbitos infantis no Brasil estão relacionados a prematuridade.

O papel da doula

Com essa mudança no cenário dos partos, volta à evidência a figura da doula. Na América do Norte, estima-se que existam atualmente de 10 mil a 12 mil doulas, conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS). O termo designa aquelas mulheres (com ou sem formação médica) que acompanham e dão apoio a outras mulheres (e aos companheiros e/ou outros familiares), proporcionando conforto, apoio emocional e suporte cognitivo antes, durante e após o nascimento do bebê.

Em João Pessoa-PB, o Projeto de Lei (PL) 907/2015 – que aguarda sanção do prefeito Luciano Cartaxo –, por exemplo, obriga os hospitais da cidade a autorizarem a presença de doulas nas salas de parto, sempre que esse for o desejo das mulheres em trabalho de parto.

É preciso diferenciar as funções da doula e do profissional médico. Em entrevista para o jornal Folha de São Paulo, o presidente da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, César Fernandes, admitiu não ter simpatia pelo parto domiciliar, “porque em dois minutos você pode perder um bebê”.

“Há muitos relatos de ´mal estar´ entre doulas e obstetras. Não haveria se cada um se limitasse a sua função. O médico também não vai fazer massagem, cantar. Mas há doulas que não conhecem seu papel. A doula, se estiver integrada, é ótima, nada contra, embora eu pense que o acompanhante ideal é o marido”, manifesta César Fernandes.