Gestão e Qualidade | 13 de dezembro de 2016

Hospital Moinhos de Vento e Ministério da Saúde avaliam ampliação das visitas nas UTIs 

Líder do projeto explica como funcionará a iniciativa
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O Hospital Moinhos de Vento (HMV) lançou, dia 9 de dezembro, o projeto UTI Visitas: avaliação da visita ampliada em UTIs brasileiras.

A iniciativa busca desenvolver, conduzir e avaliar a eficácia do modelo de visita ampliada a pacientes internados em Unidades de Tratamento Intensivo. O portal Setor Saúde ouviu com exclusividade Régis Rosa (do HMV) e Lucieda Araújo (do Ministério da Saúde).

A ação é uma parceria entre Ministério da Saúde (MS), por meio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (PROADI-SUS), e o HMV, sob coordenação do hospital gaúcho. O médico intensivista da CTI Adulto do Hospital Moinhos de Vento e líder do projeto, Dr. Regis Goulart Rosa explicou para o portal Setor Saúde que “o projeto UTI Visitas pretende avaliar a eficácia e a segurança de um modelo de visita ampliada em UTIs brasileiras. Neste estudo, um modelo de visitação ampliada (12 horas por dia) será implementado e avaliado em cerca de 40 UTIs de hospitais representativos das cinco regiões do Brasil”.

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O modelo de visita ampliada do Moinhos de Vento servirá como referencial do projeto. “Na nossa instituição, ele esteve associado a desfechos positivos para os pacientes: redução da incidência de delirium (forma comum de disfunção cerebral na UTI e associada a piores desfechos clínicos) e redução do tempo de permanência na UTI, sem aumento do risco de transmissão de infecção”. Iniciado em agosto do corrente ano, o projeto busca avaliar a eficácia e a segurança de um modelo de visita familiar ao paciente criticamente enfermo, ampliada para 12 horas por dia.

“O Hospital Moinhos de Vento, como centro coordenador do projeto, auxiliará os demais hospitais participantes em todos os estágios da implementação e avaliação do modelo de visita ampliada através de treinamentos, visitas de exequibilidade e visitas de implantação do projeto. Dentro do Hospital Moinhos de Vento, este projeto é conduzido pelo Escritório de projetos PROADI-SUS, o qual possui uma equipe multidisciplinar composta por mais de 20 profissionais envolvidos  (médicos, enfermeiros, psicólogos, farmacêuticos, biomédicos, estatísticos, advogados, engenheiros de produção, entre outros)”, salientou o Dr. Régis Rosa.

O modelo de visitação ampliada será comparado em cada instituição com o modelo tradicional de visitação restrita, através de uma avaliação metodológica rigorosa (ensaio clínico randomizado). Serão considerados desfechos relevantes para pacientes (incidência de delirium, taxas de infecção adquirida na UTI, tempo de internação na UTI e taxas de mortalidade hospitalar), familiares (taxas de satisfação com o modelo de visitação e sintomas de ansiedade e depressão) e profissionais das UTIs (incidência de estresse ocupacional).

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O líder do projeto ressalta que, em cada UTI, o processo integral de implementação e avaliação deve durar de cinco a seis meses. O estudo tem prazo de término em dezembro de 2017. “De acordo com os resultados encontrados, o modelo de visita ampliada poderá fazer parte das recomendações de melhores práticas em visitação ao paciente criticamente enfermo”.

Ao analisar os benefícios da visitação ampliada na UTI, Lucieda Araújo, representante do Ministério da Saúde, disse ao portal Setor Saúde que “pacientes críticos apresentam importante redução de delirium, do tempo de internação, do tempo de ventilação mecânica, menor incidência de úlcera por pressão, melhores desfechos psiquiátricos: redução de depressão, ansiedade, estresse pós-traumático no longo e médio prazo, além do aumento da satisfação dos pacientes e familiares. Nesse sentido e respaldado pela política de humanização do SUS, busca-se o cuidado centrado no paciente, promovendo uma assistência segura e com qualidade”.

Tradicionalmente, as visitas em UTIs brasileiras ocorrem em horários restritos, de uma a duas visitas por dia com duração, cada uma, entre 30 a 40 minutos, sob a justificativa teórica de que a visita ampliada poderia aumentar o risco de transmissão de infecções e desorganização do cuidado ao paciente. Contudo, estudos recentes não confirmam este potencial risco de adversidades associadas a uma maior presença de familiares junto ao paciente. Além disso, evidências crescentes apontam para maiores benefícios, tanto para pacientes (conforto, menor incidência de sintomas de ansiedade e depressão, menor incidência de delirium) quanto para familiares (maiores taxas de satisfação e menor incidência de sintomas de ansiedade e depressão).

Desde 2015, o Moinhos de Vento adotou uma nova política no Centro de Terapia Intensiva Adulto (CTIA). As visitas foram estendidas para 12 horas por dia, permitindo a permanência de dois familiares com o paciente. A liberação de pernoite acontece mediante indicação médica. Além disso, há também a opção de visita social, que ocorre em dois períodos de 30 minutos, onde é permitida a entrada de outros três familiares.

No Hospital Moinhos de Vento, a visitação ampliada passou por diversos processos de estudo, planejamento e sistematização de atendimento para que fosse implementada com total segurança para pacientes, visitantes e profissionais do CTIA. Agora, a experiência será replicada em diferentes cenários brasileiros, possibilitando subsidiar o SUS com conhecimento necessário para aplicação da política em mais hospitais.

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