Março Borgonha é o mês de conscientização sobre o mieloma múltiplo – um tipo de câncer que afeta a medula óssea e apresenta sintomas semelhantes aos das doenças crônicas, como dor nos ossos, fraturas frequentes, aumento do risco de anemia, entre outros. Entretanto, neste ano, o mês tem um significado diferente para o Brasil: pela primeira vez, a data é sediada com ensaios clínicos CAR-T em andamento para tratamento da doença.

A nova modalidade de imunoterapia foi aprovada pela ANVISA em março de 2022 e as primeiras infusões ocorreram em novembro do mesmo ano. Apenas três instituições de saúde foram selecionadas para participar do estudo clínico para a aplicação de CAR-T em casos de mieloma múltiplo.

Conforme o líder do Centro de Referência de Neoplasias Hematológicas do A.C. Camargo, Dr. Jayr Schmidt Filho, uma segunda infusão em pacientes com mieloma múltiplo foi realizada pela unidade em janeiro deste ano. “Atualmente, estamos na fase 3, na qual fazemos a comparação de um tratamento sequencial de primeira linha seguido de CAR-T, versus o tratamento convencional seguido de manutenção”, explicou.

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Mieloma múltiplo

O mieloma múltiplo é considerado relativamente raro e atinge principalmente a população acima de 60 anos. Conforme a Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale), o Mieloma Múltiplo atinge quatro a cada cem mil brasileiros, o que representa, aproximadamente, 8 mil novos casos por ano.

A doença é caracterizada por uma alteração nas células do sistema imune e sua causa ainda é desconhecida. Os sintomas são similares aos das doenças crônicas, mas eles dificilmente se manifestam na fase inicial da doença. O diagnóstico pode ser realizado por meio de testes clínicos, sanguíneos, de biópsia de medula e de urina. 

Por isso, destaca-se a importância de realizar exames ao identificar sintomas como marcas roxas na pele, confusão, sensibilidade nos dedos, dor nos ossos e fraturas frequentes.

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Como funciona a técnica?

As células são colhidas do sistema imunológico do paciente, por meio de um processo de centrifugação no sangue – o leucaférese. Em seguida, o material é enviado para um laboratório, onde especialistas isolam o linfócito T, a célula de defesa do sistema imunológico responsável por reconhecer substâncias estranhas no organismo. 

Após o procedimento, o material é enviado para um laboratório que deverá fazer a modificação genética das células e programá-las para destruir o tumor. 

A expectativa é que essa nova terapia seja disponibilizada comercialmente seja destinada para pacientes que sofrem com mieloma múltiplo que já passaram por um tratamento de quimioterapia ou transplante de medula óssea, mas ainda assim, seguem com a progressão da doença.

Preparação e adequação da infraestrutura

Para ser habilitado para administrar a terapia no Brasil, o A.C. Camargo Cancer Center precisou passar por preparações e adequações de infraestrutura. O trabalho começou em 2019 e as principais modificações foram relacionadas aos espaços de hemoterapia e armazenamento das células.

“O principal investimento foi realizar o treinamento da equipe multiprofissional. Isto é, de todos aqueles profissionais envolvidos no cuidado do paciente”, ressaltou o Dr. Jayr Schmidt Filho.