Medicamentos “ensinam” o corpo a combater o câncer
Estudos com Nivolumab e Ipilimumab têm sido inovadoresOs avanços gerados pelo agente Nivolumab, um anticorpo monoclonal que age na proteína PD-1, foi um dos grandes destaques durante o congresso da American Association for Cancer Research, realizado no mês de abril em Washington (EUA). Estudos clínicos em três diferentes cânceres (melanoma, renal e de pulmão do tipo não pequenas células) vêm sendo realizados com resultados animadores.
Ao contrário dos quimioterápicos, a droga não atua no tumor, mas faz o próprio organismo se reativar para combater as células que estão se desenvolvendo desordenadamente. “Um benefício dessas novas pesquisas imunológicas é a memória. Os efeitos do tratamento têm uma perpetuação por muitos anos. A célula imune aprende a combater as células tumorais, e isso continua sendo estimulado mesmo após o término do tratamento”, explicou a Biomédica Carmela Nicolini, coordenadora de pesquisa clínica do Instituto do Câncer Mãe de Deus.
O foco da ação é o que o torna diferenciado. “A PDL-1 é uma proteína da célula tumoral, enquanto a PD-1 está presente na célula do sistema imune. Quando elas se ligam, o sistema imune acaba sendo desativado. O Nivolumab criou uma barreira para não ligar PD-1 e PDL-1, o que mantém o sistema imune em funcionamento e inativa o PDL-1, combatendo a célula tumoral”, esclarece Carmela. As pesquisas com este medicamento entram agora em FASE III, que precede a fase de autorização para comercialização.
A equipe do Mãe de Deus tem trabalhado em um medicamento chamado Ipilimumab (cujo nome comercial é Yervoy), já aprovado pela Anvisa, que age de forma semelhante ao Nivolumab. É uma droga imunológica, não quimioterápica, que estimula o combate à célula anormal sem gerar efeitos agressivos, como a queda de cabelo. A pesquisa, feita com 42 pessoas, foi positiva. “O melanoma metastático é uma doença bastante agressiva. Normalmente o paciente tem uma sobrevida curta, e com essa medicação tivemos pacientes com seguimento de 22 meses”, afirma Carmela.
A coordenadora de pesquisas clínicas ressalta as vantagens em relação à quimioterapia, que é mais agressiva. “Vamos ouvir falar muito desses marcadores. Usar nosso sistema imune é muito interessante, menos tóxico, com menos efeitos adversos. Ensinamos o sistema imune a enxergar as células tumorais”.
A pesquisadora ressalta que estudos com este medicamento, que pode ser um marco na luta contra o câncer, geram grandes expectativas. “Quando atingimos quatro, cinco meses de sobrevida do paciente, já é uma conquista grande. Mesmo tendo a redução total do tumor, acompanhamos quanto tempo o paciente fica sem tratamento. Vimos nestes estudos, que a doença continua diminuindo ou fica sem aparecer novamente por anos”.
O Centro de Pesquisa em Oncologia Clínica do Instituto do Câncer Mãe de Deus atua desde 1999, e desenvolve atualmente em torno de 15 estudos clínicos, em oncologia, hematologia e reumatologia. Com uma equipe interdisciplinar, os estudos nacionais e internacionais buscam facilitar o avanço cientifico no combate ao câncer e oferecer aos pacientes opções de tratamentos de ponta em oncologia.
Biomédica Carmela Nicolini, do Centro de Pesquisa em Oncologia Clínica do Instituto do Câncer Mãe de Deus