Mundo | 18 de janeiro de 2018

Médico jovem ou mais experiente? Em quem você confia mais?

As percepções acerca da idade e a prática médica
Médico jovem ou mais experiente Em quem você confia mais

É muito comum que um profissional tenha como referencial de qualidade os seus anos de experiência. Em um artigo de opinião publicado no jornal New York Times, o médico Haider Javed Warraich, que atua como tutor em residência médica (Medicina Cardiovascular) da Duke University Medical Center, aborda as percepções e comparações em relação aos médicos mais velhos e os mais novos.

Warraich busca “desconstruir” o estereótipo de que os profissionais com mais anos de experiência mereçam mais confiança do que os profissionais com menos tempo de atuação.

“ Em muitas profissões, a experiência é tratada como um prêmio, com a idade muitas vezes sendo um substituto para a experiência – mas provavelmente nenhuma profissão dê mais ênfase à idade do que a medicina. Nada é mais reconfortante para os pacientes do que ver um médico de cabelos brancos caminhar até a cabeceira”, afirma o médico, que explica que este quadro é claramente notado pelos costumes mantidos no mundo da medicina, com os médicos mais velhos sendo sempre tratados como maior fonte de sabedoria pelos mais novos. “A experiência pode ser observada em nossos códigos de vestimenta: estudantes de várias escolas de medicina não podem usar longos casacos brancos, ao contrário dos idosos. Em alguns, até mesmo os médicos residentes não podem ter casacos que se estendem muito abaixo da cintura”, ilustra.

Ele defende que quando a análise não é baseada apenas em opiniões, e sim em dados e evidências, mostram com clareza que “a falta de experiência pode não ser necessariamente uma coisa ruim”. Warraich aponta um estudo publicado em 2017 por pesquisadores da Harvard, que mostrou que os pacientes atendidos pelos médicos mais jovens eram menos propensos a vir a óbito. Os estudos também sinalizaram que médicos mais jovens e menos experientes também são menos propensos a solicitar exames desnecessários em homens e mulheres, a enfrentar ações disciplinares dos conselhos médicos estaduais ou serem citados por prescrição inadequada de analgésicos opioides e outras substâncias controladas.

“ Essas descobertas estão longe de ser isoladas: a maioria das pesquisas mostra uma relação consistente e positiva entre a falta de experiência e a melhor qualidade do atendimento clínico”, aponta. “Os médicos mais jovens são mais propensos a adotar práticas inovadoras, como prescrever medicamentos modernos com menos efeitos colaterais ou aprender novas formas de fazer procedimentos, como a realização de cateterismo cardíaco do pulso em vez da virilha, o que é mais seguro para os pacientes”, explica o médico.

Warraich afirma que a inexperiência também permite que os profissionais mais novos estejam livres de vícios ultrapassados. “Não tendo treinado em uma época em que imperava o paternalismo médico, os médicos mais jovens são mais propensos a colocar o paciente no pedestal, e não a si mesmos”. Porém, o autor do artigo explica que, por ora, são escassas as chances dos médicos mais novos mudarem este quadro. Isto porque 20% dos médicos nos Estados Unidos tem mais de 65 anos, uma proporção que deverá aumentar para até 33% (1/3) até 2021. “Isso deixa um espaço pequeno para que os jovens médicos adotem posições de liderança”, frisa.

Aprender sempre, principalmente com os mais jovens

Para avançar, o autor aponta que os médicos mais velhos podem aprender muito com os mais jovens, e que é necessário discutir o modelo tradicional de aprendizagem na medicina. Para incentivar isso, a orientação deve ser considerada nas formações acadêmicas. “As posições para médicos mais jovens devem ser alocadas em comitês que escrevem diretrizes médicas, conselhos médicos estatais e conselhos editoriais para revistas médicas. Os modelos também precisam ser desenvolvidos para encurtar o tempo de treinamento, que é muito longo, visto que a idade média dos médicos que completam o treinamento é do início ao meio dos 30 anos”, afirma.

“Como um jovem médico, olho constantemente para os mais experientes para obter orientação. No entanto também acredito que os médicos experientes precisam procurar médicos mais jovens para trazer uma nova perspectiva para questões dos cuidados de saúde, como o desenvolvimento de novos modelos de cuidados centrados no paciente, desentendendo o papel dos interesses corporativos no desenvolvimento de normas e diretrizes médicas, e incorporando os valores dos pacientes em tratamento médico”, enfatiza.

Warraich acredita que os jovens médicos estão prontos para tornar os cuidados de saúde mais inovadores e centrados no paciente, porém questiona se os médicos mais velhos e os pacientes estão realmente prontos para estas mudanças.

Com informações do New York Times. Edição do Setor Saúde.

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