Estatísticas e Análises | 19 de janeiro de 2016

Mulheres na medicina: evolução no mercado de trabalho

Estudos mostram que a presença de mulheres no setor aumenta gradativamente
Estudos mostram que a presença de mulheres no setor aumenta gradativamente

A Itália possui um recorde europeu na medicina: 65% dos profissionais com menos de 35 anos são mulheres. Entre estudantes de medicina, elas já são 60%, e esse alto número tem feito com que os chamados “jalecos rosas” – denominação usada para caracterizar o uso dos tradicionais jalecos brancos da saúde, por médicas – sejam encontrados em maior número nos estabelecimentos de saúde.

Como destaca uma reportagem do periódico francês Les Echos, a empatia é a qualidade mais frequentemente reconhecida entre as médicas. As cirurgiãs, por exemplo, são consideradas como mais propensas a empunhar o bisturi com mais precisão do que seus colegas do sexo masculino. É o que se vê no departamento de cirurgia da mão do Gruppo Multimedica, em Milão. A equipe de 87 pessoas conta com 78 mulheres, ou 87,8%. Para o diretor do serviço, não há razão para surpresas. Segundo a reportagem, elas demonstram ser mais capazes de suportar o ritmo das emergências do que os homens. “Há apenas uma década, os percentuais estavam invertidos, e as mulheres eram consideradas impróprias para suportarem o estresse da sala de cirurgia”

Muitas cirurgiãs, contudo, se queixam das dificuldades em conciliar a vida profissional e a familiar. Isso poderia explicar por que os cargos de prestígio ainda permanecem nas mãos dos homens. A grande dificuldade é conseguir ser mãe, mulher e médica ao mesmo tempo. Pesquisas já demonstraram que as mulheres médicas ganham menos dos que os homens, e possuem maior probabilidade de se divorciar (http://setorsaude.com.br/10-fatos-sobre-a-realidade-das-mulheres-medicas/), comparativamente com os médicos.

Mas independente do sexo, o interesse pela profissão de médico tem caído na Itália. Cerca de 60 mil estudantes entraram na faculdade em 2015, contra 64 mil em 2013. A dificuldade em entrar no mercado e o custo dos estudos, cada vez mais altos, são fatores que desestimulam novos estudantes do ensino superior em medicina.

Cenário nacional

O número de mulheres que entram na medicina no Brasil é maior que o de homens desde 2009, revela o estudo A Feminização da Medicina no Brasil, desenvolvido por Mário César Scheffer e Alex Jones Flores Cassenote, da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), publicado na revista Bioética. O trabalho aponta que as mulheres já são maioria entre os profissionais com menos de 29 anos de idade e estima um equilíbrio entre o número de homens e mulheres exercendo a medicina no País até 2028. O sexo feminino é maioria em especialidades ligadas à atenção básica, como a clínica médica, pediatria e ginecologia e obstetrícia.

Conforme registros nos Conselhos Regionais de Medicina (CRMs), as mulheres médicas representam 39,9% entre aproximadamente 400 mil profissionais registrados no País. “Desde 2009, o número de mulheres que entram na medicina superou o de homens. Em 2010, por exemplo, ingressaram na profissão 7.634 mulheres e 6.917 homens”, diz Scheffer. Entre os médicos com menos de 29 anos, havia 53,31% de mulheres em 2012.

“Pesquisa realizada em 30 países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostra que a porcentagem de mulheres médicas passou de 28%, em 1990, para 38% em 2005, situação similar à verificada hoje no Brasil. Também é preciso lembrar que a maior inserção das brasileiras no ensino superior e no mercado de trabalho em geral é uma tendência verificada pelo IBGE”, completa o pesquisador.

A distribuição das mulheres pelas especialidades médicas, verificada a partir de registros dos títulos de especialistas e da conclusão de programas de residência, mostra que, entre as 53 especialidades reconhecidas no Brasil, em 13 existe predomínio feminino. Elas são maioria nas especialidades básicas:

– Pediatria (70%),

– Medicina de família e comunidade (54,2%),

– Clínica médica (54,2%),

– Ginecologia e obstetrícia (51,5%).

A presença feminina no Brasil é menor na área de cirurgia cardiovascular (90% de homens), neurocirurgia (91,8% homens), ortopedia (95%) e urologia (98,8%).

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